Quando Roger Moore Mudou de Ideias — e Tirou James Brolin do Caminho de James Bond

A história de James Bond está cheia de curiosidades, decisões de última hora e jogos de bastidores dignos do próprio MI6. Mas poucas são tão cruéis — e tão pouco conhecidas — como aquela que envolveu James Brolin e que acabou por mantê-lo fora de Octopussy. Um caso raro em que um actor chegou a ser escolhido, começou a preparar-se… e foi afastado simplesmente porque o titular decidiu regressar.

No início da década de 1980, a continuidade de Roger Moore como 007 estava longe de ser garantida. Após For Your Eyes Only (1981), tudo indicava que Moore iria finalmente despedir-se do papel que já interpretava desde Live and Let Die. Os produtores Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson começaram, discretamente, a procurar um sucessor.

E foi aí que James Brolin entrou em cena.

Um Bond improvável… mas quase oficial

À primeira vista, a escolha parecia improvável. Brolin era americano — algo que sempre causou resistência dentro da saga — mas vinha embalado pelo enorme sucesso de The Amityville Horror (1979). Tinha presença física, carisma e um perfil mais duro que agradava à equipa criativa, que pretendia manter um tom mais sério após o registo mais leve de Moore.

Segundo o próprio Brolin, em entrevista à People em 2025, o processo avançou de forma surpreendentemente concreta. Voou para Londres, reuniu-se com os produtores, foi integrado em treinos com duplos, recebeu alojamento… e foi, nas suas palavras, escolhido informalmente para o papel. Faltava apenas assinar o contrato.

Chegou mesmo a realizar um teste de câmara com Maud Adams, que viria a protagonizar Octopussy. O realizador John Glen descreveu o ensaio como “excelente”, sublinhando que Brolin levava o papel muito a sério e tinha entendido o tom pretendido para o novo Bond.

O telefonema que mudou tudo

Convencido de que iria passar um ano em Inglaterra, Brolin regressou a Los Angeles para organizar a sua vida. Foi então que recebeu o telefonema fatídico: Roger Moore tinha mudado de ideias.

Após negociações de bastidores — financeiras, criativas e estratégicas — Moore aceitou regressar para mais um filme. A decisão foi imediata e definitiva. Brolin estava fora. Sem contrato assinado, sem margem para contestação, sem direito a segunda oportunidade.

Como o próprio recorda, tudo terminou tão depressa como começou.

Porque é que Moore regressou?

Moore já tinha ultrapassado o número de filmes inicialmente previstos no seu contrato. Depois de The Spy Who Loved Me, passou a negociar filme a filme. Moonraker e For Your Eyes Only foram feitos nessas condições, e Octopussy surgiu num momento particularmente sensível para a franquia.

Em 1983, a saga enfrentava concorrência directa de Never Say Never Again, que marcava o regresso de Sean Connery ao papel, fora da continuidade oficial. Para a MGM, manter Moore era uma forma de assegurar estabilidade e reconhecimento imediato junto do público.

Além disso, como John Glen admitiu mais tarde, Cubby Broccoli nunca esteve totalmente confortável com a ideia de um Bond americano. Mesmo que Brolin tivesse convencido em câmara, a tradição acabou por pesar mais.

Um sucesso… e uma oportunidade perdida

Octopussy não é hoje lembrado como um dos grandes clássicos da saga, mas foi um enorme sucesso comercial e superou o rival protagonizado por Connery. Para Roger Moore, foi mais uma vitória. Para James Brolin, ficou a sensação agridoce de ter estado a centímetros da imortalidade cinematográfica.

É um daqueles casos em que o destino de Hollywood se decide num simples “vou fazer mais um”. Um gesto aparentemente banal que alterou carreiras, histórias e até a memória colectiva de uma das maiores franquias do cinema.

E deixa uma pergunta inevitável: como teria sido James Bond se James Brolin tivesse realmente vestido o smoking?

