Terry Gilliam não perdoa: porque Time Bandits falhou sem anões — e porque nunca poderia resultar

Terry Gilliam nunca foi conhecido por medir palavras. Mas, desta vez, o realizador de Brazil e 12 Monkeys foi particularmente directo: a série Time Bandits, reimaginada por Taika Waititi para a Apple TV, falhou por uma razão muito simples — não tinha anões. E, para Gilliam, isso não é um detalhe estético nem uma decisão lateral. É estrutural. É o coração do filme original.

A série, cancelada após apenas uma temporada, nasceu envolta numa decisão polémica desde o primeiro momento: substituir os icónicos anões do filme de 1981 por personagens de estatura “normal”, numa tentativa assumida de evitar controvérsia ou leituras problemáticas junto de um público mais jovem. Uma opção que, para Gilliam, retirou à história aquilo que a tornava única.

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Em declarações recentes à imprensa italiana, o cineasta foi claro ao afirmar que essa mudança foi escondida dele durante meses. Só quando o projecto estava já demasiado avançado percebeu que os ladrões do tempo deixariam de ser anões. Nessa altura, diz Gilliam, o destino da série estava traçado. Não por vingança pessoal ou purismo artístico, mas porque Time Bandits deixa simplesmente de ser Time Bandits sem esse elemento central.

O filme original, realizado por Gilliam em 1981, não usava os anões como curiosidade visual ou gimmick cómico. Eles eram parte essencial da lógica do mundo, da subversão da escala, do humor absurdo e da identidade visual profundamente ligada ao imaginário dos Monty Python. Eram figuras marginalizadas, irreverentes, moralmente ambíguas — e, acima de tudo, profundamente humanas. Retirá-los é tornar a narrativa genérica, indistinta, semelhante a qualquer aventura juvenil de catálogo.

Gilliam foi creditado como produtor executivo não argumentista na série, acreditando que teria algum controlo criativo. Mas, ao ler os guiões, percebeu que o espírito do projecto lhe escapava por completo. O próprio Waititi, de quem Gilliam diz ter gostado muito em Jojo Rabbit, acabou por se afastar criativamente do desenvolvimento da série, algo que o realizador veterano não deixou passar sem uma farpa subtil, referindo-se a trabalhos recentes do neozelandês como “desapontantes”.

A tensão tornou-se evidente durante uma visita de Gilliam ao set, na Nova Zelândia. A sua presença, que deveria durar duas semanas, resumiu-se a apenas três dias. Testemunhos da equipa descrevem um Gilliam visivelmente irritado, a comentar em voz alta e a demonstrar desconforto constante com o rumo do projecto. Saiu cedo e nunca mais falou bem da série.

O cancelamento acabou por confirmar aquilo que muitos fãs do filme original já suspeitavam: ao tentar “corrigir” Time Bandits para um novo contexto cultural, o projecto perdeu a sua alma. A decisão de eliminar os anões não foi apenas uma escolha de casting — foi uma amputação conceptual.

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Num tempo em que remakes e reimaginações parecem obcecados em evitar riscos, Time Bandits serve de exemplo claro de como o medo de ofender pode resultar em algo ainda mais problemático: um objecto cultural inofensivo, mas irrelevante. E, para Terry Gilliam, irrelevância é o maior dos pecados.

Comprou domínios só para gozar com Trump — e agora a piada tornou-se realidade no coração cultural de Washington


Há sátiras que envelhecem mal. Outras envelhecem tão bem que acabam por parecer profecias. É precisamente neste segundo grupo que entra a história, deliciosamente absurda, protagonizada por Toby Morton, argumentista de South Park, que decidiu comprar — meses antes de qualquer anúncio oficial — os domínios trumpkennedycenter.com e trumpkennedycenter.org. Não para lançar um negócio, nem para fazer dinheiro rápido, mas apenas para uma coisa: trollar Donald Trump.

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O mais notável é que, desta vez, a realidade não só acompanhou a piada como a ultrapassou. Em Agosto, quando Trump começou a mexer discretamente na estrutura de poder do Kennedy Center, Morton teve um pressentimento. Segundo contou mais tarde, percebeu rapidamente que aquilo não era apenas uma remodelação administrativa: era branding pessoal em marcha lenta. Comprou os domínios e ficou à espera.

