Alec Baldwin, o Peso Invisível de Rust e a Ferida que Não Fecha em Hollywood

Mais de três anos depois do trágico incidente ocorrido no set de RustAlec Baldwin voltou a falar abertamente sobre o impacto profundo que o episódio teve na sua vida — não apenas a nível profissional, mas sobretudo no plano psicológico, emocional e familiar. As palavras do actor revelam uma ferida que permanece aberta e ajudam a compreender o peso humano por detrás de um dos casos mais traumáticos da história recente de Hollywood.

Durante uma conversa num podcast dedicado a temas de saúde mental e dependência, Baldwin admitiu ter atravessado um período de depressão severa após a morte da directora de fotografia Halyna Hutchins, baleada mortalmente em Outubro de 2021, durante um ensaio com uma arma de fogo que deveria conter apenas munições de segurança. O actor, hoje com 67 anos, revelou que chegou a ter pensamentos suicidas e que sentiu a sua vida “encurtar pelo menos dez anos” desde aquele dia.

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O relato é particularmente duro quando Baldwin fala do impacto nos filhos e na esposa. Pai de oito crianças, o actor descreve momentos em que se sentava isolado, incapaz de reagir, enquanto os filhos o observavam sem compreenderem plenamente o que se passava. A dor, segundo o próprio, não foi apenas pessoal: estendeu-se à família, aos irmãos, aos colegas de profissão e a todos os que estavam ligados ao projecto Rust.

Baldwin reconhece que o trauma o afectou “em todos os aspectos”: espiritual, financeiro, profissional e emocional. A carreira, que durante décadas foi marcada por uma presença constante no cinema e na televisão, ficou subitamente suspensa, envolta num processo judicial mediático e numa exposição pública implacável. Mesmo depois de as acusações de homicídio involuntário terem sido arquivadas em 2024, a marca emocional do caso manteve-se.

O actor voltou a reiterar que nunca puxou o gatilho da arma e que confiava nos procedimentos de segurança do set, sublinhando que existiam profissionais responsáveis pela verificação do armamento. Ainda assim, a absolvição judicial não trouxe o alívio psicológico que muitos poderiam esperar. Baldwin descreve uma luta diária para encontrar forças para continuar, confessando que houve momentos em que apenas a fé o impediu de “não acordar no dia seguinte”.

O caso Rust tornou-se um ponto de viragem na discussão sobre segurança nos sets de filmagem, mas também abriu um debate mais amplo sobre saúde mental em Hollywood — especialmente quando tragédias ocorrem fora do controlo directo dos actores envolvidos. O testemunho de Alec Baldwin não procura absolvição pública nem dramatização gratuita; é, acima de tudo, um retrato cru de alguém a tentar sobreviver ao peso de um acontecimento irreversível.

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Num meio frequentemente acusado de superficialidade, estas declarações lembram que, por detrás das figuras públicas, existem pessoas confrontadas com culpa, luto e sofrimento prolongado. E que, mesmo quando a justiça fecha um processo, as consequências humanas podem nunca desaparecer por completo.

Judd Apatow, a Comédia Como Arma Política e o Mistério do Silêncio de Trump sobre South Park

Ao longo de décadas, Judd Apatow construiu uma carreira marcada pela sensibilidade emocional, pela comédia de personagens imperfeitas e por um profundo respeito pela história do humor americano. Mas nos últimos anos, o realizador, argumentista e produtor tem-se mostrado cada vez mais interessado num outro papel da comédia: o de instrumento de resistência, sátira e confronto directo com o poder.

Essa reflexão ganha novo fôlego com Comedy Nerd, o seu mais recente livro, e com as conversas que tem mantido sobre o estado actual da comédia num contexto político cada vez mais tenso. Entre esses temas, há um que se destaca pela sua estranheza: o silêncio absoluto de Donald Trump perante as representações devastadoras que South Park tem feito da sua figura.

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Para Apatow, esse silêncio não é inocente nem acidental. Pelo contrário, é estratégico. Enquanto Trump reage quase instintivamente a críticas vindas de programas de “late night”, redes sociais ou comentadores políticos, opta por não tocar num fenómeno cultural que sabe ser particularmente perigoso: uma sátira que não escolhe lados, que ridiculariza tanto a esquerda como a direita e que é consumida, ironicamente, por muitos dos seus próprios eleitores.

