Morreu Graham Greene, o memorável Ave que Esperneia de Danças com Lobos

Um rosto que deu voz e dignidade aos povos indígenas no cinema

O cinema perdeu uma das suas figuras mais marcantes na representação de personagens indígenas: Graham Greene, ator canadiano nomeado para os Óscares por Danças com Lobos (1990), morreu esta segunda-feira em Toronto, vítima de doença prolongada. Tinha 73 anos.

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O impacto de Danças com Lobos

Greene ficará para sempre associado ao papel de Ave que Esperneia, o Sioux curioso e sábio que cria uma ligação profunda com o Tenente John Dunbar (Kevin Costner). A sua personagem, além de ser uma das mais memoráveis do épico vencedor de sete Óscares, tornou-se um símbolo de dignidade e representação autêntica dos povos indígenas no grande ecrã.

A nomeação ao Óscar de Melhor Ator Secundário foi um marco histórico. Greene perdeu para Joe Pesci em Tudo Bons Rapazes, mas o reconhecimento abriu portas para que outros atores ameríndios encontrassem espaço em Hollywood.

Um percurso de perseverança

Nascido a 22 de junho de 1952 em Ohsweken, na Reserva das Seis Nações, Ontário, Graham Greene teve vários empregos antes de se dedicar à representação. Começou no teatro nos anos 70 e estreou-se no ecrã em 1979, num episódio da série The Great Detective.

No cinema canadiano, destacou-se em Running Brave (1983), mas foi Danças com Lobos que o catapultou para o reconhecimento internacional. O sucesso, contudo, não o livrou de dificuldades pessoais: em 1997, lutou contra uma depressão que o levou a uma tentativa de suicídio, experiência que nunca escondeu e que lhe deu ainda mais profundidade como intérprete.

De Hollywood aos novos tempos

A sua carreira estendeu-se por décadas, quase sempre em personagens secundárias que transmitiam nobreza e respeito. No cinema, brilhou em Maverick (1994), Die Hard: A Vingança (1995), À Espera de Um Milagre (1999), Transamerica(2005), A Saga Twilight: Lua Nova (2009), Jogo da Alta-Roda (2017) e, com especial intensidade, em Coração de Trovão(1992) e Wind River (2017).

O seu talento também se fez sentir na televisão, com participações em séries de culto como Northern Exposure (No Fim do Mundo), Lonesome Dove: The SeriesLongmireGoliathAmerican Gods e, mais recentemente, Reservation Dogs e Echo.

A colaboração com Taylor Sheridan, em 1883 e Tulsa King, demonstrou como Greene continuava a ser uma presença requisitada e respeitada, mesmo nos últimos anos de vida.

Um legado para além da representação

Casado há 35 anos e pai de uma filha, Graham Greene deixa não apenas uma carreira notável, mas também um legado simbólico: o de ter levado a autenticidade e a humanidade dos povos indígenas para o grande público, sem clichés ou caricaturas.

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Com a sua partida, Hollywood perde um ator discreto mas fundamental, alguém que, com cada olhar e cada gesto, fazia justiça às histórias que contava.

“Red Rooms”: Obsessão, True Crime e a Dark Web no thriller que vai perturbar os nossos ecrãs

Estreia a 26 de Junho em Portugal o perturbador e fascinante filme de Pascal Plante, que já está a dar que falar entre os amantes de true crime e cinema psicológico.

🩸 Se alguma vez se perguntou até onde pode ir o fascínio pelo true crime, Red Rooms promete responder… da forma mais desconfortável possível. O novo filme do canadiano Pascal Plante, que estreia nas salas portuguesas a 26 de Junho, é um thriller psicológico afiado como uma lâmina, que desmonta — e questiona — a nossa obsessão moderna com os monstros da realidade.

O que se esconde por trás do fascínio pelo horror real?

Em Red Rooms, seguimos Kelly-Anne (brilhantemente interpretada por Juliette Gariépy), uma modelo de comportamentos metódicos e uma vida à superfície irrepreensível. Mas, nos bastidores da sua rotina glamorosa, esconde-se um interesse doentio: Kelly-Anne é absolutamente obcecada pelo julgamento de Ludovic Chevalier, um homem acusado de ser um dos assassinos em série mais sádicos da história recente do Canadá — o chamado Demónio de Rosemont — que gravou os assassinatos das suas vítimas e, alegadamente, os difundiu na dark web.

Kelly-Anne assiste religiosamente às sessões de julgamento, lado a lado com Clémentine (Laurie Babin), uma adolescente que partilha a mesma obsessão mórbida. Juntas, vão descer lentamente ao inferno de um voyeurismo digital sem limites, procurando a peça em falta: o vídeo desaparecido de um dos assassinatos, uma prova macabra que poderá condenar — ou redimir — Ludovic.

Um thriller elegante e gélido que deixa cicatrizes

Pascal Plante constrói o filme como uma cirúrgica reflexão sobre a sociedade contemporânea. Red Rooms não é só sobre serial killers — é sobre quem os venera, quem os mitifica e quem, por detrás de um ecrã ou de uma fachada socialmente aceitável, consome o horror como entretenimento. O filme dialoga com fenómenos como os documentários da Netflix, os podcasts de true crime e a estética dos fóruns mais obscuros da internet.

Mas, mais do que julgar, Red Rooms observa. Com uma realização minimalista, fria e precisa, Pascal Plante encena o desequilíbrio emocional de Kelly-Anne como um thriller de câmara lenta: inquietante, mas hipnotizante.

A dark web como espelho do nosso pior

Com referências assumidas a obras como The Poughkeepsie TapesZodiac ou mesmo NightcrawlerRed Rooms mergulha nas profundezas daquilo que a internet permite — e daquilo que cada um de nós é capaz de fazer quando o ecrã se fecha.

E se é verdade que “todos os assassinos em série têm os seus admiradores”, então este filme é o alerta vermelho que nos faz olhar ao espelho. Que voyeurismos cultivamos? Que verdades preferimos ignorar?

A resposta chega a 26 de Junho, e garantimos: vai dar que falar.


🎬 “Red Rooms”, de Pascal Plante

🗓️ A patir de 26 de Junho no Filmin

🎭 Com: Juliette Gariépy, Laurie Babin, Maxwell McCabe-Lokos