Spike Lee Entre o Sucesso de Highest 2 Lowest e o Cancelamento do Documentário Sobre Colin Kaepernick

Spike Lee voltou a estar no centro das atenções este fim de semana, e por duas razões muito distintas. De um lado, a aclamação crítica pelo seu novo filme Highest 2 Lowest, protagonizado por Denzel Washington; do outro, a notícia menos feliz de que a ESPN cancelou a sua aguardada série documental sobre Colin Kaepernick, devido a “diferenças criativas”.

Um reencontro aguardado com Denzel Washington

Highest 2 Lowest marca a 24.ª longa-metragem de Spike Lee e assinala o reencontro com Denzel Washington, quase 20 anos depois de Inside Man (2006). O filme é uma reinterpretação de High and Low (Tengoku to Jigoku, 1963), obra-prima de Akira Kurosawa, baseada no romance King’s Ransom de Ed McBain.

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O clássico de Kurosawa não era apenas um thriller policial, mas também um retrato incisivo da desigualdade social no Japão do pós-guerra, em que um magnata é confrontado com uma escolha moral devastadora quando o filho do motorista é raptado por engano. Ao transpor a história para o presente, Lee transforma o protagonista num executivo musical, mostrando como as tensões sociais, a ganância e a culpa continuam a atravessar gerações.

Lee descreveu o seu filme como uma “reinterpretação jazzística” de Kurosawa, explicando à Vanity Fair:

“Sabia que se fosse fazer isto, tinha de ser uma reimaginação. Foi como uma grande bola de beisebol lançada ao centro — e senti que a enviei direto para fora do campo.”

Receção crítica e impacto inicial

Apesar de estrear apenas em circuito limitado, o filme já está a colher aplausos entusiásticos da crítica internacional. O New York Times chamou-lhe “uma celebração exultante de um lugar e de um povo”, enquanto o Chicago Readerdestacou-o como “irresistivelmente cativante”.

No Rotten TomatoesHighest 2 Lowest atingiu uns impressionantes 90% no Tomatometer, posicionando-se acima de títulos de Lee como Malcolm X ou 25th Hour, e logo atrás de clássicos como Do the Right Thing e BlacKkKlansman.

A outra face: o cancelamento de Kaepernick

Enquanto o novo filme recebia elogios, a ESPN confirmava o fim da colaboração com Spike Lee e Colin Kaepernick numa série documental sobre a vida do ex-quarterback da NFL. A produção, desenvolvida ao longo de vários anos, enfrentava divergências quanto à direção criativa e acabou por ser cancelada “de comum acordo”.

Lee, impedido de dar detalhes devido a um acordo de confidencialidade, limitou-se a dizer: “Não vai sair. É tudo o que posso dizer.”

Kaepernick, que conduziu os San Francisco 49ers até ao Super Bowl de 2013, foi afastado da liga após os protestos de 2016 em que ajoelhava durante o hino nacional contra a injustiça racial. Desde então, tornou-se um símbolo da luta pelos direitos civis, mas também uma figura controversa no mundo do desporto.

Entre o triunfo e a frustração

O contraste não podia ser mais evidente: de um lado, Spike Lee concretiza um projeto que gigantes como Martin Scorsese e Mike Nichols tentaram adaptar sem sucesso; do outro, vê cair por terra uma série que poderia ter oferecido uma nova perspetiva sobre um dos capítulos mais polémicos do desporto norte-americano.

Mais do que uma adaptação, Highest 2 Lowest funciona como um diálogo cultural entre o cinema japonês clássico e a visão contemporânea de Spike Lee — um encontro improvável entre Kurosawa e Brooklyn. E é exatamente por essa ousadia que o filme já começa a ser encarado como uma das obras incontornáveis de 2025.

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Para já, Highest 2 Lowest segue para uma estreia mais ampla na Apple TV+ em setembro, prometendo ser mais uma “Spike Lee Joint” destinada a marcar a cinefilia contemporânea.

Highest 2 Lowest: Denzel Washington enfrenta um rapto explosivo no novo thriller de Spike Lee


Denzel Washington regressa ao grande ecrã num duelo psicológico com um sequestrador impiedoso, sob a direcção de Spike Lee. Inspirado em Kurosawa, com A$AP Rocky e um toque de humor mordaz, o filme promete ser um dos thrillers do ano.