A força de South Park, criado por Trey Parker e Matt Stone, reside precisamente aí. Ao contrário da comédia política tradicional, que funciona em ciclos rápidos e previsíveis, a série constrói episódios que desmontam estruturas de poder, expõem corrupção sistémica e atacam o capitalismo de compadrio com uma sofisticação narrativa rara. Apatow acredita que qualquer reacção pública de Trump só serviria para amplificar essa crítica e levar ainda mais espectadores até ela.

Este debate encaixa-se numa visão mais ampla que Apatow tem sobre a história da comédia. No seu trabalho recente, incluindo os documentários dedicados a Mel BrooksGeorge Carlin ou Garry Shandling, o cineasta sublinha como o humor sempre foi uma ferramenta para expor abusos de autoridade, desmontar figuras intocáveis e dizer verdades que outros discursos não conseguem.

Para Apatow, a comédia não perde relevância quando incomoda — pelo contrário, cumpre exactamente a sua função. O que o preocupa é a concentração crescente de poder mediático e a possibilidade de vozes incómodas serem progressivamente silenciadas de forma discreta, sem polémica pública, sem protestos visíveis. Nesse contexto, South Parksurge como uma excepção quase anacrónica: um espaço onde a sátira continua feroz, independente e impossível de domesticar.

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Num tempo em que muitos humoristas sentem a pressão de se autocensurarem ou de suavizarem o discurso, Judd Apatow vê na série animada um lembrete essencial: a comédia, quando é verdadeiramente livre, continua a ser uma das formas mais eficazes de enfrentar o poder — precisamente porque o ridiculariza onde mais dói.

Jennifer Lopez, Natal em Modo Calmo: Entre o Passado com Affleck e o Presente Rodeado de Afectos

Depois de dias marcados por rumores, reencontros inesperados e inevitáveis leituras mediáticas, Jennifer Lopez optou por passar o Natal longe do ruído exterior, num registo intimista, acolhedor e surpreendentemente simples. A cantora e actriz escolheu celebrar a quadra rodeada de amigos próximos e familiares, num ambiente que privilegiou o conforto, a proximidade e a ideia de casa como refúgio.

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As imagens partilhadas mostram uma Jennifer Lopez descontraída, vestida com pijamas às riscas em tons de rosa e branco, cabelo apanhado e maquilhagem mínima — um visual distante do glamour habitual das passadeiras vermelhas, mas profundamente alinhado com o espírito da ocasião. O espaço onde decorreu a celebração reforça essa sensação de recolhimento: uma árvore de Natal elegantemente decorada em dourado e blush, luzes suaves, velas, mantas e presentes cuidadosamente dispostos, compondo um cenário quase cinematográfico de Natal contemporâneo.

Em várias fotografias, Lopez surge sentada no chão, junto à árvore, sorridente e visivelmente confortável no meio do seu círculo mais próximo. Noutras, aparece reclinada num sofá, rodeada por amigos vestidos de forma semelhante, como se a noite tivesse sido pensada mais como uma reunião informal do que como um evento. É um Natal sem excessos, sem pose e sem necessidade de afirmação pública — algo que, vindo de uma das figuras mais mediáticas do entretenimento global, acaba por ser particularmente revelador.

Este momento de tranquilidade surge poucos dias depois de Jennifer Lopez ter sido vista na companhia do ex-marido Ben Affleck, num encontro casual que rapidamente reacendeu especulações. O reencontro aconteceu durante uma tarde de compras em Los Angeles, na companhia de Samuel, o filho mais novo de Affleck. O trio passou por várias lojas antes de almoçar num espaço bastante conhecido da zona, num ambiente descrito como descontraído e sem demonstrações públicas de intimidade.

Apesar da atenção mediática em torno desse encontro, tudo indica que o Natal foi vivido num plano completamente distinto. Fontes próximas referem que Lopez seguiu o seu caminho após o almoço, sem prolongar o convívio, reforçando a ideia de que o reencontro foi cordial, mas não necessariamente carregado de significado emocional. Situação semelhante terá ocorrido pouco tempo antes, quando Lopez, Affleck e Jennifer Garner coincidiram num evento escolar dos filhos, onde o contacto entre os adultos foi mínimo.

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Neste contexto, o Natal vivido por Jennifer Lopez assume quase um valor simbólico. Não como resposta directa aos rumores, mas como afirmação silenciosa de um presente vivido com estabilidade emocional, longe de narrativas românticas forçadas ou leituras simplistas. Entre o passado que insiste em reaparecer e um presente cuidadosamente protegido, Lopez parece ter escolhido a única coisa verdadeiramente inegociável: estar bem, rodeada das pessoas certas, no tempo certo.

