“The Sting”: O Golpe Perfeito que Quase Ficava na Gaveta

🎩💼 Em 1973, estreava nos cinemas The Sting (A Golpada), uma das obras-primas do cinema americano. Passados mais de 50 anos, o filme continua a ser uma referência no género de comédia policial, um exemplo de argumento engenhoso e de realização precisa — e tudo isso por muito pouco não ficou enterrado no fundo de uma pilha de guiões rejeitados.

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A história do sucesso de The Sting começa antes das câmaras começarem a rodar. O argumento original de David S. Ward, inspirado pelas suas pesquisas sobre carteiristas e burlões, foi um verdadeiro golpe de mestre. O guionista explicou que nunca tinha visto um filme sobre vigaristas que operassem com esquemas tão elaborados e que decidiu preencher essa lacuna.


A Arte da Burla (e do Argumento)

O desafio de Ward foi encontrar o equilíbrio perfeito entre o que o público deveria saber e o que devia ser ocultado. Como ele próprio disse, “os espectadores não precisam de saber todos os pormenores do esquema, mas têm de sentir que estão dentro do jogo”. A chave seria criar vilões bem definidos, heróis com carisma e uma teia de enganos complexa, mas compreensível.

Foram precisos mais de doze meses a reescrever e ajustar o argumento. Ward queria que o espectador se sentisse cúmplice da vigarice, e não apenas um observador passivo. A ideia de uma espécie de “irmandade subterrânea de burlões” que se juntam para um grande golpe e depois desaparecem como sombras foi uma das grandes inovações da narrativa.


O Guião Perdido que Valia Ouro

E se o argumento é hoje considerado uma obra-prima, isso deve-se em parte a um golpe de sorte (ou de visão): Rob Cohen, futuro realizador de Fast & Furious, encontrou o guião no chamado slush pile — a pilha de textos não solicitados que, na maioria das vezes, nunca são lidos.

Na altura, Cohen era apenas um leitor de guiões para o agente Mike Medavoy. Quando leu The Sting, ficou extasiado e escreveu na sua análise: “É o grande guião americano… será um filme vencedor de prémios, com um grande elenco e um grande realizador.” Medavoy desafiou Cohen: “Se não o venderes, estás despedido.” No mesmo dia, a Universal comprou o guião. Cohen ainda hoje tem a sua análise original emoldurada no escritório.


Paul Newman, Redford e a Magia do Duplo Golpe

O guião original tinha a personagem Henry Gondorff como um burlão envelhecido, decadente e alcoólico. Mas quando Paul Newman entrou no projeto, Ward foi rápido a adaptar a personagem para lhe dar o brilho e o protagonismo que merecia. Afinal, esta era a segunda colaboração de Newman com Robert Redford, depois do sucesso de Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), e Hollywood sabia que esta dupla tinha ouro nas mãos.

Newman, que sempre fora aconselhado a evitar comédias por não ter o “toque leve”, agarrou a oportunidade com unhas e dentes. Queria provar que era tão bom a fazer rir como a emocionar. O resultado? Um desempenho carismático, elegante e absolutamente cativante.


Um Vilão com Dor Real e Óscar Negado

Outro ponto alto do filme é o vilão Doyle Lonnegan, interpretado pelo magnético Robert Shaw. Curiosamente, o realizador George Roy Hill queria inicialmente Richard Boone para o papel, mas foi Newman quem insistiu em enviar o guião a Shaw, que estava a filmar na Irlanda. Shaw aceitou o papel… e trouxe consigo um detalhe que viria a marcar a personagem: uma mancada genuína.

Pouco antes do início das filmagens, Shaw escorregou num campo de handebol e lesionou os ligamentos de um joelho. Em vez de atrasar a produção, decidiu incorporar o andar manco na personagem — uma nuance que só tornou Lonnegan ainda mais imponente.

Infelizmente, Shaw não foi nomeado para o Óscar de Melhor Ator Secundário, segundo consta por ter exigido que o seu nome aparecesse nos créditos logo a seguir aos de Newman e Redford, antes do título do filme. Uma exigência ousada… e penalizadora.


Um Golpe Clássico

The Sting ganhou sete Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Argumento Original. É uma obra de precisão narrativa e charme irresistível, com uma banda sonora inesquecível que ressuscitou o ragtime de Scott Joplin para uma nova geração.

