Julia Roberts em “Depois da Caçada”: o filme de Luca Guadagnino que promete incendiar debates em Veneza

O realizador italiano Luca Guadagnino voltou a dar que falar na 82.ª Mostra de Veneza com o seu mais recente filme, Depois da Caçada (After the Hunt), apresentado fora de competição. Produzido pela Amazon e protagonizado por Julia Roberts, o drama mergulha nas tensões morais e éticas de um prestigiado campus universitário norte-americano, expondo feridas ainda abertas no contexto do movimento Me Too.

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Roberts interpreta Alma, professora de Filosofia em Yale, que leva uma vida aparentemente estável ao lado do marido, Fred (Michael Stuhlbarg), um terapeuta respeitado. O casal, símbolo da elite intelectual, organiza regularmente jantares animados, onde se cruzam colegas, alunos e amigos. Mas a harmonia é abalada quando Maggie (Ayo Edebiri), uma aluna promissora, acusa de violação o professor Hank (Andrew Garfield) — amigo íntimo de Alma.

O que se segue é um jogo de tensões que abala relações pessoais, académicas e de poder. Como num efeito dominó, cada personagem reage de forma distinta ao escândalo: Alma divide-se entre a lealdade ao amigo e a empatia pela aluna, enquanto os estudantes expõem visões mais radicais sobre feminismo, justiça e consentimento.

Em conferência de imprensa em Veneza, Julia Roberts descreveu o filme como um espaço para levantar questões e não dar respostas:

“Há um conjunto de velhos argumentos renovados neste filme, de uma forma que gera debate. O que procurávamos era isto: que toda a gente saísse da sala com sentimentos, emoções e pontos de vista distintos.”

A argumentista Nora Garrett reforçou que o objetivo foi trabalhar as nuances: “Não queríamos simplificar. Queríamos que soasse verdadeiro e levasse as pessoas a questionarem-se sobre o que podem fazer.”

Já Guadagnino sublinhou que cada personagem traz a sua própria verdade para a mesa: “Uma verdade não é mais importante do que outra.”

Sem assumir um tom panfletário, Depois da Caçada prefere retratar os dilemas individuais e coletivos que surgem quando o silêncio deixa de ser uma opção. Como salientou Roberts, o filme não procura dar respostas definitivas, mas sim provocar conversas, emoções e até irritações — porque, tal como na vida, as respostas raramente são lineares.

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O filme, que conta também com Chloë Sevigny no elenco, estreia nos cinemas norte-americanos a 17 de outubro

After the Hunt: Luca Guadagnino explica escolha polémica de créditos à Woody Allen no filme com Julia Roberts

Luca Guadagnino voltou a estar no centro das atenções no Festival de Veneza com After the Hunt, o seu novo drama psicológico protagonizado por Julia Roberts, Ayo Edebiri e Andrew Garfield. Mas não foi apenas a estreia mundial que gerou conversa: a decisão do realizador italiano de usar créditos de abertura inspirados no estilo dos filmes de Woody Allen levantou sobrancelhas — e Guadagnino não fugiu ao tema.

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Durante a conferência de imprensa, o cineasta explicou que a opção estética não foi inocente. Segundo o próprio, a estrutura de After the Hunt remete diretamente para obras de Allen entre 1985 e 1991, como Crimes and Misdemeanorsou Another Woman. “Quando começámos a trabalhar no filme, não conseguíamos deixar de pensar nessas obras. Havia uma ligação estrutural àquele universo narrativo”, revelou Guadagnino.

No entanto, o paralelismo ganha outro peso porque After the Hunt aborda precisamente questões de assédio, abuso e poder, temas centrais do movimento #MeToo, enquanto Allen continua a ser uma figura envolta em polémicas relacionadas com acusações de má conduta. Guadagnino admitiu ter consciência dessa camada extra:

“Foi também uma forma de refletir sobre a nossa responsabilidade em olhar para o trabalho de artistas que amamos, mas que enfrentam acusações ou questões sérias na sua vida pessoal.”

Julia Roberts no centro de um dilema moral

O filme segue Alma Imhoff (Roberts), uma professora universitária que vê a sua carreira e vida pessoal abaladas quando uma aluna (Edebiri) acusa um colega (Garfield) de agressão. Ao mesmo tempo, um segredo sombrio do passado de Alma ameaça vir à tona. A narrativa mergulha no confronto entre diferentes versões da verdade e no modo como poder e reputação moldam relações humanas.

Guadagnino contou ter ficado “impressionado” com o argumento de Nora Garrett, sublinhando que a história chegou até si no momento certo:

“Andava a refletir sobre a luta pelo poder: porque o queremos, porque o retiramos a outros, o que significa realmente tê-lo nas mãos.”

A estreia e o peso da polémica

After the Hunt estreou-se em Veneza no dia 29 de agosto, em exibição no Sala Grande, e chegará às salas norte-americanas a 17 de outubro, através da Amazon MGM Studios. O elenco conta ainda com Chloë Sevigny, reforçando o estatuto de filme-evento da temporada.

Embora Guadagnino insista que a escolha dos créditos é também um gesto de apreço estético — “É um clássico, uma fonte que vai para além de Woody Allen”, frisou —, a decisão abre o debate sobre como o cinema deve dialogar com a obra de artistas controversos.

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Com uma história que mistura dilemas éticos, segredos perturbadores e disputas de poder, After the Hunt promete ser um dos títulos mais falados deste outono — tanto pelo que acontece no ecrã como pelas conversas que desperta fora dele.