Quatro Filmes, Quatro Olhares: Janeiro de Cinema de Autor no Cine-Teatro Avenida

O início de 2026 traz consigo uma proposta cinematográfica sólida e exigente no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, que aposta em quatro filmes de forte identidade autoral e reconhecido relevo no panorama internacional contemporâneo. A programação de janeiro confirma uma linha curatorial coerente, centrada no cinema de autor europeu e norte-americano, com obras que exploram o trauma, a memória, o reencontro e a reconstrução pessoal e colectiva.

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O ciclo arranca a 7 de janeiro com Onde Aterrar, do realizador norte-americano Hal Hartley. A comédia, de tom assumidamente existencial, acompanha um realizador aposentado que se vê confrontado com os equívocos, projeções e mal-entendidos daqueles que o rodeiam. Fiel ao estilo minimalista e irónico de Hartley, o filme propõe uma reflexão sobre identidade, envelhecimento e a forma como somos lidos pelos outros num mundo que raramente escuta com atenção.

13 de janeiro, chega ao ecrã Pequenos Clarões, da realizadora espanhola Pilar Palomero. Trata-se de um drama intimista centrado em reencontros familiares, no cuidado prestado aos outros e nas memórias que permanecem por resolver. Com uma abordagem sensível e contida, o filme inscreve-se numa tradição de cinema emocionalmente rigoroso, onde os silêncios e os pequenos gestos assumem um peso narrativo determinante.

No dia 20 de janeiro, é exibido Justa, da cineasta portuguesa Teresa Villaverde. Inspirado na tragédia dos incêndios de Pedrógão Grande, o filme acompanha várias personagens num território marcado pela perda, pelo luto e pela difícil tentativa de reconstrução. Sem recorrer a dramatismos fáceis, Justa propõe um olhar humanista sobre uma ferida colectiva ainda aberta, cruzando experiências individuais com uma dimensão social e política profundamente enraizada na realidade portuguesa recente.

A programação encerra a 27 de janeiro com Miroirs Nº 3, do realizador alemão Christian Petzold. O filme explora as consequências do trauma e as relações humanas construídas a partir do acolhimento e da partilha. Petzold volta a demonstrar a sua mestria na construção de narrativas psicológicas densas, onde a identidade se reconstrói lentamente através do contacto com o outro e da aceitação da fragilidade.

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Todas as sessões decorrem no Cine-Teatro Avenida, sempre às 18h00 e 21h30, com classificação etária M/12. O bilhete tem o custo de 4,00 euros, estando prevista uma oferta especial na compra de três ingressos, com direito ao quarto bilhete gratuito. Uma programação que reforça o papel do Cine-Teatro Avenida como espaço de resistência cultural e de promoção de um cinema exigente, reflexivo e profundamente humano.  

Val Kilmer: Talento Incandescente, Ego Indomável e a Carreira Que Hollywood Nunca Soube Domar

Durante décadas, Val Kilmer foi sinónimo de intensidade absoluta. Um actor de entrega total, obsessivo com o processo, frequentemente brilhante em cena — e, fora dela, notoriamente difícil. A sua trajectória é uma das mais fascinantes de Hollywood: um talento raro que atingiu o estrelato muito cedo, mas que pagou um preço elevado por nunca ter aprendido a jogar o jogo da indústria.

Kilmer formou-se na prestigiada Juilliard School, onde entrou com apenas 17 anos, sendo um dos alunos mais jovens de sempre. Desde início ficou claro que não era um intérprete “normal”. Tinha ambições teatrais, desprezava o vedetismo fácil e encarava a representação como um acto quase espiritual. Essa postura acompanhá-lo-ia por toda a carreira — para o bem e para o mal.

O grande salto para o estrelato chegou com Top Gun, onde interpretou o icónico Iceman. Apesar do sucesso estrondoso do filme, Kilmer nunca escondeu o seu desconforto com o projecto, que via como propaganda militar simplista. Ainda assim, roubou cenas a Tom Cruise com uma frieza calculada que o público nunca esqueceu. Era o início de uma reputação: Kilmer brilhava mesmo quando não queria.

Essa intensidade atingiu o auge em The Doors, onde encarnou Jim Morrison com um grau de imersão raríssimo. Cantou ele próprio todas as músicas, viveu como Morrison durante meses e exigiu que o elenco e a equipa técnica o tratassem como tal no set. O resultado foi uma das melhores interpretações biográficas dos anos 90 — mas também relatos de um ambiente de trabalho tenso e exaustivo. Para Kilmer, o sacrifício era inevitável; para Hollywood, começava a ser um problema.

