“Corações Partidos”: O Filme Que Conquistou França Chega Finalmente aos Cinemas Portugueses

Romance, crime e redenção cruzam-se num dos grandes fenómenos do cinema francês de 2024. Estreia a 17 de julho.

ver também: Portugal em Destaque no Festival Ibérico de Cinema de Badajoz com “Revolução (sem) Sangue” e Sete Curtas em Competição

E se o amor fosse mais forte do que a vingança?

É com esta pergunta que se apresenta Corações Partidos, o novo filme de Gilles Lellouche (Le Grand Bain), que se tornou um verdadeiro fenómeno de bilheteira em França e chega agora às salas portuguesas no dia 17 de julho, com distribuição da NOS Audiovisuais. Aclamado como “o filme de uma geração”, a obra foi apresentada no ano passado na Festa do Cinema Francês, esgotando uma sessão no Cinema São Jorge — um prenúncio do impacto que agora promete repetir em solo nacional.

Um Amor Perdido (e Talvez Encontrado)

A história segue Clotaire e Jackie, dois jovens unidos por um primeiro amor intenso, mas abruptamente separados por um crime que ele não cometeu. Criados num bairro periférico de Paris, crescem marcados por contextos difíceis, e reencontram-se anos depois, com feridas por sarar e vidas irreversivelmente alteradas. Ele, ex-recluso, com uma sede de justiça e mágoa mal digerida. Ela, mulher feita, com um percurso muito diferente — mas ainda com o passado bem vivo.

Será o reencontro uma segunda oportunidade ou uma reabertura de tudo o que ficou por resolver?

Drama, Romance e Realismo Social

Filmado nos arredores de Paris, Corações Partidos mergulha no quotidiano de uma juventude à margem, cruzando violência urbana, dilemas morais e pulsões emocionais num registo cru, mas profundamente sensível. A banda sonora mistura hip hop e pop francês clássicos, criando uma atmosfera que é tanto nostálgica quanto moderna.

A realização de Gilles Lellouche é segura, íntima e sem filtros — e a seleção do filme para a competição oficial do Festival de Cannes 2024 comprova a sua relevância artística e social. Há ecos de La Haine e de Romeu e Julieta, mas com um pé assente na atualidade.

“Corações Partidos” é para quem já amou e se perdeu. Ou se reencontrou.

Mais do que um simples drama romântico, o filme é um retrato de como o amor e o ressentimento podem coexistir — e de como o tempo pode curar, mas também alimentar as feridas. A linha entre o que fomos e o que nos tornámos é ténue, e Corações Partidos explora essa tensão com autenticidade, humanidade e uma dose certa de melancolia.

ver também : Paolo Sorrentino Regressa a Veneza com “La Grazia”, Filme de Abertura do Festival de 2025

Nos cinemas a 17 de julho.

Se gosta de cinema francês contemporâneo, de histórias de amor imperfeitas e de personagens que não se encaixam nos moldes fáceis, Corações Partidos é obrigatório. Leve lenços. E prepare-se para escolher um lado… ou ambos.

“A História de Souleymane”: Um Retrato Cru e Humano da Realidade Migrante em Paris

Vencedor em Cannes e premiado nos César, o novo filme de Boris Lojkine estreia a 6 de julho no TVCine Edition

ver também : “Corações Partidos”: O Filme Que Conquistou França Chega Finalmente aos Cinemas Portugueses

Quando o tempo corre contra ti, até a tua história se torna uma prova.

Souleymane não é herói de blockbuster. Não salva o mundo. Nem sequer sabe se vai poder ficar no país onde vive. É apenas um homem a pedalar pelas ruas de Paris, entregando refeições enquanto tenta manter-se invisível. Mas em A História de Souleymane, o novo e multipremiado filme de Boris Lojkine, a sua história torna-se o centro de uma narrativa poderosa, íntima e brutalmente honesta sobre o que é ser imigrante hoje.

A estreia está marcada para domingo, 6 de julho, às 22h, no TVCine Edition — e é uma daquelas sessões que vale a pena marcar no calendário.

Uma corrida contra o tempo… e contra o sistema

Souleymane (interpretado com intensidade por Abou Sangare, num papel de estreia absolutamente notável) é um jovem africano a viver em Paris sem documentos. Passa os dias como estafeta de comida, as noites em abrigos, e tem apenas dois dias até à entrevista que poderá decidir o seu futuro: o pedido de asilo.