O trailer oficial de Highest 2 Lowest, o novo filme de Spike Lee, já está entre nós — e promete tensão, estilo e uma reinterpretação contemporânea de um clássico japonês. Com estreia marcada para 15 de agosto nos cinemas (seguido de lançamento em streaming na Apple TV+ a 5 de setembro), o filme marca o reencontro de Denzel Washington com Spike Lee, duas décadas depois da sua última colaboração.

Uma nova leitura de Kurosawa com alma nova-iorquina

Highest 2 Lowest é uma reinvenção moderna de High and Low, o icónico policial de Akira Kurosawa de 1963. Em vez de um industrial japonês, temos agora um poderoso magnata da música em Nova Iorque, interpretado por Denzel Washington, cuja vida entra em colapso quando se vê no centro de um esquema de rapto e extorsão.

O trailer mistura imagens live-action com animações estilizadas, enquanto Washington e Ilfenesh Hadera — que interpreta a sua companheira — falam ao telefone com o misterioso raptor. Em fundo, a cidade de Nova Iorque é quase uma personagem por si só, com o Brooklyn Bridge em destaque e a tensão a subir de tom a cada segundo.

“Tu já não és Deus… agora sou eu!”

A chamada do raptor é uma das peças-chave do trailer: exige 17,5 milhões de dólares num mochila preta e instrui David (personagem de Washington) a apanhar o metro — a icónica linha 4 de Manhattan — numa sequência que promete tanto suspense como crítica social. “Tu já não és Deus… agora sou eu!”, grita o criminoso, sublinhando o confronto de egos e o desequilíbrio de poder.

O filme conta ainda com Jeffrey Wright no papel do motorista e amigo de David — que parece funcionar como a voz da razão (ou talvez da loucura controlada). Numa das melhores tiradas do trailer, quando questionado sobre a razão de estar a carregar uma arma, responde de forma desconcertante: “Seguro. É o Jake da State Farm.”

Elenco com mistura improvável… mas explosiva

Além de Washington, Hadera e Wright, o elenco inclui ainda A$AP RockyElijah WrightAubrey Joseph e até a rapper Ice Spice, num misto de talento veterano e energia fresca. A escolha de A$AP Rocky e Ice Spice não é apenas um aceno à cultura urbana contemporânea, mas também uma tentativa clara de atrair novas audiências para uma história de raízes clássicas.

Estreia em Cannes e entrada triunfal nos cinemas

Highest 2 Lowest teve a sua estreia mundial no Festival de Cannes, onde gerou reacções curiosas e divididas — exactamente como Spike Lee gosta. O filme é distribuído pela A24 e promete ser um dos destaques do final do verão cinematográfico, tanto pela qualidade técnica como pela ousadia temática.

Com tensão, crítica social, e um elenco de luxo, Highest 2 Lowest mostra que Denzel Washington continua a dominar o ecrã com intensidade, e que Spike Lee ainda sabe como nos deixar desconfortáveis… no melhor dos sentidos.

Akira Kurosawa e Ingmar Bergman: Uma Homenagem de Mestre para Mestre

No vasto universo do cinema, poucos realizadores conseguiram deixar um impacto tão profundo e duradouro como Akira Kurosawa e Ingmar Bergman. Ambos são considerados gigantes do cinema, cada um com uma assinatura distinta e uma sensibilidade única na forma como contavam histórias visuais. No entanto, o respeito mútuo entre esses dois mestres transcendeu o reconhecimento público e transformou-se numa amizade silenciosa, mas profundamente respeitosa.

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Em 1988, por ocasião do 70º aniversário de Bergman, Akira Kurosawa escreveu-lhe uma carta emocionante que revela não apenas a admiração que sentia pelo realizador sueco, mas também uma profunda reflexão sobre a vida, a arte e o envelhecimento.

A carta, que começa com uma congratulação simples e calorosa, logo revela o impacto que o trabalho de Bergman teve sobre Kurosawa: “O seu trabalho toca profundamente o meu coração todas as vezes que o vejo, e aprendi muito com as suas obras. Elas sempre me encorajaram.” Não é todos os dias que um realizador tão aclamado como Kurosawa se abre desta forma, revelando-se um aprendiz contínuo, mesmo após décadas de sucesso.