O padrão repetiu-se. Em Batman Forever, Kilmer entrou em conflito com realizador, produtores e colegas. O actor odiava o fato, detestava a falta de profundidade psicológica da personagem e não escondeu o seu desinteresse. O filme foi um sucesso comercial, mas Kilmer foi afastado da sequela. O estúdio preferiu a previsibilidade à fricção criativa.

Curiosamente, no mesmo ano, Kilmer entregou uma interpretação magistral em Heat, de Michael Mann. Como Chris Shiherlis, provou que conseguia roubar atenção a monstros sagrados como Al Pacino e Robert De Niro com poucas falas e uma presença magnética. Mann, um realizador conhecido pela exigência, sempre defendeu Kilmer — talvez porque reconhecia nele o mesmo perfeccionismo obsessivo.

Mas Hollywood é uma cidade pequena, e a fama de “difícil” cola depressa. Ao longo dos anos, multiplicaram-se histórias de conflitos em rodagem, atrasos, confrontos verbais e uma inflexibilidade quase autodestrutiva. Kilmer não se adaptava a sistemas industriais, recusava compromissos fáceis e parecia genuinamente desinteressado em agradar. Enquanto outros actores do seu calibre aprenderam a equilibrar ego e diplomacia, Kilmer escolheu o confronto silencioso.

A partir dos anos 2000, os grandes papéis começaram a desaparecer. O talento permanecia intacto, mas a indústria já não tinha paciência. A doença agravou tudo: em 2015, foi diagnosticado com cancro da garganta, perdendo grande parte da capacidade vocal. Para um actor cuja voz era instrumento essencial, foi um golpe devastador.

Ainda assim, Kilmer encontrou uma forma de regressar — com dignidade. O documentário Val revelou um homem consciente dos seus erros, lúcido sobre a própria carreira e surpreendentemente sereno. Não há autopiedade nem revisionismo fácil. Há, sim, a aceitação de alguém que escolheu a arte acima da conveniência.

O seu regresso emocional em Top Gun: Maverick foi mais do que nostalgia: foi um acerto de contas com o passado, tratado com respeito e humanidade. Sem grandes discursos, Kilmer lembrou ao mundo porque foi, durante tanto tempo, um actor absolutamente singular.

Val Kilmer nunca foi fácil. Nunca quis ser. E talvez seja precisamente por isso que continua a fascinar. Num sistema que recompensa a docilidade e pune a diferença, Kilmer pagou caro por ser fiel a si próprio. Mas deixou um legado de interpretações intensas, imperfeitas e inesquecíveis — como ele.

O Génio Que Hollywood Aprendeu a Tolerar (Até Deixar de Conseguir): A Lenda e o Caos de Marlon Brando

Durante décadas, Marlon Brando foi tratado como uma força da natureza. Um actor revolucionário, um talento sísmico, o homem que mudou para sempre a forma como se representava no cinema. Mas, nos bastidores, Brando tornou-se também sinónimo de caos, imprevisibilidade e de uma pergunta que Hollywood foi adiando até ser tarde demais: até onde se pode tolerar o génio?

Nos anos 50, Brando era intocável. A Streetcar Named Desire, On the Waterfront e Viva Zapata! redefiniram a interpretação cinematográfica. O seu método era visto como intensidade pura, verdade emocional sem filtros. Os atrasos, as excentricidades e a recusa em obedecer a regras eram tolerados porque o resultado no ecrã era avassalador. O problema surgiu quando o comportamento deixou de ser excentricidade artística e passou a ser sabotagem activa de produções inteiras.

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O caso mais célebre é Apocalypse Now. Brando chegou às Filipinas com excesso de peso, sem ter lido o argumento e exigindo mudanças radicais no papel do coronel Kurtz. Recusava-se a ser filmado com luz total, improvisava longos monólogos e obrigou Francis Ford Coppola a reconstruir o filme à sua volta. O próprio Coppola admitiu mais tarde que Brando era simultaneamente um presente e uma ameaça constante à sobrevivência do projecto (fonte: Hearts of Darkness, documentário oficial).

Se Apocalypse Now ainda acabou como obra-prima, o mesmo não se pode dizer de The Island of Dr. Moreau. Aqui, Brando levou o descontrolo ao limite do absurdo: apareceu com um balde de gelo na cabeça, insistiu em ter um actor anão permanentemente ao seu lado e ignorava indicações básicas. O realizador original foi despedido, o substituto perdeu o controlo do filme e o resultado tornou-se um dos exemplos mais citados de colapso criativo em Hollywood (fonte: livro Lost Soul, de John Frankenheimer).