Meses depois, Trump foi eleito presidente do conselho da instituição cultural mais emblemática de Washington. Seguiram-se declarações sobre o fim de produções “woke”, a substituição de membros do conselho e, por fim, a decisão que confirmou o palpite do argumentista: o edifício passaria a chamar-se Trump Kennedy Center. A sátira deixou de ser hipótese e passou a ser comentário político em tempo real.

Morton não revelou ainda o que planeia fazer com os domínios, mas deixou claro que não serão usados de forma neutra. Pelo contrário, prometeu que o conteúdo “vai reflectir a absurdidade do momento” e admitiu que há situações tão caricatas que se tornam difíceis de parodiar. Quando uma instituição criada para celebrar cultura, memória e legado passa a funcionar como extensão do ego de um político, a comédia quase se escreve sozinha.

O episódio encaixa perfeitamente num ano em que South Park voltou a afirmar-se como uma das poucas vozes satíricas verdadeiramente incómodas para o poder. Enquanto programas de comentário político parecem cada vez mais condicionados, a série animada continua a atacar sem pedir licença — e, talvez por isso mesmo, Trump tenha optado por um silêncio estratégico. Afinal, reagir seria amplificar.

Entretanto, o Kennedy Center tornou-se palco de protestos, cancelamentos simbólicos (como o musical Hamilton) e momentos de embaraço público, incluindo vaias e performances de drag queens na primeira visita de Trump após assumir o controlo. Tudo isto enquanto um argumentista de animação observa à distância, satisfeito por ter registado um domínio que passou de piada privada a símbolo público de um tempo estranho.

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Num mundo onde a política parece cada vez mais escrita como guião de comédia negra, há algo de reconfortante em saber que ainda existem autores capazes de antecipar o absurdo — e comprá-lo por uns poucos dólares anuais.

35 anos depois, os fãs de Sozinho em Casa descobriram o detalhe que explica tudo

Há filmes que resistem ao tempo não apenas pela nostalgia, mas porque continuam a revelar pequenos segredos a cada nova revisão. Sozinho em Casa é um desses casos. Trinta e cinco anos após a sua estreia, um detalhe aparentemente insignificante passou despercebido a milhões de espectadores — até agora. E, curiosamente, ajuda a esclarecer uma das maiores “falhas” narrativas do filme.

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Durante uma reposição natalícia do clássico realizado por Chris Columbus, fãs mais atentos repararam numa cena do início do filme que muda a forma como olhamos para toda a confusão que leva Kevin McCallister a ficar sozinho em casa. Na famosa sequência do jantar caótico da família McCallister, Kevin e o irmão Buzz provocam uma discussão que termina com a mesa virada e leite entornado sobre documentos importantes — incluindo os bilhetes de avião para Paris.

No meio dessa confusão, o pai, Peter McCallister, apressa-se a limpar a mesa com guardanapos. Sem se aperceber, atira para o lixo o cartão de embarque de Kevin, que estava colado aos restantes documentos molhados. É um gesto rápido, quase invisível, mas com consequências decisivas: Kevin nunca chegou sequer a ter um bilhete válido para embarcar.

Um “erro” que afinal não é erro nenhum

Esta descoberta tornou-se viral nas redes sociais, acumulando milhões de visualizações e reacções de espanto. De repente, uma das perguntas mais recorrentes dos fãs — “como é que ninguém deu pela falta de uma criança no avião?” — passou a ter uma resposta simples e lógica. O bilhete de Kevin nunca foi apresentado, nunca foi verificado, nunca foi contado.

Ou seja, mesmo que alguém tivesse reparado na ausência de Kevin, tecnicamente ele não fazia parte da lista de passageiros embarcados. Um pormenor de guião discretíssimo que demonstra o cuidado narrativo do filme e desmonta, com elegância, uma crítica repetida durante décadas.

As obsessões natalícias continuam

Como acontece todos os anos, Sozinho em Casa volta a ser escrutinado plano a plano. Além do mistério do bilhete, há outras curiosidades que continuam a alimentar debates. Uma delas é a rapidez com que Kevin se desloca entre a igreja, onde conversa com o temido (e afinal bondoso) Old Man Marley, e a casa da família — uma distância considerável para uma criança, especialmente em plena noite de inverno. Táxi? Corte de montagem conveniente? O filme nunca responde.

Outra questão eterna prende-se com o nível de vida dos McCallister. Como é que uma família numerosa consegue sustentar uma mansão nos subúrbios de Chicago e viagens internacionais em primeira classe? A explicação oficial nunca foi dada, mas teorias não faltam — desde empregos altamente lucrativos até ajudas familiares discretas.