Mas como se conta uma vida, um passado, uma identidade… em poucas palavras e sob pressão? É esta urgência — silenciosa, constante, cortante — que Boris Lojkine transforma em cinema de excelência.

Realismo cru, empatia total

O que distingue A História de Souleymane de tantas outras histórias sobre imigração é a sua abordagem humanista e hiper-realista. Lojkine filma a cidade não como postal turístico, mas como labirinto indiferente. E Abou Sangare, ator não-profissional, carrega cada plano com a exaustão e dignidade de quem vive entre margens.

Não há grandes discursos. Há o peso das pequenas coisas: o cansaço acumulado, o medo de não ser ouvido, a esperança que teima em não morrer. E há a tensão insuportável da entrevista iminente — uma espécie de tribunal da identidade onde qualquer hesitação pode significar a deportação.

Reconhecimento internacional

La Histoire de Souleymane foi duplamente premiado em Cannes na secção Un Certain Regard, onde venceu os prémios do Júri e de Melhor Ator. Conquistou ainda quatro Césars (o equivalente francês aos Óscares), entre oito nomeações — uma prova clara de que este é um dos filmes franceses mais relevantes do ano.

Boris Lojkine, já conhecido por obras como Hope e Camille, volta aqui a mergulhar no cinema social com uma linguagem que recusa o melodrama fácil e opta antes por um retrato empático, mas nunca condescendente, de uma realidade tão próxima quanto invisível.

A não perder

Se gosta de cinema com urgência social, com performances cruas e uma realização que observa sem julgar, A História de Souleymane é um filme obrigatório. Estreia este domingo, 6 de julho, às 22h, no TVCine Edition e no TVCine+.

ver também : Morreu Michael Madsen: A Alma Rebelde dos Filmes de Tarantino Tinha 67 Anos

E mesmo que não traga soluções, traz uma certeza: por trás de cada bicicleta a circular por uma app, há um nome, uma vida, uma história. E esta merece ser ouvida.

Cinemas Franceses em Destaque: Mais Espectadores e Apoio ao Cinema Nacional

Os cinemas franceses encerraram 2024 como uma verdadeira “exceção mundial”. Num cenário em que a indústria cinematográfica ainda luta para recuperar os níveis pré-pandemia, a França destacou-se com um aumento de frequentadores, registando mais de 181 milhões de bilhetes vendidos. Destes, quase metade correspondeu a produções nacionais, uma conquista rara no panorama global do cinema.

ver também : Os 10 Melhores Plot Twists do Cinema em 2024

O Sucesso do Cinema Francês

O relatório anual do Centro Nacional de Cinema (CNC) revelou que a quota de mercado dos filmes franceses atingiu 44,4% em 2024, o maior valor desde 2008. Três títulos lideraram este ressurgimento:

1. “Un p’tit truc en plus”, de Artus, conquistou 10,3 milhões de bilhetes, liderando as bilheteiras.

2. “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, vendeu 9,1 milhões de ingressos e também chegou às salas portuguesas.

3. “Corações Partidos”, de Gilles Lellouche, acumulou 4,7 milhões de bilhetes, com estreia em Portugal marcada para fevereiro de 2025.

Estes sucessos impulsionaram as bilheteiras francesas para um nível não visto desde 2011, quando filmes como Amigos Improváveis e Nada a Declarar marcaram a história do cinema local.

Uma “Dupla Exceção” Mundial

O presidente interino do CNC, Olivier Henrard, destacou a França como uma “dupla exceção” no panorama global. Em primeiro lugar, é o único país onde mais pessoas visitaram cinemas em 2024 do que no ano anterior, com um aumento de cerca de um milhão de espectadores. Em segundo lugar, este aumento foi fortemente impulsionado pelo cinema nacional, algo incomum fora dos Estados Unidos.

Para Henrard, o desempenho francês contrasta com os grandes mercados europeus, onde as quotas de cinema nacional variam entre 15% e 25%. Nos EUA, a quota do cinema nacional em 2024 foi de 37,6%, ficando abaixo do impressionante desempenho francês.