Ao longo dos anos, Brando passou a usar auriculares para que assistentes lhe ditassem falas em tempo real, recusava decorar textos e tratava o platô como um espaço que orbitava em torno dele. Ainda assim, durante muito tempo, ninguém ousou dizer “não”. Porque Brando não era apenas um actor: era um mito vivo.

Mas os mitos também cansam. A partir dos anos 90, os convites diminuíram drasticamente. O talento permanecia, mas o risco tornou-se demasiado elevado. Hollywood, pragmática como sempre, decidiu que já não compensava.

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Marlon Brando deixou uma herança contraditória. Inspirou gerações de actores, elevou o cinema a novos patamares… e mostrou como o culto do génio pode normalizar comportamentos que, noutras circunstâncias, seriam inaceitáveis. A pergunta que fica não é se Brando era brilhante — isso é indiscutível. A pergunta é: quanto do seu legado artístico teria sobrevivido sem o caos que o acompanhava?

Jimmy Kimmel usa a televisão britânica para um ataque natalício feroz a Donald Trump

“Do ponto de vista do fascismo, foi um grande ano”, ironizou o humorista no Channel 4

Jimmy Kimmel escolheu um palco improvável — e altamente simbólico — para lançar uma das críticas mais duras do ano a Donald Trump. O apresentador norte-americano foi o convidado da tradicional mensagem de Natal alternativa do Channel 4, no Reino Unido, onde deixou um discurso mordaz sobre autoritarismo, liberdade de expressão e o estado da democracia nos Estados Unidos durante o segundo mandato do presidente.

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Transmitida no dia de Natal, a intervenção integrou-se numa tradição iniciada em 1993, pensada como contraponto à habitual mensagem natalícia do monarca britânico. Ao longo dos anos, este espaço deu voz a figuras controversas e politicamente incómodas — e Kimmel correspondeu plenamente a essa herança.

Humor negro com alvo bem definido

Desde o início, o tom foi tudo menos conciliador. Kimmel acusou Trump de se comportar como um rei e alertou para o crescimento de tendências autoritárias, recorrendo a uma das frases mais citadas do discurso:

“Do ponto de vista do fascismo, este foi um ano realmente excelente. A tirania está em alta por aqui.”

A ironia serviu de porta de entrada para uma crítica mais ampla ao clima político nos Estados Unidos, com Kimmel a sublinhar que silenciar críticos não é uma prática exclusiva de regimes como a Rússia ou a Coreia do Norte — uma mensagem dirigida directamente ao público britânico.

Um discurso marcado por conflitos recentes

O contexto tornou a mensagem ainda mais carregada. Em Setembro, o programa Jimmy Kimmel Live! foi suspenso indefinidamente pela ABC após comentários polémicos do apresentador relacionados com o assassinato do activista conservador Charlie Kirk. Kimmel sugeriu que sectores ligados ao trumpismo estariam a tentar capitalizar politicamente a morte, o que desencadeou uma forte reacção.

Donald Trump celebrou publicamente a suspensão do programa, classificando-a como “grandes notícias para a América”, e chegou a defender o afastamento de outros apresentadores nocturnos. O episódio levantou preocupações generalizadas sobre liberdade de expressão e liberdade de imprensa, levando centenas de figuras de Hollywood e da indústria do entretenimento a apelar à defesa dos direitos constitucionais.

O programa regressaria ao ar menos de uma semana depois.

“Um milagre de Natal em Setembro”

Foi esse episódio que Kimmel descreveu perante a audiência britânica como um verdadeiro “milagre de Natal antecipado”. Segundo o humorista, milhões de pessoas — incluindo muitas que não apreciam o seu trabalho — manifestaram-se em defesa da liberdade de expressão.

“Nós ganhámos, o presidente perdeu, e agora estou de volta todas as noites a dar uma merecida reprimenda ao político mais poderoso do planeta”, afirmou, usando deliberadamente a expressão britânica bollocking para se aproximar do público do Reino Unido.

Um pedido de desculpa… e um aviso

No momento mais inesperado do discurso, Kimmel deixou o sarcasmo de lado e adoptou um tom quase contrito. Reconhecendo a histórica relação entre os Estados Unidos e o Reino Unido, pediu aos britânicos que não desistissem da América, descrevendo o país como estando “a passar por um grande abanão”.

Foi então que surgiu uma das declarações mais sombrias da noite:

“Nos Estados Unidos estamos, figurativa e literalmente, a destruir as estruturas da nossa democracia — da imprensa livre à ciência, da medicina à independência judicial, até à própria Casa Branca.”