Um clássico que continua vivo

Estes detalhes são precisamente o que mantém Sozinho em Casa relevante geração após geração. Mais do que um simples filme de Natal, tornou-se um objecto de análise colectiva, um ritual anual e um exemplo raro de cinema popular com um nível de construção narrativa mais sólido do que aparenta à primeira vista.

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E agora que este mistério foi finalmente resolvido, fica a pergunta inevitável, repetida todos os anos à mesa de Natal: prefere Sozinho em Casa ou Sozinho em Casa 2?

Sequências, remakes e nostalgia: os trailers mais vistos de 2025 dizem muito sobre o cinema actual

Se havia dúvidas de que Hollywood continua profundamente ancorada na nostalgia e na força das marcas conhecidas, os números de 2025 tratam de as dissipar. Os trailers mais vistos do ano foram, quase sem excepção, sequências, remakes ou extensões de universos já bem estabelecidos — uma fotografia clara de uma indústria que aposta cada vez menos no risco e cada vez mais no reconhecimento imediato.

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O caso mais impressionante foi o de The Devil Wears Prada 2. Um teaser com menos de um minuto bastou para bater um recorde histórico: 181,5 milhões de visualizações nas primeiras 24 horas, tornando-se o trailer de comédia mais visto dos últimos 15 anos. O regresso de Meryl Streep e Anne Hathaway ao universo criado em 2006 mostrou que, duas décadas depois, Miranda Priestly continua a exercer um fascínio quase absoluto sobre o público.

Um dado curioso ajuda a explicar o fenómeno: cerca de um terço das visualizações veio directamente das redes sociais pessoais de Anne Hathaway. A coincidência com o seu aniversário reforçou ainda mais o impacto viral do lançamento, provando como hoje a promoção de um filme passa tanto pelo marketing tradicional como pela presença digital das suas estrelas.

A Disney domina — outra vez

Logo atrás surgem dois remakes em imagem real da Disney, confirmando a estratégia agressiva do estúdio em revisitar os seus clássicos animados. Moana somou 161,2 milhões de visualizações nas primeiras 24 horas, enquanto Lilo & Stitch alcançou 149,4 milhões. São números que colocam estes filmes muito acima da maioria das estreias originais do ano.

O top 5 fica completo com The Fantastic Four: First Steps, reboot da Marvel que chegou aos 144,1 milhões de visualizações, e Toy Story 5, com 133,6 milhões, marcando o regresso da saga sete anos depois do último filme.

Mais abaixo na lista continuam a surgir títulos bem conhecidos: Avatar: Fire and AshZootopia 2 e Wicked: For Good. Entre os dez trailers mais vistos, apenas um não pertence a uma sequela, remake ou propriedade intelectual pré-existenteMichael, a biografia de Michael Jackson protagonizada pelo sobrinho do cantor.

Streaming: Stranger Things continua imbatível

No universo do streaming, o domínio foi absoluto por parte de Stranger Things. A quinta e última temporada ocupou três dos quatro primeiros lugares entre os trailers mais vistos do ano, somando, no total, cerca de 490 milhões de visualizações em diferentes teasers e anúncios de data de estreia.

Também Squid Game e Wednesday confirmam que as grandes plataformas apostam sobretudo em fenómenos já testados, capazes de gerar atenção global imediata.

Menos visualizações, outras plataformas

Apesar destes números impressionantes, há sinais de mudança. No conjunto, os dez trailers cinematográficos mais vistos de 2025 registaram menos 8% de visualizações face a 2024. O YouTube perdeu peso, enquanto o TikTok ganhou relevância, sendo determinante para o sucesso de trailers como Lilo & StitchAvatar: Fire and Ash e Zootopia 2.

A Disney foi, ainda assim, a grande vencedora do ano, colocando sete filmes no top 10, um aumento significativo face ao ano anterior. O panorama é claro: menos espaço para apostas originais, mais investimento em marcas reconhecíveis e uma dependência crescente da nostalgia como motor de atenção.

2025 não deixa grandes dúvidas. O cinema continua a avançar… mas a olhar constantemente pelo retrovisor.

Jamie Lee Curtis agradece decisão da mãe: “Ainda bem que não me deixou fazer O Exorcista aos 12 anos”

Muito antes de se tornar um dos rostos mais icónicos do cinema de terror, Jamie Lee Curtis esteve a um passo de entrar num dos filmes mais perturbadores da história do cinema — e hoje não podia estar mais agradecida por isso não ter acontecido.

