Looper continua a ser um dos exemplos mais inteligentes da ficção científica moderna
As viagens no tempo são uma das ideias mais fascinantes da ficção científica — e também uma das mais traiçoeiras. Basta um detalhe mal explicado para tudo desmoronar: paradoxos insolúveis, regras que mudam a meio do filme ou finais que anulam o que veio antes. O cinema está cheio desses exemplos. Terminator torna-se cada vez mais confuso a cada sequel, Back to the Future é um clássico cheio de buracos lógicos e até Avengers: Endgame acaba por quebrar as próprias regras quando convém à emoção.
É por isso que Looper, realizado por Rian Johnson em 2012, continua a destacar-se. Não por ser perfeito — não é — mas por conseguir algo raro: criar um sistema de viagens no tempo compreensível, coerente e integrado na própria narrativa, sem tratar o espectador como distraído nem o afogar em explicações pseudo-científicas.
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A história passa-se em 2044, num mundo onde as viagens no tempo existem, mas são ilegais. Para contornar a lei, organizações criminosas enviam vítimas do futuro para o passado, onde são executadas por assassinos conhecidos como “loopers”. O detalhe mais cruel do sistema é também o mais engenhoso: quando um looper envelhece e deixa de ser útil, é enviado de volta no tempo para ser morto pela sua versão mais jovem, fechando assim o ciclo — o “loop”.

Esta ideia simples resolve, de uma só vez, grande parte dos problemas clássicos do género. As vítimas não vivem tempo suficiente para alterar o passado, não há linhas temporais paralelas confusas e cada personagem segue uma trajectória essencialmente linear. O conceito não é apenas eficaz dentro da história; é uma solução narrativa elegante.
Tudo se complica quando o Joe mais velho, interpretado por Bruce Willis, foge ao seu destino. A partir daí, Looperassume claramente um modelo de linha temporal única, onde alterar o passado muda o futuro. Rian Johnson tem o cuidado de tornar esse mecanismo visível ao espectador: sempre que o Joe jovem, vivido por Joseph Gordon-Levitt, descobre algo novo, essa informação passa automaticamente para a versão mais velha. O filme transforma a causalidade temporal em drama, não em exposição teórica.
O desfecho leva esta lógica ao limite, obrigando a personagem a tomar uma decisão extrema para quebrar um ciclo de violência que ameaça repetir-se indefinidamente. É um final duro, moralmente incómodo e emocionalmente coerente com tudo o que veio antes — algo que falta a muitos filmes do género.
Claro que Looper não escapa totalmente às armadilhas do tempo. O próprio final levanta um paradoxo inevitável: se o Joe mais velho deixa de existir, como é que alguma vez regressou ao passado para provocar os acontecimentos que levam à decisão final? O filme também sugere, de forma subtil, que certas acções do futuro podem ser precisamente aquilo que cria o vilão que se tenta evitar, aproximando-se perigosamente de uma lógica circular.
Mas aqui está a diferença: Looper não se desfaz por causa disso. Porque o filme nunca promete uma explicação científica absoluta. Promete apenas respeitar as suas próprias regras — e fá-lo durante a maior parte do tempo.
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Mais de uma década depois, Looper continua a ser um dos exemplos mais sólidos de ficção científica do século XXI. Um filme que percebe que viagens no tempo não são sobre diagramas ou linhas num quadro, mas sobre escolhas, consequências e personagens presas a sistemas que tentam desesperadamente quebrar.
Num género onde a maioria tropeça, isso já é uma vitória considerável.