A referência à demolição da Ala Este da Casa Branca funcionou como metáfora e realidade ao mesmo tempo. “Estamos numa grande confusão”, concluiu, antes de acrescentar um simples mas simbólico “desculpem”.

Uma mensagem que ultrapassou o humor

Mais do que um monólogo cómico, a intervenção de Jimmy Kimmel no Channel 4 assumiu-se como um discurso político directo, desconfortável e deliberadamente internacional. Sem rodeios nem neutralidade fingida, o apresentador usou o humor como arma para expor medos reais sobre o futuro da democracia — não apenas nos Estados Unidos, mas no impacto global das suas escolhas políticas.

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Num Natal tradicionalmente associado à conciliação, Kimmel optou pelo confronto. E foi precisamente isso que tornou a mensagem impossível de ignorar 📺🎄

Gwyneth Paltrow confundiu maquilhagem com realidade e aconselhou Timothée Chalamet… sem necessidade

Um episódio caricato nos bastidores de Marty Supreme mostra como a caracterização foi longe demais

Há momentos em bastidores de cinema que dizem muito sobre o rigor técnico de uma produção — e outros que acabam por gerar histórias deliciosamente embaraçosas. Foi precisamente isso que aconteceu durante os primeiros dias de rodagem de Marty Supreme, quando Gwyneth Paltrow ofereceu, com a melhor das intenções, conselhos de cuidados de pele a Timothée Chalamet… para um problema que afinal não existia.

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A situação surgiu porque a maquilhagem utilizada para criar marcas de acne no rosto da personagem de Chalamet era tão convincente que Paltrow assumiu tratar-se de cicatrizes reais. Numa atitude cordial — e muito alinhada com a sua imagem pública ligada ao bem-estar — a actriz sugeriu a técnica de micro-agulhamento (micro-needling) para ajudar a “tratar” as supostas marcas.

“Isto é maquilhagem. Está tudo bem com a minha pele”

A história foi contada pela própria Paltrow no podcast The Awardist, conduzido por Gerrad Hall. A actriz recordou que, ao aproximar-se de Chalamet, ficou genuinamente surpreendida.

Segundo Paltrow, sempre se lembrara do actor com “uma pele lindíssima” e ficou convencida de que aquelas marcas eram recentes. A reacção de Chalamet não se fez esperar — e foi tudo menos discreta.

“Ele olhou para mim e disse: ‘Mas estás doida? Isto é maquilhagem.’ Depois acrescentou: ‘Eu tenho boa pele.’”

Só então Paltrow percebeu o equívoco e pediu desculpa, reconhecendo que a caracterização era simplesmente irrepreensível. A actriz voltou a contar uma versão semelhante da história no podcast The Run-Through, da Vogue, sublinhando que a transformação física do actor era tão eficaz que enganava até quem estava frente a frente com ele.

Um filme que promete provocar conversa

O episódio ajuda a ilustrar o cuidado colocado em Marty Supreme, novo filme realizado por Josh Safdie, conhecido pelo seu cinema nervoso e personagens intensas. No filme, Paltrow interpreta Kay Stone, uma socialite rica e estrela de cinema em declínio, que desenvolve uma relação inesperada com Marty, um jovem prodígio do pingue-pongue interpretado por Chalamet.

Em entrevista à Vanity Fair, Paltrow já tinha deixado antever que a relação entre as duas personagens será tudo menos convencional. Segundo a actriz, trata-se de uma ligação emocionalmente complexa, marcada por interesses mútuos e bastante intimidade física.

“Há muito sexo neste filme. Muito mesmo.”

A descrição oficial do projecto apresenta Marty Supreme como a história de “um jovem com um sonho que ninguém respeita”, disposto a atravessar o inferno em busca da grandeza. Além de Chalamet e Paltrow, o elenco inclui Odessa A’zion, Kevin O’Leary, Tyler, The Creator, Abel Ferrara e Fran Drescher.

Quando a maquilhagem faz parte da narrativa

Mais do que uma anedota de bastidores, o episódio demonstra como o cinema contemporâneo aposta cada vez mais numa caracterização hiper-realista, capaz de alterar por completo a percepção de uma personagem — ao ponto de enganar colegas de elenco experientes.

