Morreu Jean-François Davy, o Realizador Irreverente que Levou o Erotismo à Croisette 🎬🍌

Cineasta maldito? Provocador? Visionário do X com alma de documentarista? Jean-François Davy morreu aos 79 anos, deixando uma filmografia única que oscilava entre o escândalo e a comédia popular

O cinema francês despede-se de uma figura tão marginal quanto inesquecível: Jean-François Davy, realizador e produtor de espírito livre e obra provocadora, morreu a 2 de maio de 2025 vítima de ataque cardíaco, aos 79 anos. O seu nome pode não ser tão conhecido fora do circuito cinéfilo francês, mas Davy assinou alguns dos filmes mais ousados e controversos da década de 70 — com um lugar garantido na história do cinema erótico e independente europeu.

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Um percurso à margem da indústria… desde o primeiro dia

Jean-François Davy começou no cinema de forma clássica: com curtas-metragens e como assistente de realização de Luc Moullet, em Brigitte et Brigitte (1966). Mas rapidamente percebeu que a sua voz era demasiado irreverente para os circuitos tradicionais. O seu primeiro longa, L’Attentat, nunca chegou sequer a ser distribuído. Seguiu-se Traquenards(1969), um polar sombrio que também não causou ondas — pelo menos não as que Davy esperava.

Mas seria na viragem dos anos 70 que encontraria o seu terreno natural: a comédia paillarde, um subgénero francês carregado de trocadilhos sexuais, erotismo desinibido e um certo espírito anárquico. Títulos como Bananes mécaniques(1973), Prenez la queue comme tout le monde e Q marcaram o tom.


Exhibition: quando o porno se fez arte em Cannes

O momento-chave da sua carreira viria em 1975 com Exhibitionum documentário sobre os bastidores do cinema pornográfico, com especial foco na actriz Claudine Beccarie — uma das primeiras estrelas X em França. O filme, ousado e revelador, foi apresentado em Cannes, o que causou escândalo e fascínio em doses iguais. Um feito notável, numa altura em que o erotismo ainda era tratado como um tabu cinematográfico.

Davy não parou por aí. Em 1978, lançou Exhibition 2, centrado em Sylvia Bourdon, e completou a trilogia de retratos com Les Pornocrates (1976) e Prostitution (1975), onde investigava os meandros da prostituição em França. O cinema de Davy não era pornografia gratuita — era uma exploração frontal e humanizada de corpos, desejos e margens sociais.


Entre o riso e o choque: da pornografia à comédia popular

Apesar da associação ao universo X, Davy nunca se confinou a um único estilo. Produziu comédias mais acessíveis, como Chaussette surprise (1978), com Bernadette Lafont, Michel Galabru e Bernard Le Coq, ou Ça va faire mal ! (1982), protagonizado por Bernard Ménez e Henri Guybet.

Nos anos 80, afastou-se progressivamente da realização e apostou no mercado de vídeo doméstico, fundando empresas como a Fil à Film e a Opening, e o laboratório de duplicação Vidéo Pouce. Um verdadeiro empresário do audiovisual, sempre ligado ao mundo das imagens.


Um regresso tardio e inesperado

Depois de mais de duas décadas de ausência atrás das câmaras, Jean-François Davy voltou em 2006 com Les Aiguilles rouges, um drama de sobrevivência inspirado em experiências pessoais de juventude. Seguiu-se a comédia Tricheuse(2008), com Hélène de Fougerolles, e, em 2016, a sua última longa-metragem: Vive la crise !, uma comédia política com Jean-Marie Bigard e Jean-Claude Dreyfus.

Fiel a si mesmo até ao fim, Davy manteve o seu gosto por provocar, divertir e incomodar, cruzando géneros como quem atravessa ruas: sem pedir licença.


Um realizador que nunca pediu desculpa por ser diferente

Jean-François Davy deixa uma obra difícil de classificar. Parte do público vê-o como um cronista libertário de uma época de revolução sexual; outros como um provocador que nunca quis agradar. Talvez tenha sido tudo isso — e ainda mais. O que é certo é que teve coragem para filmar o que poucos ousavam e abrir caminhos entre o erotismo, a sátira e o documentário social.

