Líderes do Cinema Israelita Reagem a Boicote Internacional: “É Contraproducente”

Quase 4.000 artistas recusam colaboração com Israel

O boicote cultural contra instituições cinematográficas israelitas continua a ganhar força: já são quase 4.000 profissionais do cinema e televisão que assinaram um compromisso a recusar colaboração com entidades do país consideradas “implicadas em genocídio e apartheid contra o povo palestiniano”.

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A lista, que começou a circular a 8 de setembro, inclui nomes de peso como Joaquin Phoenix, Emma Stone, Mark Ruffalo, Lily Gladstone, Tilda Swinton, Ava DuVernay e Yorgos Lanthimos, entre outros vencedores de Óscares, Emmys e Palmas de Ouro.

Vozes críticas dentro de Israel

Líderes do setor audiovisual israelita consideram, no entanto, que o boicote é “mal orientado e autodestrutivo”, por atingir precisamente a comunidade artística que, dentro do país, tem dado voz às críticas ao governo e demonstrado maior solidariedade com os palestinianos.

“Durante décadas, criadores e artistas israelitas — eu incluído — dedicaram-se a refletir a complexidade da nossa realidade. Nestes tempos, o papel da arte deve ser amplificar a luz, não aprofundar a escuridão”, afirmou Nadav Ben Simon, presidente do sindicato de argumentistas israelita, ao The Guardian.

Numa posição conjunta, Merav Etrog Bar (Guilda de Realizadores de Israel) e Lior Elefant (Fórum de Documentário de Israel) recordaram que “muitos filmes e séries produzidos em Israel têm abordado a crise palestiniana com sensibilidade e pensamento crítico”.

“Precisamos de ajuda, não de silenciamento”

CEO da Associação de Produtores de Cinema e TV de IsraelTzvi Gottlieb, reforça a mesma ideia:

“Não há grupo em Israel que tenha trabalhado tanto contra a violência e contra este governo. Esta indústria — já pequena e vulnerável — mostra as cicatrizes da ocupação. Precisamos de ser ajudados, não prejudicados.”

A produtora Liat Benasuly, membro da associação e responsável por títulos como a série Fauda (Netflix), foi ainda mais dura:

“Sou extremamente de esquerda e contra este governo horrível. O que o boicote faz é silenciar as vozes que estão a tentar mudar a realidade. É perfeito para quem está no poder, que preferia que ficássemos calados.”

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Comparações e contradições

Os críticos do boicote lembram ainda que não houve movimentos semelhantes contra a indústria russa (apesar da guerra na Ucrânia) nem contra a chinesa (acusada de violações de direitos humanos contra a minoria uigur). Para Gottlieb, “Israel é o alvo fácil”.

Olivia Colman, Javier Bardem e Tilda Swinton Entre os 1.300 Cineastas a Boicotar Empresas de Cinema Israelitas

Atores e realizadores unem-se em protesto contra a guerra em Gaza

Mais de 1.300 profissionais do cinema, entre atores, realizadores, produtores e argumentistas, assinaram um compromisso público onde declaram boicotar festivais, instituições e empresas de cinema israelitas. O movimento, liderado pelo coletivo Film Makers for Palestine, acusa essas entidades de estarem “implicadas em genocídio e apartheid contra o povo palestiniano”.

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Entre os nomes mais conhecidos que subscrevem o apelo estão Olivia ColmanJavier BardemSusan Sarandon e Tilda Swinton, a par de figuras como Riz AhmedMiriam MargolyesJuliet Stevenson e Ken Loach.

Do lado dos realizadores e produtores

O boicote conta também com a assinatura de cineastas como Yorgos Lanthimos (The Lobster), Asif Kapadia (SennaAmyDiego Maradona), e produtores premiados como James Wilson (duas vezes vencedor de BAFTA), Robyn Slovo(Tinker, Tailor, Soldier, Spy) e Rebecca O’Brien, colaboradora de Ken Loach em I, Daniel Blake.

Em declarações à Sky News, O’Brien foi clara: “Recuso que o meu trabalho seja usado para branquear um genocídio. Durante décadas, festivais e empresas israelitas desempenharam um papel em mascarar e justificar crimes de guerra.”

Israel rejeita acusações

O governo israelita tem reiterado que as suas ações em Gaza são uma forma de autodefesa, rejeitando a qualificação de genocídio. O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel classificou como “mentirosa e mal fundamentada” a declaração da International Association of Genocide Scholars, que na semana passada considerou que o país está a cometer genocídio no enclave.

Ecos históricos e apelos a uma indústria ativa

A declaração inspira-se no movimento Filmmakers United Against Apartheid, fundado em 1987 por Martin ScorseseJonathan Demme, quando mais de 100 cineastas recusaram exibir os seus filmes na África do Sul durante o regime do apartheid.

O compromisso atual exorta a indústria a “recusar o silêncio, o racismo e a desumanização, e a fazer tudo o que for humanamente possível para acabar com a cumplicidade na opressão”.

Contexto da guerra em Gaza

Segundo as autoridades de saúde locais, mais de 64 mil palestinianos já morreram em Gaza desde o início do conflito, desencadeado pelo ataque do Hamas a Israel, em que 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 250 feitas reféns. Atualmente, estima-se que 48 reféns continuem detidos em Gaza, sendo que apenas 20 estarão vivos.

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Entretanto, as Forças de Defesa de Israel (IDF) preparam uma intensificação da ofensiva, depois de o governo prometer conquistar controlo total da Faixa de Gaza.