O novo filme de Edward Berger com Colin Farrell arrisca alto: casino de luxo, lutador em queda livre, visuais estridentes — os elogios são visíveis, mas tantas críticas também se acumulam.
Quando um realizador vindo de triunfos como All Quiet on the Western Front e Conclave decide mergulhar no mundo decadente dos casinos de Macau, o resultado só podia ser visualmente arrebatador. Em Ballad of a Small Player, Edward Berger cria um universo de néons, espelhos e vício, onde o glamour se mistura com a ruína. A premissa é sedutora: um homem à beira da falência, preso entre a culpa e o desejo de redenção, joga literalmente a sua vida numa mesa de baccarat.
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O protagonista é Lord Freddy Doyle, interpretado por Colin Farrell num registo de exaustão elegante e decadência trágica. Doyle é o típico jogador de alto risco que acredita que “a próxima mão” o salvará — e Berger filma essa crença com um esplendor que beira o alucinatório. Os corredores intermináveis de hotel, as luzes a pulsar sobre o vazio e o reflexo de Doyle no vidro são quase metáforas visuais de um homem que já não distingue sorte de ilusão.
Mas se há quem veja neste filme uma hipnose visual digna de aplauso, outros olham e só veem um oásis no deserto — belo, mas vazio.
🎲 O que entusiasma
O desempenho de Colin Farrell é, unanimemente, o ponto mais elogiado. Para o Gold Derby, trata-se de “uma das interpretações mais contidas e fascinantes” da carreira do actor. Farrell dá corpo a um homem perdido, sem redenção nem esperança, e fá-lo com um olhar que vale mais do que qualquer diálogo.
A fotografia de James Friend é outro trunfo: Macau nunca pareceu tão cinematográfico — um palco de luz e sombra, onde o luxo e a solidão coexistem. As cores saturadas, os planos amplos e os reflexos infinitos criam um ambiente de sonho febril.
E há mérito na ambição de Berger. Depois de explorar o horror da guerra e os bastidores do Vaticano, o realizador aposta agora numa reflexão sobre o vício e a identidade — um “estrangeiro” perdido num Oriente que o engole, preso entre o estatuto e a autodestruição. É, como nota o The Guardian, “uma tentativa corajosa de filmar a espiritualidade do desespero”.
⚠️ O que compromete
O entusiasmo visual, contudo, não esconde as fragilidades narrativas. O Time classificou o filme como “mais estilo do que substância”, chamando-o “moderadamente interessante, mas emocionalmente distante”.
De facto, o argumento de Rowan Joffé, baseado no romance de Lawrence Osborne, salta etapas fundamentais: há pouco tempo para conhecer Doyle antes de o ver em colapso, e quase nenhuma construção emocional que justifique a sua queda. O resultado é um filme que deslumbra, mas raramente comove.
Alguns críticos, como o Financial Times, foram ainda mais duros: “É uma aposta visual com retorno emocional negativo.” O filme aspira a ser um estudo de personagem, mas acaba preso num ciclo de repetição e vazio existencial que pouco acrescenta ao género.
🧭 Em resumo
Ballad of a Small Player não é um erro — longe disso. É uma obra esteticamente poderosa, que confirma Edward Berger como um realizador de olhar sofisticado e domínio técnico. E é também um veículo sólido para Colin Farrell, que reafirma aqui o seu estatuto de actor camaleónico e magnético.
Mas o filme também exige mais do que dá: a promessa de profundidade dissolve-se no luxo das imagens, e a emoção que se espera de uma história sobre ruína e redenção nunca chega a emergir por completo.
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Para quem aprecia cinema de atmosfera, feito de textura, ritmo e mistério, há muito para admirar. Para quem procura uma história com pulso, emoção e consistência dramática, a jogada de Berger talvez deixe a sensação de uma vitória moral, mas uma perda artística.
Um belo risco, uma mão visualmente brilhante — mas, no fim, talvez Doyle (e Berger) fiquem a perder para a casa.