E por muito que alguns filmes seus sejam hoje vistos como relíquias de uma época passada, a sua abordagem sem filtros continua a inspirar cineastas que procuram explorar zonas cinzentas da condição humana. O cinema precisa de gente assim.

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Morreu Yves Boisset: o Realizador Francês que Fez do Cinema uma Arma Política

🎬 Yves Boisset, um dos mais combativos e politicamente comprometidos realizadores do cinema francês do século XX, morreu aos 86 anos, deixando para trás uma carreira que misturou cinema de género com denúncia social de forma destemida e nada convencional.

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O cineasta faleceu esta segunda-feira, após vários dias internado no hospital franco-britânico de Levallois-Perret. Foi a própria família que anunciou a sua morte, encerrando assim um capítulo importante da história do cinema europeu — daqueles que nunca teve medo de incomodar os poderosos.


🧨 Cinema a estourar com política

Se o cinema fosse um ringue de boxe ideológico, Yves Boisset teria saído de lá sempre com sangue no nariz… mas sem nunca abandonar a luta. Ficou especialmente conhecido nos anos 70, década onde assinou algumas das suas obras mais marcantes, sempre com uma lupa apontada para os podres da sociedade.

Um dos seus filmes mais emblemáticos é Dupont Lajoie (1975), que por cá chegou com o sugestivo título Férias Violentas. Baseado em crimes reais com motivações racistas, o filme chocou, dividiu opiniões e até provocou ameaças durante as filmagens. Mas ganhou o Prémio Especial do Júri no Festival de Berlim e entrou directamente para a história do cinema político europeu.


🕵️‍♂️ Terrorismo, colonialismo e… Schwarzenegger?

Outro murro no estômago foi L’Attentat (O Atentado, 1972), sobre o assassínio do opositor marroquino Mehdi Ben Barka, com Jean-Louis Trintignant. E em R.A.S. (1973), Boisset foi um dos primeiros a tocar no tema ainda sensível da Guerra da Argélia. A extrema-direita não perdoou e as autoridades censuraram várias cenas. Nada mal para um cinema que “não tem nada a relatar” (como ironizava o título original).

Mas nem tudo foi polémica política. Boisset também venceu… Hollywood! Em 1983, lançou Le prix du danger (O Preço do Escândalo), um thriller distópico sobre um jogo televisivo onde pessoas comuns lutam até à morte. Soa familiar? Pois, o senhor Arnold Schwarzenegger e a 20th Century Fox acharam que era uma boa ideia fazer The Running Man (O Gladiador, 1987) — e Boisset ganhou um processo por plágio. Touché.


🎥 Entre espiões, guerra e televisão

Boisset não parou nos anos 80, onde dirigiu nomes como Lino Ventura (O Regresso do Espião), Lee Marvin (Ventos de Violência) e Lambert Wilson (Bleu comme l’enfer). E ainda encontrou tempo para um raro momento de delicadeza com Um Táxi Cor de Malva (1977), com Philippe Noiret e Charlotte Rampling.

Cansado dos constantes entraves no cinema, virou-se para a televisão nos anos 90, mas sem abdicar do olhar crítico. Destaque para L’Affaire SeznecL’Affaire Dreyfus e Le Pantalon, que mostravam o mesmo compromisso social com outros meios.


📚 “A vida é uma escolha”

Assim se chamava a autobiografia que lançou em 2011 — La vie est un choix. Um título que diz tudo sobre quem foi Yves Boisset: um homem que escolheu o cinema como campo de batalha, mas também como espelho desconfortável da sociedade.

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Nunca foi o favorito da crítica mais conservadora, nunca foi simpático para os poderes instituídos, e provavelmente é por isso que hoje vale a pena lembrar o seu nome. Yves Boisset não fazia filmes para nos adormecer — fazia filmes para nos acordar.