Da glória ao embaraço: a Disney cancela discretamente a estreia europeia do seu maior flop de 2025

Ella McCay sai de cena depois de um desastre anunciado nas bilheteiras

Disney vive um daqueles contrastes difíceis de ignorar. Se, por um lado, celebra o enorme sucesso de Zootopia 2, actualmente o filme de Hollywood mais lucrativo do ano nos Estados Unidos, por outro tenta gerir — com o máximo de discrição possível — o maior fracasso comercial da sua história recente. Falamos de Ella McCay, cuja estreia francesa, prevista para 7 de Janeiro, foi entretanto cancelada sem grande alarido.

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A decisão foi avançada pelo site World of Reel, que não aponta uma razão oficial para a retirada do filme do calendário europeu. Ainda assim, o contexto dificilmente deixa margem para dúvidas. Ella McCay tornou-se rapidamente num verdadeiro pesadelo financeiro para a Disney.

Um arranque desastroso nos Estados Unidos

Estreado nos cinemas norte-americanos no passado fim-de-semana, o filme arrecadou cerca de 2,1 milhões de dólares em mais de 2500 salas — um número que o coloca entre as piores aberturas da Disney na última década. À data, a receita total ronda os 4 milhões de dólares, um valor irrisório face a um orçamento estimado em 35 milhões. Em comparação, até projectos ainda envoltos em incógnita, como Tron: Ares, parecem apostas seguras.

Este desempenho levou a Disney a cortar rapidamente perdas e a evitar prolongar o desgaste internacional de um título que nunca conseguiu gerar entusiasmo junto do público.

Um regresso pouco feliz de James L. Brooks

O mais surpreendente neste cenário é o nome por trás da câmara. Ella McCay marca o regresso à realização de James L. Brooks, quinze anos depois do seu último filme. Brooks é uma figura histórica da televisão e do cinema americano, ligado a clássicos como The Simpsons e As Good as It Gets.

O elenco também não parecia um problema. Emma Mackey e Jamie Lee Curtis lideram um grupo que inclui Rebecca Hall, Woody Harrelson, Ayo Edebiri, Albert Brooks, Kumail Nanjiani, Jack Lowden e Spike Fearn. Ainda assim, nada disso foi suficiente para salvar o projecto.

Crítica implacável e público dividido

Desde cedo, Ella McCay foi alvo de críticas duras. No Rotten Tomatoes, o filme apresenta um score de apenas 24%, com muitos críticos a questionarem se Brooks não teria ficado preso a uma sensibilidade de outra era. Jonathan Romney, do Financial Times, descreveu-o como “um fóssil confuso e auto-indulgente”, enquanto outros falaram de um filme incoerente e sem direcção clara.

O público mostrou-se menos uniforme nas reacções. Algumas vozes elogiaram o ritmo da narrativa, mas outras criticaram a personagem central interpretada por Mackey, considerada frágil e pouco convincente para a posição de poder que ocupa. O resultado é um Popcornmeter de 54%, insuficiente para contrariar a tendência negativa.

Um problema maior do que a crítica

Ao contrário de fenómenos como Five Nights at Freddy’s 2Ella McCay não beneficia de uma base de fãs pré-existente nem de um conceito que justifique a ida ao cinema como experiência “obrigatória”. Num mercado cada vez mais selectivo, a comédia política revelou-se um género difícil de vender em sala.

Tudo indica que o filme encontrará o seu público — se o encontrar — através do streaming, e mais cedo do que o inicialmente previsto. O cancelamento da estreia francesa parece ser apenas o primeiro passo nesse sentido.

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Para a Disney, Ella McCay ficará como um lembrete desconfortável: nem nomes consagrados nem elencos de luxo garantem relevância num panorama cinematográfico em rápida mutação 🎬