Estreia no Filmin o novo filme do realizador nomeado ao Óscar, um drama sensorial sobre amor, cultura e… bules de chá?
Preparem a chaleira e deixem o coração ferver: Chá Preto (Black Tea, no original) acaba de estrear no catálogo da Filmin e promete ser uma das experiências cinematográficas mais aromáticas do ano. Realizado por Abderrahmane Sissako, o cineasta mauritano nomeado ao Óscar por Timbuktu, este novo trabalho é um convite a saborear o amor com a delicadeza de um ritual ancestral.
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Mas não se deixem enganar pela doçura do título — este Chá Preto vem carregado de notas fortes: desejo, identidade, pertença e escolhas difíceis. Tudo servido com a sensibilidade poética a que Sissako já nos habituou.
Amor (quase) proibido entre porcelana e tradição
O filme conta a história de Aya, uma mulher da Costa do Marfim que rompe com o seu casamento arranjado e viaja para a cidade chinesa de Guangzhou. Ali, começa a trabalhar numa loja de chá pertencente a Cai, um homem reservado e solitário. O que se segue é uma delicada dança de aproximação, num espaço onde a tradição chinesa e a herança africana se encontram — entre bules, infusões e silêncios carregados de significado.
Sissako usa o universo do chá como metáfora visual e sensorial para explorar o amor, a migração e o confronto (ou fusão) entre culturas. O romance entre Aya e Cai desenvolve-se lentamente, com a mesma paciência com que se prepara um bom chá — e com a mesma intensidade no sabor final.
Um filme que se vê com os sentidos
Visualmente deslumbrante, com uma paleta quente e uma mise-en-scène cuidada, Chá Preto é cinema que apela aos sentidos. Cada cena parece pensada para nos fazer sentir o aroma da infusão, o calor das mãos em redor da chávena, o peso da memória e do desejo.
É também um filme sobre escuta — entre pessoas, entre culturas, entre silêncios. Com interpretações contidas mas profundamente humanas, Sissako cria um universo onde os gestos mais pequenos carregam a força de uma revolução interior.
Entre o realismo e a fábula
Apesar do seu enraizamento em temas sociais reais — migração, racismo, solidão — Chá Preto nunca se torna panfletário. Antes, aproxima-se da fábula, sem nunca perder a ligação à realidade. Como em Timbuktu, há uma elegância na forma como o realizador filma a dor e a beleza do mundo.
É um romance, sim. Mas também é um filme sobre resistência, escolhas e encontros improváveis. Um lembrete de que o amor pode nascer mesmo nos lugares mais inesperados — como uma loja de chá, numa cidade onde ninguém parece falar a mesma língua.
Uma estreia discreta, um impacto profundo
A estreia discreta em plataformas como o Filmin não deve enganar ninguém: Chá Preto é um dos grandes filmes do ano. Uma obra que merece ser descoberta com tempo, atenção e um coração aberto. E, claro, com uma chávena de chá na mão.
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