Da recriação sangrenta da cena do chuveiro de Psycho ao número musical inspirado em All That Jazz: os bastidores da série mais perturbante do ano
Depois de explorar as histórias de Jeffrey Dahmer e dos irmãos Menendez, a antologia Monster, criada por Ryan Murphy e Ian Brennan, mergulha agora na mente distorcida de Ed Gein, o assassino que inspirou clássicos como Psycho e The Texas Chain Saw Massacre. Na terceira temporada, lançada pela Netflix, Charlie Hunnam assume o papel de Gein, acompanhado por Laurie Metcalf, Suzanna Son, Lesley Manville e Addison Rae, num retrato que mistura crime, trauma, fantasia e cultura pop — tudo sob a lente do novo realizador da temporada, Max Winkler.
“Desde o início, Ryan perguntava: ‘Quem é o verdadeiro monstro?’ É Ed Gein? A mãe dele? O sistema de saúde americano? Ou somos nós, que transformamos estas histórias em entretenimento?”, revelou Winkler ao Variety.
A violência de Psycho — agora sem filtros
Um dos momentos mais comentados da série é a recriação da icónica cena do chuveiro de Psycho, de Alfred Hitchcock — desta vez, com mais brutalidade e realismo.
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“Queríamos mostrar o que aquilo realmente significava. Hitchcock trouxe algo de profundamente perturbador para o cinema, e quisemos mostrar o impacto dessa violência, tanto para quem a viveu como para quem a assistiu”, explica o realizador.
O ator Joey Pollari interpreta Anthony Perkins, o Norman Bates original, e Winkler diz que até ele se sentiu “como um monstro” durante as filmagens: “O personagem era um homem reprimido, toldado por culpa e solidão. Essa dor está toda ali.”
A fronteira entre realidade e loucura
Visualmente, Monster: The Ed Gein Story combina várias linguagens cinematográficas — desde o 16mm granulado dos segmentos inspirados em Texas Chain Saw Massacre até à fotografia fria e isolada dos momentos em que Gein se confronta com a própria mente. Winkler cita filmes como Days of Heaven e Capote como influências.
“Queríamos mostrar o quão pequeno ele era diante do mundo, mas quão barulhenta era a cabeça dele.”
Nas cenas finais, Charlie Hunnam entrega uma performance devastadora — filmada num único plano fechado. “Ele perdeu cerca de 18 quilos, estava exausto e completamente dentro do personagem. Fizemos uma única tomada e sabíamos que tínhamos conseguido”, contou o realizador.
O momento musical mais inesperado da série
Num toque surpreendente, o episódio final inclui um número musical inspirado em All That Jazz, onde Gein é confrontado com os seus crimes e fantasmas.
“Foi um dos dias mais longos e intensos de filmagem da minha vida. Era o aniversário do Charlie, todos estavam exaustos, mas sabíamos que tínhamos de acertar o tom. Era um inferno filmar, mas também catártico.”
Winkler descreve a sequência como uma “celebração perversa da insanidade”, em que o assassino se vê rodeado por outros monstros da cultura americana — incluindo Charles Manson e Ted Bundy.
“Queríamos mostrar o que é o mal puro, sem música nem glamour. Bundy representa isso.”
O olhar do monstro — ou o nosso? 👁️
Um dos momentos mais debatidos acontece quando Ed Gein quebra a quarta parede e olha diretamente para a câmara:
“Ele diz: ‘Tu é que não consegues desviar o olhar.’ É o ponto de viragem — ele transforma o espectador em cúmplice. É o nosso espelho. Somos nós os monstros por continuarmos a assistir.”
Entre o horror e a empatia
Apesar da violência extrema, a série também tenta compreender a génese do mal. Winkler admite ter desenvolvido empatia por Gein durante a investigação:
“Foi uma vítima de abuso, isolamento e doença mental. Mas isso não o redime — apenas explica o contexto. O verdadeiro horror é quando deixamos de ver as pessoas como pessoas.”
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Com esta nova temporada, Monster consolida-se como um dos projetos mais ousados e provocadores de Ryan Murphy — uma reflexão sobre a obsessão americana pela violência e pelo espetáculo.
“É um espelho desconfortável”, diz Winkler. “E, no fim, talvez o monstro sejamos nós.”