Cinco anos antes de alcançar a fama mundial com Halloween (1978), Jamie Lee Curtis quase teve a sua estreia cinematográfica em O Exorcista, realizado por William Friedkin. Tinha apenas 12 anos quando o produtor Ray Stark, amigo próximo da família, sugeriu que a jovem atriz fizesse audições para o papel de Regan MacNeil — a criança possuída que viria a traumatizar gerações.

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Foi Janet Leigh, a sua mãe e eterna estrela de Psycho, quem travou tudo de imediato.

“A minha mãe disse simplesmente ‘não’”

Em conversa recente no The Drew Barrymore Show, Jamie Lee Curtis recordou o episódio com humor e enorme gratidão. Segundo a atriz, Ray Stark ligou directamente a Janet Leigh a perguntar se autorizava a audição da filha para O Exorcista. A resposta foi curta e definitiva: não.

Curtis explicou que, na altura, era “uma miúda gira, espirituosa, com personalidade” e que provavelmente Stark a tinha visto numa festa e achado que poderia resultar no papel. Mas a mãe tinha outros planos. Janet Leigh queria, acima de tudo, que a filha tivesse algo raro em Hollywood: uma infância normal.

Hoje, olhando para trás, Curtis reconhece que essa decisão foi fundamental. Não apenas para a sua saúde emocional, mas para o percurso artístico que viria a construir com tempo, maturidade e escolhas conscientes.

Uma protecção que nem todos tiveram

Durante a conversa, Curtis fez questão de sublinhar que nem todas as crianças-actoras tiveram essa protecção. A observação foi particularmente sensível por estar a falar com Drew Barrymore, cuja infância em Hollywood foi tudo menos tranquila.

Segundo Curtis, a mãe sempre acreditou que a experiência de vida devia vir antes da exposição mediática. E isso permitiu-lhe chegar ao cinema já adulta, preparada para lidar com a pressão, o escrutínio e os riscos da indústria.

O papel que marcou outra carreira

O papel de Regan acabou por ir para Linda Blair, que tinha apenas 14 anos quando protagonizou O Exorcista. A performance tornou-se lendária, mas também trouxe consigo uma carga psicológica pesada, frequentemente associada à intensidade do filme e à forma como o público passou a olhar para a atriz.

Blair regressaria à personagem na sequela Exorcist II: The Heretic (1977) e, anos mais tarde, brincaria com a fama do papel numa paródia com Leslie Nielsen. Ainda assim, a marca deixada por Regan nunca desapareceu totalmente da sua carreira.

Um “e se” que correu pelo melhor

No caso de Jamie Lee Curtis, a recusa de Janet Leigh acabou por empurrá-la para outro destino dentro do mesmo género. Em Halloween, Curtis redefiniu o conceito de “final girl”, tornando-se um símbolo do cinema de terror moderno — mas já adulta, consciente e dona do seu percurso.

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Hoje, vencedora de um Óscar e com uma carreira que atravessa décadas e géneros, Curtis olha para trás e não tem dúvidas: começar a carreira com O Exorcista aos 12 anos poderia ter mudado tudo. E não necessariamente para melhor.

Às vezes, em Hollywood, o maior acto de amor é mesmo saber dizer não.

X-Men em Cena: Trailer Furtivo de Avengers: Doomsday Finalmente Acende o Entusiasmo dos Fãs

Durante meses, Avengers: Doomsday foi alvo de expectativa moderada, envolta numa estratégia de marketing curiosamente discreta para um dos filmes mais decisivos do futuro do Universo Cinematográfico da Marvel. Mas isso mudou nas últimas horas. Um novo trailer — desta vez centrado nos X-Men — começou a circular online em versões gravadas dentro de salas de cinema e, pela primeira vez, o entusiasmo parece genuíno.

Não é a estreia oficial que a Marvel gostaria, mas é a que está a funcionar.

Tal como aconteceu com os trailers dedicados a Steve Rogers e Thor, a Disney continua a apostar na exibição exclusiva em sala. O problema é que, em 2025, essa exclusividade dura minutos. O resultado? Imagens tremidas, som imperfeito… e uma avalanche de reacções entusiasmadas.

