Plataforma de streaming e distribuidora independente é acusada de estar a lucrar com o “genocídio em Gaza” após aceitar investimento da Sequoia Capital
🎬 A MUBI, conhecida pela sua curadoria de cinema independente e por apoiar vozes autorais de todo o mundo, está no centro de uma polémica internacional. Mais de 30 cineastas, incluindo os portugueses Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, assinaram uma carta aberta onde criticam abertamente a empresa por ter aceite 100 milhões de dólares em financiamento da Sequoia Capital, uma firma norte-americana com ligações a interesses militares israelitas.
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“A decisão da MUBI de fazer parceria com a Sequoia Capital demonstra uma total falta de responsabilidade para com os artistas e comunidades que ajudaram a empresa a prosperar”, lê-se na carta publicada esta semana pela Variety.
Entre os signatários estão também nomes como Aki Kaurismäki, Radu Jude, Joshua Oppenheimer, Levan Akin, Jessica Beshir, Courtney Stephens, Camilo Restrepo e Neo Sora — vozes influentes no circuito do cinema autoral e de festivais.
Do prestígio à contestação
A MUBI tem construído uma reputação sólida como plataforma que valoriza o cinema ousado, alternativo e de autor. Ao longo dos anos, estabeleceu relações próximas com realizadores independentes e com um público exigente, tornando-se uma referência entre os cinéfilos.
Mas a revelação, em Maio, do financiamento da Sequoia Capital — uma empresa com ligações a tecnologias de vigilância e a fabricantes de ‘drones’ militares israelitas — veio abalar essa imagem.
Segundo a Variety, a Sequoia está envolvida com empresas como a start-up Kela, fundada por ex-membros de unidades de segurança israelitas, criada na sequência dos ataques do Hamas em Outubro de 2023.
“O crescimento financeiro da MUBI está agora explicitamente ligado ao genocídio em Gaza”, afirmam os realizadores. “E isso implica todos nós que trabalhamos com a MUBI.”
Os pedidos dos cineastas
Na carta aberta, os signatários exigem à MUBI três coisas concretas:
- Uma condenação pública da Sequoia Capital e dos seus lucros associados à guerra;
- A retirada da Sequoia dos cargos de direcção da MUBI;
- A adopção de uma política ética rigorosa para futuros investimentos.
A posição é clara: o financiamento pode comprometer a integridade de uma plataforma que se construiu com base na confiança de artistas que rejeitam a normalização da violência — especialmente quando ligada a conflitos armados e violações de direitos humanos.
A resposta da MUBI: insuficiente?
Em Junho, após os primeiros protestos, a MUBI respondeu dizendo que o investimento da Sequoia tinha como objectivo “acelerar a missão de fazer chegar filmes ousados e visionários a mais públicos”, e que “as crenças de cada investidor não reflectem as opiniões da MUBI”.
Para os signatários, essa justificação é insuficiente. E a questão torna-se ainda mais sensível num momento em que a ofensiva israelita em Gaza já provocou, segundo a ONU e várias ONG, mais de 59 mil mortos, a maioria civis, bem como fome extrema e colapso de infraestruturas básicas.
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Cinema e consciência
Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, dois nomes fundamentais do novo cinema português, juntam-se assim a uma crescente onda de contestação que exige mais responsabilidade ética das empresas culturais e mediáticas. Num mundo cada vez mais polarizado, onde os conflitos armados se cruzam com interesses financeiros e plataformas globais, os artistas recusam ser cúmplices silenciosos.
