Remake Feminista de “Emmanuelle” Inaugura Festival de Cinema de San Sebastián

O Festival de Cinema de San Sebastián arrancou em grande estilo com a estreia mundial do remake feminista do clássico erótico francês Emmanuelle, realizado por Audrey Diwan. Conhecida pelo seu trabalho aclamado em L’Événement(2021), vencedor do Leão de Ouro em Veneza, Diwan oferece uma nova perspetiva sobre o famoso romance erótico da franco-tailandesa Emmanuelle Arsan, adaptando-o para o mundo moderno, numa era marcada pelo movimento #MeToo.

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A estreia, que teve lugar na cerimónia de abertura do festival, gerou enorme expectativa, atraindo uma audiência numerosa na primeira sessão do dia. O filme, protagonizado pela atriz francesa Noémie Merlant, traz uma abordagem renovada ao universo de Emmanuelle, explorando o prazer feminino através de uma ótica contemporânea.

Um Novo Olhar sobre o Prazer Feminino

Audrey Diwan explicou que, embora tenha lido o romance original, optou por não ver o clássico cinematográfico de Just Jaeckin de 1974, protagonizado por Sylvia Kristel, para criar uma obra que fosse autêntica à sua própria visão. “Eu vi apenas cerca de 20 minutos do filme original, mas quis manter-me fiel ao meu próprio olhar sobre o tema”, explicou a cineasta numa conferência de imprensa em San Sebastián. Para Diwan, a nova Emmanuelle é uma exploração do prazer e da libertação numa era pós-#MeToo, onde as mulheres estão a redefinir as suas próprias narrativas de sexualidade e poder.

No filme, Noémie Merlant interpreta a protagonista, uma mulher que inicialmente está desconectada do seu próprio corpo e do seu prazer, cumprindo as expectativas da sociedade como uma “máquina” sem sentimentos. Ao longo da narrativa, a personagem inicia uma jornada de autodescoberta, onde procura libertar-se dessas amarras e experimentar uma nova forma de estar em contacto com o seu corpo e com o prazer. “Identifico-me com Emmanuelle”, confessou Merlant, explicando que a personagem reflete muitas das lutas internas que as mulheres enfrentam na tentativa de se libertarem de normas sociais opressivas.

De Banguecoque a Hong Kong: Uma Mudança de Cenário

Enquanto o filme original de 1974 apresentava as aventuras sexuais de Emmanuelle em Banguecoque, o remake de Diwan transporta a protagonista para um cenário diferente: um luxuoso hotel de cinco estrelas em Hong Kong. A cineasta optou por fazer esta mudança de localização para dar um toque mais cosmopolita e contemporâneo à história, destacando também as dinâmicas de poder e o ambiente urbano das grandes metrópoles modernas.

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O filme contém algumas cenas picantes, como na versão original, incluindo uma cena de sexo numa casa de banho de avião, mas Diwan sublinha que o seu foco é menos no choque erótico e mais na transformação interior da personagem. A narrativa do filme concentra-se na emancipação de Emmanuelle e na sua busca por uma identidade sexual que seja verdadeiramente sua, num processo que reflete os tempos atuais de mudança e autodescoberta feminista.

Um Remake Que Divide Opiniões

Tal como a versão original de Emmanuelle, este remake já está a gerar debates e controvérsias. Alguns críticos veem o filme como uma abordagem inovadora ao clássico erótico, que desafia as normas tradicionais do género, enquanto outros argumentam que ainda perpetua certos estereótipos sobre a sexualidade feminina. Contudo, é inegável que a versão de Diwan trouxe Emmanuelle de volta ao centro das discussões culturais, oferecendo uma leitura atualizada sobre a liberdade sexual num mundo pós-#MeToo.

O festival de San Sebastián, que decorre até ao dia 28 de setembro, continua a atrair grandes estrelas e filmes de prestígio. Na noite de estreia, o ator Javier Bardem foi homenageado com o prémio Donostia, uma distinção que celebra a sua longa carreira e contribuições para o cinema. O festival também contará com a presença de figuras como Pamela AndersonLupita Nyong’oMonica BellucciTilda Swinton e Johnny Depp, cujo mais recente filme, Modi, será exibido na secção oficial fora da competição.

Pedro Almodóvar Recebe Prémio Donostia no Festival de San Sebastián

O reconhecido realizador espanhol Pedro Almodóvar será homenageado no Festival de Cinema de San Sebastián com o prestigiado Prémio Donostia. Esta distinção, que celebra a carreira notável de Almodóvar, será entregue pela aclamada atriz britânica Tilda Swinton, numa cerimónia que antecede a exibição do seu mais recente filme, “La Habitación de al Lado” (“O Quarto ao Lado”), que estará em competição no festival basco.

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O Prémio Donostia é uma das maiores honras concedidas pelo Festival de San Sebastián, que ao longo dos anos tem celebrado as carreiras de diversas personalidades de destaque no mundo do cinema. A organização do festival destacou a carreira prolífica de Almodóvar, que ao longo dos anos arrecadou mais de 170 prémios e 200 nomeações, incluindo Óscares, Césares, e reconhecimento nos principais festivais de cinema europeus. Além disso, o realizador foi agraciado com doutoramentos ‘honoris causa’ por instituições prestigiadas como as universidades de Oxford e Harvard.

Pedro Almodóvar é conhecido não apenas pelo seu talento artístico e estilo visual distinto, mas também pela forma como aborda temáticas complexas e contemporâneas. O seu cinema é marcado por uma escrita robusta de personagens femininas, uma direção de atores exímia e uma audácia em explorar temas como o universo LGBTIQ+, a religião, o sexo, os vícios e a memória histórica. Além disso, Almodóvar é reconhecido pelo seu compromisso político, manifestando-se publicamente contra conflitos bélicos e os discursos de extrema-direita.

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A homenagem a Almodóvar no Festival de San Sebastián reforça a sua posição como um dos cineastas mais influentes e inovadores do cinema contemporâneo, cuja obra continua a desafiar e a encantar audiências em todo o mundo.

Cinema Português em Destaque no Festival de San Sebastián

O Festival de Cinema de San Sebastián, que decorre entre 20 e 28 de setembro, será palco de uma presença significativa do cinema português, com duas coproduções a serem apresentadas no prestigiado Fórum de Coprodução Europa-América Latina. Estes projetos, dirigidos por cineastas brasileiros e argentinos, destacam-se pela colaboração entre múltiplos países, incluindo Portugal.

Entre os selecionados para o fórum está o projeto “Crocodila”, da realizadora brasileira Gabriela Amaral Almeida, uma coprodução entre Brasil e Portugal. O filme, previsto para estrear em 2026, promete ser uma obra singular, centrando-se na história de uma jovem herdeira de uma corretora de imóveis de luxo no Rio de Janeiro, que gradualmente se transforma num crocodilo assassino com sede de carne humana.

Outro projeto a ser apresentado é “La Escuela Pesada” do realizador argentino Hernán Rosselli, uma coprodução que envolve Portugal e outros sete países. Este filme, que será filmado em 2025, já ganhou atenção ao participar na oficina de coprodução do Festival de Cannes deste ano, aumentando as expectativas em torno do seu desenvolvimento.

Além destes projetos, o filme “On Falling”, da cineasta portuguesa Laura Carreira, integrará a competição oficial do festival, competindo pela Concha de Ouro. Este será um momento de grande relevância para o cinema português, que continua a afirmar-se no panorama internacional através de coproduções e colaborações com realizadores de diversos países.