O regresso simbólico dos X-Men

O trailer é dominado por uma sequência inesperadamente contida: Professor X e Magneto jogam xadrez, num claro eco visual e temático do cinema clássico dos mutantes. Professor X surge com um casaco azul marcado pelo icónico “X” vermelho e preto, enquanto Magneto aparece com cabelo comprido e barba desgrenhada, transmitindo desgaste, luto e convicção.

Em voz-off, Magneto profere uma frase que define o tom do filme:

“A morte chega a todos nós. A questão não é se estás preparado para morrer, mas quem és quando fechas os olhos.”

É um discurso grave, quase filosófico, que contrasta com a leveza de muitos momentos recentes do MCU — e isso, só por si, já diz muito.

O momento que incendiou a internet

Mas o verdadeiro ponto de ruptura surge segundos depois.

Um Cyclops devastado pela dor aparece em pleno ecrã, vestido com o clássico uniforme azul e amarelo inspirado directamente em X-Men ’97. Sem visor. Sem contenção. Um disparo óptico massivo rasga o céu.

É um plano curto, mas suficiente para provocar algo raro nos últimos anos da Marvel: reacção visceral.

Durante décadas, Cyclops foi tratado como personagem secundária no cinema. Aqui, surge finalmente como líder trágico, poderoso e emocionalmente carregado. Para muitos fãs, este único momento vale mais do que trailers inteiros de filmes anteriores.

Entre o cânone e o multiverso

Embora a estética remeta directamente para X-Men ’97, a série animada nunca fez parte do cânone oficial do MCU. Mas estamos em plena saga do multiverso — e, neste território narrativo, quase tudo é possível.

Os X-Men confirmados no filme incluem:

  • Professor X
  • Magneto
  • Cyclops
  • Nightcrawler
  • Beast
  • Mystique
  • Gambit

Faltam nomes óbvios, desde logo Wolverine, cuja versão interpretada por Hugh Jackman já regressou ao MCU. Ainda assim, tudo aponta para que Doomsday funcione mais como uma ponte do que como ponto de chegada.

O grande confronto entre Vingadores e X-Men deverá ter consequências mais profundas em Avengers: Secret Wars, onde se espera já uma nova geração de mutantes — mais jovem, mais integrada e definitivamente pensada para o futuro da Marvel.

Mais do que nostalgia

O aspecto mais interessante deste trailer não é apenas o fan service. É o tom. Há peso dramático, conflito ideológico e uma sensação clara de que estes personagens não estão ali apenas para um cameo.

A ideia de um confronto entre X-Men e Vingadores parece apontar para um clássico “mal-entendido multiversal”, mas a duração e o foco do trailer sugerem algo mais substancial. Não se trata apenas de aparecer, lutar e desaparecer.

Um raro sinal de esperança

Depois de anos de hesitação estratégica, Avengers: Doomsday dá finalmente sinais de saber o que quer ser. E, talvez mais importante, de perceber o que o público quer sentir.

Se aquele disparo de Cyclops é um indicador do caminho criativo que a Marvel pretende seguir, então — pela primeira vez em muito tempo — há razões para acreditar que isto pode resultar.

Agora resta esperar pelo próximo trailer. Diz-se que será centrado em Doctor Doom. Se mantiver este nível de ambição, talvez o MCU esteja finalmente a reencontrar o seu rumo.

Os Números Não Enganam: Eis o Verdadeiro Motivo do Cansaço do Universo Marvel (E Como Ainda Pode Ser Salvo)

Desde a estreia de Avengers: Endgame em 2019, o Universo Cinematográfico da Marvel vive numa espécie de ressaca prolongada. O filme, que arrecadou uns impressionantes 2,8 mil milhões de dólares em todo o mundo, não foi apenas o culminar de uma saga — para muitos espectadores, funcionou também como um ponto final emocional. A partir daí, algo mudou.

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É verdade que ainda surgiram fenómenos pontuais, como Spider-Man: No Way Home ou o mais recente Deadpool & Wolverine, mas esses sucessos tornaram-se excepções num percurso cada vez mais irregular. A própria promoção de Avengers: Doomsday assume isso sem pudor, apostando forte na nostalgia e no regresso de figuras clássicas como Steve Rogers, interpretado por Chris Evans. A mensagem é clara: os novos heróis ainda não chegaram ao mesmo patamar emocional.

O problema não é só “demasiado conteúdo”

Internamente, a explicação oficial aponta para a chamada “diluição da marca”. Bob Iger já admitiu que a avalanche de séries e filmes associados ao Disney+ pode ter enfraquecido o impacto do MCU. Há verdade nisso, mas os números revelam algo ainda mais preocupante.

