O mestre do terror japonês promete uma incursão arrepiante ao género jidaigeki… passada inteiramente dentro de um castelo
O nome Kurosawa é sagrado no cinema japonês — mas neste caso não estamos a falar de Akira, o realizador de Os Sete Samurais. Estamos a falar de Kiyoshi Kurosawa, mestre do terror psicológico moderno, responsável por obras tão inquietantes como Cure (1997) ou Pulse (2001). E agora, após 40 anos de carreira, o realizador prepara-se para entrar num território novo: o cinema de samurais. Mas, como seria de esperar, à sua maneira.
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“Quero mesmo fazê-lo uma vez na vida”, confessou à Associated Press. “E parece que está mesmo a acontecer — embora ainda haja muitas incertezas.”
Samurais sim, chanbara não
Não esperem duelos épicos ao pôr-do-sol, nem heróis a brandir katanas ao som de tambores. O filme de Kurosawa será passado quase inteiramente dentro de um castelo, num ambiente claustrofóbico e silencioso, típico da sua abordagem ao horror — onde o que não se vê é tão ou mais perturbador do que o que está em frente à câmara.
“Será uma narrativa inquietante, como nas minhas outras obras, só que no período samurai,” explicou.
É o tipo de conceito que faz os cinéfilos salivar: um jidaigeki minimalista, soturno, e emocionalmente opressivo. Um filme de época sem floreados — mas cheio de tensão.
O realismo como mentira cinematográfica
Apesar da sua fama como realizador de terror, Kurosawa insiste na importância do realismo como base.
“Talvez seja uma fraqueza minha,” diz. “Mas preciso de contar histórias num cenário que pareça real. E depois… invento uma mentira por cima disso.”
Mesmo os seus elementos mais grotescos são sempre enquadrados com verosimilhança — um truque herdado do seu ídolo, Alfred Hitchcock.
Em filmes como Cure, sobre um detective que investiga uma série de homicídios inexplicáveis, Kurosawa utiliza planos longos e estáticos para acentuar o desconforto e a frieza emocional. Em Cloud, o seu thriller mais recente, um jovem tenta lucrar com esquemas de revenda online — até que as suas vítimas regressam para o confrontar. Simples, mas perturbador. Como sempre.
“Não acredito que tudo possa ser feliz num Japão realista,” afirma. “Há sempre tensão. Sempre algo inquietante.”
Uma estreia aguardada… mas sem pressa
A nova incursão no cinema de época ainda está envolta em mistério — o realizador prefere não revelar datas, nomes ou pormenores. Mas sabe-se que não terá grandes batalhas, nem multidões. Terá, em vez disso, a habitual atmosfera carregada, personagens assombradas, e uma arquitectura emocional que Kurosawa domina como poucos.
O realizador foi recentemente homenageado no festival Japan Cuts, em Nova Iorque, onde recebeu o prémio Cut Above, distinguindo uma carreira marcada pela consistência, ousadia e mestria técnica. Recorde-se também que em 2020 venceu o Leão de Prata no Festival de Veneza com Wife of a Spy, um drama conjugal com espionagem à mistura, passado durante a Segunda Guerra Mundial.
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Kiyoshi Kurosawa não quer fazer ficção científica, nem filmes de acção. Quer apenas continuar a mentir — de forma meticulosa, elegante e assustadoramente realista. E se isso envolver samurais fechados num castelo, tanto melhor.
