Agosto, tradicionalmente um dos meses mais fortes para o cinema em Portugal, trouxe este ano um balanço preocupante: uma quebra de 41,7% no número de espectadores em relação ao mesmo período de 2024. Segundo dados divulgados pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), as salas registaram apenas 962,6 mil bilhetes vendidos, face aos 1,6 milhões do ano passado.
A descida refletiu-se também na receita de bilheteira, que ficou nos 6,24 milhões de euros, menos 39,9% do que em agosto de 2024, quando os valores ultrapassavam os 10 milhões.
Uma tendência que já vinha de julho
Os sinais de alerta não surgiram do nada. Já em julho, as salas portuguesas tinham registado uma queda de 35,7% no número de espectadores e uma quebra de 31% na receita face ao ano anterior. No acumulado dos primeiros oito meses de 2025, a tendência confirma-se: há uma descida de 6,1% em público e 2,9% em receita relativamente a 2024.
Ainda assim, importa notar que, até julho, o setor conseguia apresentar algum crescimento no comparativo anual, com mais 2,8% em espectadores e 6,7% em receita. Agosto, no entanto, veio inverter o cenário.
“Os Mauzões 2” lidera as preferências
Apesar das dificuldades, algumas produções conseguiram destacar-se. “Os Mauzões 2”, filme de animação de Pierre Perifel, foi o mais visto em agosto, somando 137 mil entradas desde a estreia, a 31 de julho.
No acumulado do ano, a liderança continua nas mãos de “Lilo e Stitch”, realizado por Dean Fleischer Camp, que já atraiu 660 mil espectadores desde a estreia, em maio. Logo a seguir surge “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, com mais de 384 mil bilhetes vendidos desde janeiro.
Cinema português também em destaque
No panorama nacional, “O Pátio da Saudade”, de Leonel Vieira, tornou-se o filme português mais visto do ano, com perto de 55 mil espectadores desde a estreia, a 14 de agosto. A produção ultrapassou “On Falling”, de Laura Carreira, que soma cerca de 13 mil entradas desde março.
O que esperar daqui para a frente?
Os números de agosto deixam clara a vulnerabilidade do setor. Se por um lado há títulos capazes de mobilizar plateias — sobretudo animações e grandes produções norte-americanas —, por outro, a quebra generalizada levanta questões sobre hábitos de consumo, preços de bilhetes e capacidade de atrair públicos num verão marcado por alternativas de lazer ao ar livre.
O desafio será perceber se setembro e os meses seguintes, tradicionalmente mais fortes em estreias de prestígio e blockbusters de outono, conseguem inverter a tendência negativa e devolver fôlego às salas portuguesas.