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No caso de Marty Supreme, se até Gwyneth Paltrow acreditou que Timothée Chalamet precisava de cuidados dermatológicos, então a maquilhagem cumpriu plenamente a sua missão 🎬

Quentin Tarantino fala finalmente de Rob Reiner — e expõe a verdade incómoda sobre poder e controlo em Hollywood

Aos 62 anos, o realizador desmonta um sistema que poucos ousaram questionar

Durante grande parte da sua carreira, Quentin Tarantino nunca foi conhecido pela contenção. Sempre falou alto, discutiu ideias sem rodeios e defendeu a autoria como princípio absoluto. Criticou estúdios, desafiou convenções e expôs os mecanismos que, no seu entender, diluem a voz artística. Havia, contudo, um silêncio persistente no seu discurso público: Rob Reiner.

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Esse silêncio terminou agora.

Aos 62 anos, Tarantino decidiu falar — com cuidado, precisão e uma franqueza surpreendente — sobre um cineasta que ajudou a definir o cinema de estúdio norte-americano, mas cuja filosofia criativa se situava no extremo oposto da sua. O que resulta não é um ataque pessoal, mas algo mais desconcertante: uma explicação lúcida sobre como o poder criativo funcionou em Hollywood durante décadas… e porque quase ninguém o questionou.

Um silêncio que sempre foi revelador

Tarantino nunca evitou confronto. Se discorda, diz. Se admira, elogia sem reservas. Por isso, a ausência prolongada de comentários sobre Rob Reiner sempre pareceu estranha para quem acompanha de perto o funcionamento da indústria.

Ambos coexistiram no mesmo ecossistema, mas em pólos opostos. Reiner ajudou a consolidar um modelo de cinema centrado na clareza narrativa, no controlo do tom e na confiança dos estúdios. Tarantino impôs um cinema de risco, descoberta e fricção constante com o espectador. Nunca colaboraram, mas sempre fizeram parte da mesma conversa — uma conversa que, segundo Tarantino, foi muito mais complexa do que parecia.

“Rob Reiner representa um sistema”

A observação mais contundente de Tarantino não é pessoal, é estrutural: Rob Reiner representou um sistema que funcionou extremamente bem. E porque funcionou, ninguém o questionou.

Reiner não foi apenas um realizador eficaz. Tornou-se um símbolo de uma era em que os estúdios recompensavam previsibilidade, disciplina e fiabilidade comercial. Quem entregava resultados consistentes ganhava autoridade. Uma autoridade silenciosa, raramente contestada.

Controlo versus descoberta

Aqui surge a clivagem filosófica entre os dois cineastas. Para Tarantino, o cinema nasce da incerteza. Ele próprio admite que só descobre verdadeiramente o filme quando já está a meio do processo. Se soubesse tudo desde o início, não teria interesse em realizá-lo.

No cinema de Reiner, a lógica é oposta. O tom define-se cedo, o destino emocional é claro e as interpretações servem a história, não a subvertem. Nenhuma abordagem é errada — mas são difíceis de conciliar no mesmo sistema.

O poder que não precisa de se impor

Uma das revelações mais incisivas prende-se com a forma como o poder se manifesta nos bastidores. Segundo Tarantino, Reiner nunca precisou de impor autoridade pela força. O seu poder vinha da confiança absoluta dos estúdios e da certeza de que o filme não falharia.

É um poder eficaz precisamente porque não parece poder. Ninguém discute, porque discutir parece desnecessário — ou arriscado. Para um realizador que construiu a carreira a desafiar regras, esta constatação é particularmente pesada.

Respeito sem alinhamento

Apesar da análise crítica, Tarantino é claro: respeita Rob Reiner. Reconhece-lhe a capacidade de tornar relações complexas emocionalmente acessíveis e de levar conversas adultas ao grande público sem afastar espectadores.

Mas esse respeito nunca implicou vontade de imitação. Tarantino admite que nunca quis ser esse tipo de realizador — não por falta de talento de Reiner, mas porque esse sistema esmagaria a forma como ele cria.

Porque só fala agora

Porque esperar até agora? Tarantino responde sem rodeios: no início de carreira, qualquer crítica a figuras associadas ao poder do sistema seria vista como arrogância ou insegurança. Hollywood tolera rebeldia, mas apenas depois de o sucesso ser inquestionável.

Hoje, com a carreira consolidada e um percurso deliberadamente finito, Tarantino já não está a negociar posição. Está a contextualizar uma era.

Os filmes que nunca existiram

Uma das reflexões mais inquietantes prende-se com os projectos que nunca chegaram a existir. Tarantino observa que há filmes que só foram feitos porque ninguém percebeu o quão arriscados eram. Num sistema que privilegia certeza e previsibilidade, alguns desses projectos nunca teriam saído do papel.

Não é uma acusação. É uma constatação. O modelo de Reiner minimiza risco. O de Tarantino vive dele. Hollywood precisou de ambos — mas recompensou apenas um de forma consistente.