Os Sucessos Internacionais no Top 10

Apesar do protagonismo dos filmes franceses, as bilheteiras também foram dominadas por produções norte-americanas. O Top 10 francês incluiu vários êxitos internacionais, como:

Divertida-Mente 2 (8,3 milhões de bilhetes)

Vaiana 2 (6,4 milhões)

Gru – O Maldisposto 4 (4,3 milhões)

Dune: Parte Dois (4,1 milhões)

Deadpool & Wolverine (3,7 milhões)

Gladiador II (2,9 milhões)

O Reino do Planeta dos Macacos (2,5 milhões)

Estes números mostram a força contínua das animações e dos filmes de franquia em atrair audiências globais.

Recuperação Pós-Pandemia

Embora os números ainda estejam 12,8% abaixo da média pré-COVID-19, os últimos meses de 2024 mostraram uma recuperação quase total. Henrard destacou que o público francês está a regressar gradualmente aos cinemas, alimentando expectativas positivas para 2025.

O cenário em França destaca-se não apenas pelos números impressionantes, mas também pelo apoio contínuo ao cinema nacional, uma prova do compromisso do país em preservar e promover a sua rica tradição cinematográfica.

ver também : Os Filmes Mais Aguardados de 2025: Uma Nova Onda de Emoções e Nostalgia

“Emília Perez” Triunfa nos Prémios Europeus de Cinema: Uma Noite de Glória para Jacques Audiard

A 37ª edição dos Prémios Europeus de Cinema, realizada em Lucerna, Suíça, consagrou o filme “Emília Perez”, de Jacques Audiard, como o grande vencedor da noite. Com quatro troféus nas principais categorias – Melhor Filme Europeu, Realização, Argumento e Atriz – o musical de Audiard tornou-se um marco, sobretudo pela vitória histórica de Karla Sofía Gascón, a primeira atriz transgénero a conquistar o prémio de Melhor Atriz na história do evento.

ver também : Rumores de Casting para a Série de “Harry Potter” Causam Alvoroço entre os Fãs

Uma História de Transformação e Conquista

“Emília Perez” mergulha na narrativa de um traficante de drogas que, após mudar de sexo, decide reformular a sua vida e confrontar as injustiças do seu passado. Com uma abordagem ousada, que mistura drama, musical e crítica social, a obra conquistou o júri e o público, consolidando-se como uma das maiores produções cinematográficas de 2024.

No centro da trama está Zoe Saldaña, que interpreta a advogada de Emília, protagonizando momentos de grande impacto emocional, incluindo coreografias que desafiam as convenções tradicionais do género musical.

Após a sua estreia no Festival de Cannes, onde venceu dois prémios, o filme foi selecionado para representar a França no Óscar de Melhor Filme Internacional.

ver também : Paul Maslansky, Produtor de “Academia de Polícia”, Morre aos 91 Anos

Os Grandes Derrotados da Noite

Embora o sucesso de “Emília Perez” tenha sido incontestável, a cerimónia deixou outros favoritos de mãos vazias. A curta portuguesa “2720”, de Basil da Cunha, perdeu para a norueguesa “The Man Who Could Not Remain Silent”, e a coprodução luso-espanhola “Mataram o Pianista” foi superada pela animação “Flow – À Deriva”, que também recebeu o prémio de Melhor Filme Europeu.

Além disso, obras de realizadores consagrados, como Pedro Almodóvar com “O Quarto ao Lado” e Mohammad Rasoulof com “The Seed of the Sacred Fig”, ficaram fora do palmarés, surpreendendo muitos críticos presentes.

Outros Destaques e Histórias Inspiradoras

Entre os premiados, o estreante Abou Sangare destacou-se ao vencer Melhor Ator Europeu pelo filme “Souleymane’s Story”. A sua história de vida, desde a travessia do Mediterrâneo como requerente de asilo até ao estrelato, emocionou a plateia e reafirmou o poder transformador do cinema.

O prémio de Melhor Documentário Europeu foi para “No Other Land”, que aborda a destruição de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada, através de um olhar colaborativo entre ativistas palestinianos e israelitas.

Por fim, a noite celebrou também carreiras ilustres, atribuindo prémios honorários à atriz Isabella Rossellini, ao cineasta Wim Wenders e à produtora Labina Mitovska.