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É também um exemplo raro de como talento, sorte e alguma teimosia podem transformar uma ideia aparentemente esquecida numa das maiores joias do cinema clássico.


🎬 Se ainda não viste The Sting, faz parte da tua formação cinéfila obrigatória. E se já viste… volta a ver. Afinal, a arte da burla nunca sai de moda — sobretudo quando é feita com este nível de mestria.

O Filme Clássico dos Anos 80 que Jack Nicholson Desprezou

Jack Nicholson teve uma carreira cinematográfica verdadeiramente impressionante. Desde o seu papel de destaque em Easy Rider (1969) até The Bucket List (2007), parecia estar sempre no auge. No entanto, apesar de ter continuado a conseguir grandes papéis até aos anos 2000, já em 1986 começava a sentir-se deslocado na indústria de Hollywood.

Numa entrevista ao New York Times nesse mesmo ano, Nicholson revelou que viu O Rei dos Gazeteiros (Ferris Bueller’s Day Off) e odiou cada momento do filme. Embora seja considerado por muitos como a melhor obra de John Hughes, o lendário ator detestou a experiência.

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“Esse filme fez-me sentir completamente irrelevante para tudo o que qualquer audiência poderia querer, e com 119 anos de idade”, confessou Nicholson. “Acreditem, toda a gente que estava a ver gostou. Mas eu saí da sala a pensar que os meus dias estavam contados. Estas pessoas estão a tentar matar-me.”

À primeira vista, pode parecer que Nicholson se referia à glorificação da juventude no filme. Afinal, O Rei dos Gazeteirosé uma ode à rebeldia adolescente, onde Ferris e os seus amigos se divertem por Chicago enquanto os adultos chatos tentam pôr-lhes travão. Para um espectador de meia-idade, o filme pode parecer uma provocação de 103 minutos. No entanto, a antipatia de Nicholson por este clássico dos anos 80 estava ligada a algo mais profundo: uma mudança preocupante que ele via em Hollywood.

Nicholson temia que Hollywood estivesse a perder criatividade

Durante a entrevista, Nicholson criticou a crescente “conglomeração” da indústria cinematográfica, referindo-se à forma como os grandes estúdios estavam a controlar cada vez mais a criatividade dos realizadores e argumentistas. Quando mencionou O Rei dos Gazeteiros, foi em resposta à pergunta: “Sente-se uma pessoa criativa presa numa era pouco criativa da indústria?”

Olhando para trás, pode parecer difícil simpatizar com a crítica de Nicholson, especialmente porque, atualmente, a falta de criatividade em Hollywood é mais evidente do que nunca. Com a proliferação de sequelas, remakes, reboots e filmes baseados em brinquedos, há quem deseje que regressasse a era em que O Rei dos Gazeteiros fosse visto como um sinal da falta de originalidade. Afinal, o filme foi uma história completamente nova e conseguiu 14 vezes o seu orçamento nas bilheteiras – algo que, do ponto de vista de 2024, parece quase um milagre.

No entanto, Nicholson era um ator cuja carreira atingiu o auge nos anos 70, uma década muitas vezes considerada a melhor de sempre em termos de criatividade cinematográfica. Enquanto os anos 70 eram marcados por dramas introspectivos que desafiavam os limites do cinema e do público, os anos 80 assistiram à ascensão dos blockbusters de grande público. Filmes seguros, de apelo universal, começaram a dominar a indústria.

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O Rei dos Gazeteiros não era um blockbuster no sentido tradicional, mas era uma comédia juvenil leve e divertida, cujo principal objetivo não era desafiar convenções, mas sim promover a ideia de que fazer o que quiseres, sem consequências, é sempre a melhor opção. Embora o arco narrativo de Cameron – o verdadeiro protagonista do filme – seja bem desenvolvido, a maior parte dos espetadores sempre viu O Rei dos Gazeteiros como uma fantasia de escapismo e desejo. Para um ator como Jack Nicholson, que brilhou em filmes densos e perturbadores como O Iluminado (The Shining) e Chinatown, não é difícil perceber porque não gostou da experiência… mas gostos não se discutem, pois não?