Quando se analisam os intervalos entre a primeira, segunda e terceira aparição dos heróis nas diferentes fases do MCU, o padrão é evidente: os personagens das Fases 1 a 3 regressavam muito mais depressa, permitindo ao público criar laços, acompanhar arcos narrativos e investir emocionalmente.

Nas Fases 1 a 3, o intervalo médio entre a estreia de um herói e o seu regresso rondava dois anos. Já na Fase 4, esse intervalo sobe para mais de três anos, com ainda mais tempo entre a segunda e a terceira aparição — quando esta acontece.

Novos heróis apresentados… e abandonados

Este atraso tem consequências claras. O público conhece uma nova personagem, simpatiza com ela, e depois… espera. Durante anos. Em alguns casos, sem qualquer sinal de continuidade.

Shang-Chi, interpretado por Simu Liu, é talvez o exemplo mais gritante. Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings foi um sucesso em plena pandemia, mas o herói só voltará ao grande ecrã seis anos depois, em Avengers: Doomsday. Seis anos é uma eternidade na cultura popular contemporânea.

O mesmo sucede com Kate Bishop, vivida por Hailee SteinfeldHawkeye teve uma recepção muito positiva, mas desde 2021 não houve qualquer desenvolvimento concreto da personagem em imagem real.

Até projectos televisivos sofreram do mesmo mal. Houve três anos de espera entre WandaVision e a série centrada em Agatha Harkness, e quase o mesmo com Ironheart, cuja série ficou concluída muito antes de finalmente ver a luz do dia.

A excepção que confirma a regra

Curiosamente, há uma personagem da Fase 4 que parece ter beneficiado de uma estratégia mais próxima do “velho” MCU: Yelena Belova, interpretada por Florence Pugh. A sua presença em Black Widow e Hawkeye no mesmo ano ajudou a solidificar a personagem, criando continuidade e empatia. Ainda assim, só quatro anos depois voltou a assumir um papel central em Thunderbolts.

Não é coincidência que seja uma das poucas novas figuras que realmente ganhou peso cultural.

O que a Marvel parece ter esquecido

O erro da Marvel não foi apenas apresentar demasiados heróis. Foi apresentá-los e não os acompanhar. O público não cria ligação emocional com personagens descartáveis ou intermitentes. Iron Man, Captain America ou Thor não se tornaram ícones por acaso: regressavam regularmente, cruzavam-se com outros heróis e evoluíam diante dos nossos olhos.

Com Avengers: Secret Wars no horizonte e a inevitável chegada dos X-Men a preparar uma nova saga, o risco repete-se. Se a Marvel não reaprender a investir tempo nas personagens que cria, continuará a viver de memórias em vez de construir o futuro.

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Menos lançamentos pode ser uma boa decisão. Mas menos pressa e mais continuidade será, provavelmente, a única forma de devolver ao MCU a relevância emocional que já teve.

James Cameron Promete Contar o Final de Avatar Nem Que Seja Numa Conferência de Imprensa

Há realizadores persistentes. E depois há James Cameron.

Depois de 16 anos dedicados quase exclusivamente ao universo de Avatar, Cameron deixou claro que a história de Pandora vai ser concluída, aconteça o que acontecer — nem que para isso tenha de subir a um púlpito, abrir um microfone e explicar, ponto por ponto, o destino dos Na’vi, de Eywa e de todas as tribos que entretanto inventou.

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A declaração surgiu numa entrevista recente, onde o realizador afirmou que, mesmo no cenário improvável de Avatar: Fire and Ash não gerar receitas suficientes para justificar os planeados Avatar 4 e Avatar 5ele revelaria publicamente todo o final da saga numa conferência de imprensa. Sem metáforas. Sem rodeios. Palavra por palavra.

A afirmação soa quase absurda — mas, vinda de Cameron, é apenas mais um capítulo numa carreira marcada por obsessão criativa, perfeccionismo extremo e uma confiança inabalável nas histórias que quer contar.

Um medo que, na prática, não existe

Na realidade, tudo indica que Cameron nunca terá de cumprir essa promessaAvatar: Fire and Ash arrecadou cerca de 500 milhões de dólares na primeira semana em cartaz, um valor inferior aos anteriores capítulos, mas ainda assim esmagador quando comparado com a esmagadora maioria dos filmes produzidos em Hollywood.

