Mais de três anos depois do trágico incidente ocorrido no set de Rust, Alec Baldwin voltou a falar abertamente sobre o impacto profundo que o episódio teve na sua vida — não apenas a nível profissional, mas sobretudo no plano psicológico, emocional e familiar. As palavras do actor revelam uma ferida que permanece aberta e ajudam a compreender o peso humano por detrás de um dos casos mais traumáticos da história recente de Hollywood.
Durante uma conversa num podcast dedicado a temas de saúde mental e dependência, Baldwin admitiu ter atravessado um período de depressão severa após a morte da directora de fotografia Halyna Hutchins, baleada mortalmente em Outubro de 2021, durante um ensaio com uma arma de fogo que deveria conter apenas munições de segurança. O actor, hoje com 67 anos, revelou que chegou a ter pensamentos suicidas e que sentiu a sua vida “encurtar pelo menos dez anos” desde aquele dia.
ler também : Judd Apatow, a Comédia Como Arma Política e o Mistério do Silêncio de Trump sobre South Park
O relato é particularmente duro quando Baldwin fala do impacto nos filhos e na esposa. Pai de oito crianças, o actor descreve momentos em que se sentava isolado, incapaz de reagir, enquanto os filhos o observavam sem compreenderem plenamente o que se passava. A dor, segundo o próprio, não foi apenas pessoal: estendeu-se à família, aos irmãos, aos colegas de profissão e a todos os que estavam ligados ao projecto Rust.
Baldwin reconhece que o trauma o afectou “em todos os aspectos”: espiritual, financeiro, profissional e emocional. A carreira, que durante décadas foi marcada por uma presença constante no cinema e na televisão, ficou subitamente suspensa, envolta num processo judicial mediático e numa exposição pública implacável. Mesmo depois de as acusações de homicídio involuntário terem sido arquivadas em 2024, a marca emocional do caso manteve-se.
O actor voltou a reiterar que nunca puxou o gatilho da arma e que confiava nos procedimentos de segurança do set, sublinhando que existiam profissionais responsáveis pela verificação do armamento. Ainda assim, a absolvição judicial não trouxe o alívio psicológico que muitos poderiam esperar. Baldwin descreve uma luta diária para encontrar forças para continuar, confessando que houve momentos em que apenas a fé o impediu de “não acordar no dia seguinte”.
O caso Rust tornou-se um ponto de viragem na discussão sobre segurança nos sets de filmagem, mas também abriu um debate mais amplo sobre saúde mental em Hollywood — especialmente quando tragédias ocorrem fora do controlo directo dos actores envolvidos. O testemunho de Alec Baldwin não procura absolvição pública nem dramatização gratuita; é, acima de tudo, um retrato cru de alguém a tentar sobreviver ao peso de um acontecimento irreversível.
ler também : Val Kilmer: Talento Incandescente, Ego Indomável e a Carreira Que Hollywood Nunca Soube Domar
Num meio frequentemente acusado de superficialidade, estas declarações lembram que, por detrás das figuras públicas, existem pessoas confrontadas com culpa, luto e sofrimento prolongado. E que, mesmo quando a justiça fecha um processo, as consequências humanas podem nunca desaparecer por completo.


















