Entre a Ruína e o Renascimento: “Cardo” Regressa com uma Segunda Temporada Ainda Mais Intensa


Entre a Ruína e o Renascimento: “Cardo” Regressa com uma Segunda Temporada Ainda Mais Intensa

Há séries que regressam como quem bate à porta com cuidado. Cardo não é uma delas. A segunda temporada chega à televisão portuguesa no dia 20 de Novembro, às 22h10, no TVCine Edition e no TVCine+, com a mesma frontalidade feroz que marcou a estreia — talvez até mais. É uma continuação que não suaviza, não facilita e não pede desculpa: apenas mergulha, sem filtros, na turbulência emocional de María.

Três anos passaram desde que a protagonista saiu de cena para cumprir pena na prisão. Quando finalmente volta à liberdade, descobre um mundo que já não reconhece. Amizades que desapareceram, amores que mudaram, rotinas que se desagregaram. María tenta agarrar-se à vontade de recomeçar, mas carrega consigo vícios antigos, um passado que continua a assombrá-la e uma culpa que se recusa a ser enterrada. A cada passo, sente que o abismo está ainda ali — sempre à distância de um tropeção.

ler também : Mistério, Neve e um Passado Sombrio: Crimes de Natal Chega ao TVCine com Assassinatos no Sapatinho

Criada por Claudia Costafreda e Ana Rujas — que volta a vestir a pele de María —, esta nova temporada aprofunda as contradições da protagonista. Ela quer mudar, mas sabota-se; quer esquecer, mas carrega feridas que não cicatrizam; quer avançar, mas arrasta sombras que pesam mais do que gostaria de admitir. A realização mantém o tom intimista que fez da primeira temporada um fenómeno crítico, mas eleva a intensidade emocional para um registo mais visceral, mais cru e mais desarmado.

Cardo já tinha sido celebrada como uma das séries espanholas mais marcantes dos últimos anos — venceu os Prémios Feroz 2022 de Melhor Série Dramática e Melhor Atriz — mas esta segunda temporada arrisca ainda mais. Se antes já era um estudo de personagem profundamente honesto, agora é praticamente um raio-X emocional de uma geração que vive entre precariedade, frustração e o desejo constante de encontrar um sentido num mundo que parece falhar demasiadas vezes.

Os novos episódios exploram temas como autodestruição, vergonha, identidade e a dificuldade brutal que é recomeçar quando tudo à volta — e dentro — permanece em ruínas. O bairro mudou, os códigos mudaram, a vida avançou sem ela. E María, simultaneamente perdida e determinada, tenta descobrir se ainda há espaço para uma nova versão de si própria.

Visualmente, a série continua a apostar numa estética realista, próxima, quase documental, colocando o espectador dentro da vida da protagonista, sem barreiras nem artifícios. Essa proximidade amplifica o impacto: Cardo não é apenas vista, é sentida. Às vezes, como um murro; outras, como uma ferida que nunca esteve bem fechada.

este: 35 Anos de Sozinho em Casa: Porque É que o Clássico de Chris Columbus Continua a Ser o Verdadeiro Filme de Natal!

Com estreia marcada para quinta-feira, 20 de Novembro, às 22h10Cardo T2 promete noites intensas, desafiantes e emocionalmente devastadoras. Uma série que não pede conforto — pede coragem. E que, por isso mesmo, merece ser vista.

Na Lama: A Nova Série Argentina da Netflix Que Mergulha na Sobrevivência e Solidariedade Atrás das Grades

O drama realista acompanha três mulheres condenadas a prisão perpétua e a luta diária por um lugar num universo hostil.

A Netflix volta a apostar no drama de alta intensidade com Na Lama, a nova série argentina que estreou no passado dia 14 de agosto e que promete não deixar ninguém indiferente. Ao longo de oito episódios, o espectador é conduzido a um mundo fechado e claustrofóbico, onde a liberdade é uma memória distante e a sobrevivência se constrói passo a passo.

ver também : Simon Pegg revela que o ‘Star Trek’ de Quentin Tarantino era “completamente louco” 🚀🖖

Um trio de protagonistas em circunstâncias extremas

A história acompanha La Borges (Gladys Guerra), La Gallega e La Zurda, interpretadas respectivamente por Carolina RamírezValentina Zenere e Ana Rujas. As três mulheres, condenadas a prisão perpétua, encontram-se num momento decisivo das suas vidas: a caminho da prisão de La Quebrada, um incidente inesperado marca o destino do grupo e cria um laço indestrutível entre elas e outras reclusas sem historial de detenções.

Esse elo inicial será fundamental para o que se segue: a adaptação a uma realidade onde o dia a dia é regido por regras não escritas e por “tribos” que dominam cada recanto do estabelecimento prisional.

Sobreviver, resistir e encontrar um lugar

Mais do que um simples drama carcerário, Na Lama explora as estratégias de sobrevivência física e emocional num ambiente que desafia constantemente os limites das protagonistas. Ao longo da temporada, vemos como a experiência pessoal de cada uma — com as suas forças e fragilidades — se transforma numa arma para enfrentar o regime e conquistar algum espaço de autonomia.

O confinamento e a ausência total de liberdade não são apenas o pano de fundo, mas o motor narrativo que obriga estas mulheres a reinventar-se. O confronto com outras “tribos”, a luta por direitos e regalias e o peso da rotina opressiva moldam cada decisão e alimentam tensões permanentes.

Laços que resistem às grades

Se no interior as batalhas são diárias, no exterior existe uma guerra silenciosa para manter vivas as ligações com quem ficou de fora. A série dá especial atenção a esses fios de esperança: telefonemas, visitas e lembranças que se tornam âncoras emocionais. É este contacto com a família e com as pessoas amadas que sustenta a resistência e mantém acesa a possibilidade — ainda que remota — de recuperar a liberdade.

“Las embarradas” e o significado de uma nova identidade

Mesmo sem procurarem destaque, La Borges, La Gallega e La Zurda acabam por ganhar uma alcunha: “Las embarradas”. Um nome que, mais do que rótulo, simboliza a transformação inevitável provocada pela prisão. As antigas motivações e planos de vida dão lugar a um instinto primário de adaptação e resiliência, onde a sobrevivência e a união do grupo se tornam prioridades absolutas.

Uma aposta forte da Netflix no drama social

Ao apostar num enredo carregado de realismo, Na Lama distancia-se de produções glamorizadas e aproxima-se de uma representação crua da vida atrás das grades. É um retrato duro e sem filtros de como o sistema prisional molda — e por vezes destrói — a identidade de quem nele vive.

Com interpretações intensas e uma narrativa que não foge à dureza do tema, esta série argentina insere-se na linha de produções que usam o drama como ferramenta de reflexão social.