A indústria e o medo do caos

Hollywood sempre teve receio do caos. O caos atrasa produções, ameaça orçamentos e expõe reputações. A fiabilidade tornou-se o padrão de excelência. Se um realizador consegue agradar à maioria sem ofender ninguém, torna-se o par de mãos mais seguro da sala.

Mas segurança tem custos criativos.

O que Tarantino admite ter aprendido

Mesmo recusando seguir esse caminho, Tarantino reconhece aprendizagens importantes ao observar a carreira de Reiner: disciplina de tom, clareza narrativa e consciência absoluta da história que se quer contar. A diferença é simples — ele aprendeu as regras para as quebrar conscientemente.

Uma conversa evitada durante décadas

O que torna estas declarações tão desconfortáveis não é a crítica, mas a ausência de nostalgia. Tarantino fala de sistemas, incentivos e pressões silenciosas sem heróis nem vilões.

Rob Reiner não é diminuído. É recontextualizado — como a regra. E Tarantino tornou-se Tarantino precisamente por se recusar a segui-la.

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No final, não se expõe um escândalo. Expõe-se uma verdade sobre como o poder criativo opera, sobre porque algumas vozes dominam e outras lutam para existir. Uma explicação que não diminui nenhum dos dois — mas finalmente os torna compreensíveis.

Bailarina com dentes afiados: Abigail chega ao TVCine Top para uma noite de terror sem regras

Um rapto, uma mansão isolada… e uma vampira inesperada

O terror toma conta do serão de sábado, 27 de Dezembro, às 21h30, com a estreia televisiva de Abigail no TVCine Tope no TVCine+. Assinado pelo colectivo Radio Silence, o filme promete uma combinação explosiva de terror sangrento, humor negro e reviravoltas constantes — tudo concentrado numa única noite passada dentro de uma mansão isolada.  

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A premissa parece simples: um grupo de criminosos rapta uma bailarina de 12 anos, filha de um poderoso líder do submundo, e mantém-na sob vigilância durante 24 horas para exigir um resgate de 50 milhões de dólares. O plano é claro, metódico e, aparentemente, infalível. O problema é que Abigail não é uma criança indefesa.

Quando os raptores se tornam presas

À medida que a noite avança, a tensão cresce e a realidade começa a desfazer-se. A jovem revela a sua verdadeira natureza: é uma vampira ancestral, dotada de força sobre-humana, astúcia letal e um gosto particular por virar o jogo contra quem a subestima. O que deveria ser um sequestro rápido transforma-se numa luta claustrofóbica pela sobrevivência, onde os criminosos passam a ser caçados dentro da própria mansão.

O cenário fechado amplifica o terror, criando uma atmosfera opressiva onde cada divisão pode esconder uma armadilha e cada erro pode ser fatal. Abigail assume-se como um jogo cruel de gato e rato, pontuado por violência gráfica e surpresas constantes, recusando seguir o caminho previsível do género.

Radio Silence volta a subverter o terror

A realização está a cargo de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, dupla integrante do colectivo Radio Silence, responsável por filmes como Ready or Not – O Ritual e Gritos. Tal como nesses títulos, a abordagem é irreverente, energética e consciente das regras do terror — apenas para as quebrar quando convém.

Inspirado livremente em A Filha de DráculaAbigail moderniza o mito do vampiro com uma estética contemporânea, humor mordaz e uma violência estilizada que não pede desculpa.

Uma protagonista entre a inocência e a ferocidade

No centro do filme está a jovem Alisha Weir, que assume o papel de Abigail com uma performance surpreendentemente versátil. A actriz alterna entre a aparência frágil de uma criança em perigo e a ferocidade absoluta de uma criatura ancestral, tornando a personagem simultaneamente perturbadora e fascinante.

Essa ambiguidade é uma das grandes forças do filme: Abigail não é apenas uma ameaça física, mas um símbolo da arrogância dos adultos que acreditam controlar tudo — até perceberem que escolheram a vítima errada.

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error para fechar o ano em grande

Entre sangue, humor negro e criatividade visual, Abigail afirma-se como um filme de vampiros moderno, consciente do seu lado absurdo e disposto a levá-lo até às últimas consequências. Uma escolha perfeita para quem procura algo diferente do terror tradicional e não se importa de terminar o ano com dentes afiados e gargalhadas nervosas.

No dia 27 de Dezembro, às 21h30, a mansão abre as portas no TVCine Top. Entrar é fácil. Sair… já não tanto 🩸🎬

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