Kurosawa partilha ainda uma bela metáfora sobre o envelhecimento e o processo criativo, referindo-se ao artista japonês Tessai Tomioka, que atingiu um novo auge criativo aos 80 anos. Ele reflete sobre a ideia de que os seres humanos realmente se libertam das restrições artísticas e produzem as suas obras mais puras na “segunda infância”. É um pensamento que nos faz questionar se a arte não se torna mais sincera e instintiva à medida que envelhecemos.

Na carta, Kurosawa, que tinha 77 anos na altura, também menciona que acredita que o seu verdadeiro trabalho estava apenas a começar, encorajando Bergman a continuar a criar: “Deixemos que aguentemos juntos, em prol do cinema.”

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Esta carta, mais do que uma simples troca de parabéns, é uma homenagem profunda de um artista a outro, ambos cientes das suas próprias mortalidades, mas convencidos de que a criatividade e a arte não têm limites de idade. É um lembrete de que, no cinema, como na vida, nunca se deixa de aprender e crescer.

A correspondência entre Kurosawa e Bergman revela uma amizade construída em torno da admiração mútua e do amor pelo cinema. Ambos deixaram um legado imortal e, através de palavras como estas, podemos vislumbrar a humildade e a sabedoria que marcaram as suas vidas e obras.

Ciclo de Cinema de Akira Kurosawa no TVCine Edition

Durante o mês de agosto, as noites de sábado no TVCine Edition serão dedicadas a celebrar a obra de um dos maiores mestres do cinema mundial: Akira Kurosawa. Com uma carreira que se estendeu por seis décadas, Kurosawa foi o primeiro realizador japonês a ganhar reconhecimento internacional, influenciando cineastas e espectadores de todo o mundo. O ciclo intitulado “Tripla O Cinema de Akira Kurosawa” trará três dos seus filmes mais icónicos: “Os Sete Samurais”, “O Trono de Sangue” e “Yojimbo, O Invencível”.

“Os Sete Samurais” (1954) – 3 de agosto, 22h

A abertura do ciclo será com “Os Sete Samurais”, considerado por muitos a obra-prima de Kurosawa. Este épico de ação, ambientado no século XVI, narra a história de um grupo de camponeses que, exasperados com os constantes ataques de bandidos, recorrem à ajuda de sete samurais. Liderados por Kambei, os guerreiros aceitam defender a aldeia em troca de casa e comida, movidos pelo sentido de dever. O filme, estrelado por Takashi Shimura e Toshiro Mifune, tornou-se uma das obras mais influentes da história do cinema, destacando-se pela sua narrativa envolvente e cenas de batalha impressionantes.

“O Trono de Sangue” (1957) – 10 de agosto, 22h

No segundo sábado de agosto, será exibido “O Trono de Sangue”, uma adaptação livre de “Macbeth” de William Shakespeare. O filme segue a ascensão e queda do general Washizu, que, após ouvir uma profecia de uma bruxa na floresta, assassina o seu senhor e assume o trono. Contudo, a ambição desmedida leva-o à ruína, com a traição dos seus homens e a loucura da sua esposa. Toshiro Mifune e Isuzu Yamada protagonizam este intenso drama, que se destaca pela sua atmosfera sombria e estética visual poderosa.

“Yojimbo, O Invencível” (1961) – 17 de agosto, 22h

O ciclo encerra com “Yojimbo, O Invencível”, um filme que mistura ação e humor num cenário de western japonês. A história centra-se em Sanjuro Kuwabatake, um samurai mercenário que chega a uma pequena cidade dominada por duas gangues rivais. Fingindo aliar-se a ambos os lados, Sanjuro manipula as facções até provocar a destruição mútua. A chegada de Unosuke, armado com uma pistola, complica a situação, levando a um confronto final. Toshiro Mifune, que venceu o prémio de Melhor Ator no Festival de Veneza por este papel, lidera um elenco talentoso, incluindo Eijiro Tono e Takashi Shimura.

Celebração do Legado de Kurosawa

Este ciclo de cinema no TVCine Edition é uma oportunidade imperdível para revisitar ou conhecer a obra de Akira Kurosawa, um realizador cuja influência perdura até aos dias de hoje. As suas narrativas complexas, personagens memoráveis e inovadoras técnicas cinematográficas continuam a inspirar gerações de cineastas e a encantar audiências em todo o mundo.

Os filmes serão transmitidos nos dias 3, 10 e 17 de agosto, sempre às 22h, e estarão posteriormente disponíveis na plataforma TVCine+, permitindo que os espectadores desfrutem destas obras-primas a qualquer momento.