O fascínio global por Pandora, pelas ligações neurais com árvores, criaturas voadoras gigantes e baleias espaciais com consciência espiritual continua claramente intacto. A probabilidade de a Disney retirar o apoio à conclusão da saga é, neste momento, praticamente nula.

Ainda assim, há algo de fascinante na imagem de Cameron disposto a explicar todo o arco narrativo de Avatar à força da palavra, caso o cinema lhe fosse negado.

A mitologia que não cabe num slide

Parte do encanto desta ideia reside no próprio homem. Cameron não é conhecido por simplificar conceitos. Pelo contrário: a mitologia de Avatar cresce a cada filme, acumulando nomes de clãs, variações culturais, criaturas, sistemas espirituais e relações ecológicas cada vez mais complexas.

A simples hipótese de o realizador tentar organizar tudo isto numa conferência levanta questões legítimas:

— Usaria um PowerPoint?

— Precisaria de diagramas para distinguir Omatikaya, Metkayina e Mangkwan?

— Confundiria algum Toruk com um Tulkun a meio da explicação?

Ou, mais provavelmente, Cameron avançaria confiante, apoiado apenas na convicção absoluta de que Eywa quis assim, e que o público é que ainda não percebeu totalmente a grandiosidade do plano.

Uma obsessão assumida

Brincadeiras à parte, esta declaração revela algo essencial sobre Cameron: Avatar não é apenas uma franquia, é um projecto de vida. Ao contrário de muitas sagas planeadas em função de resultados trimestrais, esta foi concebida desde o início como uma narrativa fechada, com princípio, meio e fim.

Cameron já demonstrou noutras fases da carreira — de Titanic a The Abyss — que não abdica facilmente das histórias que sente que precisa de contar. E, se for necessário, fá-lo-á fora do grande ecrã.

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Mas, sejamos honestos: enquanto houver espectadores dispostos a ver humanos azuis ligados a árvores cósmicas durante três horas, James Cameron não vai precisar de púlpitos nem microfones improvisados.

Pandora continuará. Eywa continuará. E Cameron também.

“The Institute”: a série de Stephen King que começou na HBO Max e continua a conquistar público no Prime Video

As adaptações de Stephen King continuam a encontrar no formato televisivo um terreno particularmente fértil — e The Institute é mais um exemplo claro disso. A série, baseada no romance homónimo publicado em 2019, estreou originalmente na HBO Max, estando actualmente disponível também no Prime Video, incluindo em Portugal, onde tem vindo a ganhar novo fôlego junto do público.

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Longe de ser apenas mais uma história sobre crianças com poderes especiais, The Institute mergulha num dos territórios mais desconfortáveis da obra de King: o abuso de poder institucional, a instrumentalização do medo e a ideia de que fins supostamente nobres podem justificar meios profundamente desumanos.

Um pesadelo muito próximo da realidade

A narrativa centra-se em Luke Ellis, um adolescente dotado de capacidades telecinéticas que é raptado e levado para uma instalação secreta conhecida apenas como “o Instituto”. Nesse local, crianças com talentos fora do comum são sujeitas a experiências brutais, sob o pretexto de estarem a contribuir para a segurança do mundo.

Como é habitual no universo de King, o verdadeiro horror não reside apenas nos poderes sobrenaturais, mas sobretudo na frieza burocrática com que o sofrimento é normalizado. O Instituto funciona como uma máquina bem oleada, onde a crueldade é apresentada como necessidade estratégica.

À medida que Luke compreende a verdadeira dimensão do que ali acontece, começa a organizar uma resistência silenciosa com outras crianças, num jogo perigoso entre submissão aparente e rebelião interior.

Alterações felizes em relação ao romance

Um dos aspectos mais elogiados da adaptação televisiva foi a forma como reorganizou a estrutura narrativa do livro. A personagem de Tim Jamieson, um antigo polícia interpretado por Ben Barnes, surge desde cedo integrada na trama principal, aproximando o seu percurso dos acontecimentos no Instituto.

Esta decisão elimina a dispersão geográfica presente no romance e confere maior urgência dramática à série, permitindo um cruzamento mais eficaz entre os diferentes núcleos narrativos.

No elenco destaca-se ainda Mary Louise Parker, cuja presença acrescenta ambiguidade moral a uma história onde raramente existem vilões unidimensionais.

Uma série que cresce com o tempo

Embora a recepção crítica tenha sido dividida aquando da estreia, The Institute revelou uma notável capacidade de permanência. Após a sua chegada ao Prime Video, a série encontrou um novo público, beneficiando de um contexto de visualização mais descontraído e de um interesse renovado pelas adaptações de Stephen King em formato seriado.

Com oito episódios na primeira temporada, a série constrói a tensão de forma gradual, apostando mais no desconforto psicológico do que no choque imediato. É uma abordagem que pode não agradar a todos, mas que se revela coerente com o material de origem.

O sucesso sustentado levou à confirmação de uma segunda temporada, sinal claro de que a história de Luke Ellis ainda tem muito para revelar — e que o público continua disposto a enfrentar este pesadelo cuidadosamente encenado.

Stephen King em modo clássico

The Institute não é uma série para consumo apressado. É um regresso ao Stephen King mais político, mais inquietante e menos interessado em soluções fáceis. Num mundo cada vez mais obcecado com controlo, vigilância e segurança a qualquer custo, a série soa menos a ficção científica e mais a aviso.

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Disponível em Portugal tanto na HBO Max como no Prime VideoThe Institute afirma-se como uma das adaptações televisivas mais sólidas e desconfortáveis do autor nos últimos anos — e uma prova de que o verdadeiro terror, muitas vezes, não precisa de monstros visíveis.

Morreu Brigitte Bardot, Ícone Absoluto do Cinema Francês, aos 91 Anos

A morte de Brigitte Bardot, aos 91 anos, assinala o desaparecimento de uma das figuras mais marcantes — e contraditórias — da história do cinema europeu. Atriz, musa, símbolo sexual, fenómeno mediático global e, mais tarde, ativista radical pelos direitos dos animais, Bardot foi muito mais do que uma estrela: foi um choque cultural à escala mundial.

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Apesar de se ter afastado do cinema há mais de meio século, a sua imagem continuou a atravessar gerações. O simples uso das iniciais “BB” tornou-se sinónimo de liberdade, provocação e uma feminilidade que desafiou frontalmente os códigos morais da década de 1950. A sua consagração chegou com E Deus Criou a Mulher, realizado por Roger Vadim, um filme que escandalizou plateias e transformou Bardot numa estrela planetária, numa altura em que Hollywood ainda vivia sob forte censura moral.

Nascida em Paris em 1934, Brigitte Anne-Marie Bardot teve formação em ballet, entrou cedo no mundo da moda e rapidamente despertou a atenção do cinema. Os primeiros anos foram marcados por filmes de sucesso irregular, mas a sua presença mediática — sobretudo em Cannes — já era avassaladora. A partir do final dos anos 1950, Bardot tornou-se o rosto de uma nova Europa culturalmente libertária, eclipsando fronteiras linguísticas e rivalizando em notoriedade com estrelas americanas como Marilyn Monroe.

A década de 1960 consolidou o seu estatuto artístico. Trabalhou com realizadores como Henri-Georges ClouzotLouis Malle e Jean-Luc Godard, destacando-se em filmes como La vérité e O Desprezo. Paradoxalmente, quanto maior era o reconhecimento artístico, mais insuportável se tornava para ela o peso da fama. A perseguição obsessiva dos paparazzi e uma vida pessoal permanentemente exposta acabariam por empurrá-la para uma retirada precoce.

Em 1973, aos 38 anos, Bardot abandona definitivamente o cinema. O gesto foi radical e sem regresso. Refugiou-se em La Madrague, em Saint-Tropez, e iniciou aquilo que considerava a “segunda vida”: uma dedicação absoluta à defesa dos animais. Fundou a Fundação Brigitte Bardot e tornou-se uma das vozes mais influentes — e controversas — do ativismo animal na Europa, denunciando práticas como a caça às focas, a experimentação animal e o uso de peles.

Esse mesmo radicalismo marcou também o lado mais sombrio do seu legado. As posições políticas extremadas, declarações contra imigração, o Islão e minorias, valeram-lhe várias condenações judiciais por incitamento ao ódio racial e um progressivo afastamento do consenso público. Bardot nunca recuou. Pelo contrário, assumiu sempre a coerência entre as suas convicções e o isolamento que elas implicavam.

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A sua morte fecha um capítulo essencial da história do cinema francês e europeu. Brigitte Bardot foi simultaneamente libertação e polémica, arte e escândalo, ícone cultural e figura fraturante. Poucas estrelas ousaram viver — e pagar — com tamanha intensidade a liberdade que reivindicavam.