O Segredo de Clint Eastwood: Porque é Que os Seus Filmes Nunca Estouram o Orçamento — Nem o Calendário

Num sistema como Hollywood, onde atrasos milionários e orçamentos fora de controlo são quase regra, há uma exceção que intriga produtores, actores e realizadores há décadas: Clint Eastwood. Os filmes que assina como realizador chegam quase sempre ao fim antes do prazo e abaixo do orçamento. Não é sorte. É método. E, acima de tudo, experiência.

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Eastwood está no cinema há mais de meio século — primeiro como actor, depois como realizador — e essa longevidade ensinou-lhe algo que muitos nunca aprendem: saber exactamente o que quer filmar antes de ligar a câmara. No centro da sua filosofia está uma regra simples e quase lendária: um take, dois no máximo. E acabou.

Os actores sabem disso antes sequer de chegarem ao set. Quem trabalha com Eastwood chega preparado, ensaiado e concentrado. Não há espaço para “vamos tentar outra vez só por via das dúvidas”. A história contada por Matt Damon, durante as filmagens de Invictus, é reveladora.

Damon interpretava um sul-africano, com um sotaque particularmente difícil. Levou o trabalho a sério, praticou durante semanas e decidiu testar a famosa reputação do realizador logo no primeiro dia. Fizeram o take. Correu bem. Eastwood disse calmamente: “Cut, print, check the gate.” Tradução: está feito, seguimos em frente. Damon pediu mais um take. A resposta foi seca e definitiva: “Porquê? Queres desperdiçar o tempo de toda a gente?”

Não era arrogância. Era respeito pelo trabalho da equipa.

Eastwood não é um realizador relaxado ou distraído. Pelo contrário: é extremamente preciso. Mas essa precisão vem antes das filmagens, não durante intermináveis repetições. Trabalha regularmente com a mesma equipa técnica, pessoas que conhecem os seus ritmos, a sua linguagem e as suas expectativas. Não há necessidade de microgestão porque todos sabem exactamente o que têm de fazer.

Esse mesmo princípio aplica-se à montagem. Enquanto muitos realizadores passam dias de 12 ou 14 horas colados ao ombro do montador, Eastwood faz o oposto. Vê o material, discute opções, define direcções… e sai. Literalmente. Vai jogar golfe. Volta ao final do dia, vê o que foi feito, dá notas pontuais e segue em frente.

Num célebre encontro entre realizadores de topo, quando outros descreviam jornadas extenuantes em pós-produção, Eastwood explicou o seu método com uma naturalidade desconcertante: reuniões de manhã, golfe à tarde, revisão ao fim do dia. O silêncio que se seguiu foi revelador. Não era preguiça — era confiança.

Confiança na equipa. Confiança no planeamento. Confiança na experiência acumulada.

O resultado é um cinema sem excessos, sem caos e sem desperdício. Um cinema onde cada decisão tem peso e cada minuto conta. É por isso que filmes realizados por Clint Eastwood raramente derrapam financeiramente ou logisticamente. Ele sabe que, num set, tempo é dinheiro — e que mandar repetir sem necessidade é uma forma de desrespeito.

Num Hollywood cada vez mais dominado por produções inflacionadas e rodadas à base de exaustão, o método Eastwood parece quase anacrónico. Mas talvez seja exactamente por isso que continua a funcionar tão bem.

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Às vezes, a verdadeira modernidade está em fazer menos — e fazer melhor.

Quando a Televisão Era “Um Passo Atrás” — e um Actor Aceitou a Contragosto um Papel Que Mudou Tudo

Hoje parece impensável, mas houve um tempo em que aceitar protagonizar uma série de televisão era visto como um retrocesso na carreira de qualquer actor com ambições sérias. Nos anos 80, o pequeno ecrã ainda carregava o estigma de ser território menor, longe do prestígio artístico e cultural do cinema e do teatro. Foi nesse contexto que Edward James Olmos quase disse “não” a um dos papéis mais marcantes da história da televisão.

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Quando Michael Mann estava a montar o elenco de Miami Vice, a sua série revolucionária sobre polícias infiltrados em Miami, Olmos não era exactamente uma estrela de cinema, mas era altamente respeitado no meio artístico. Vinha do teatro — com nomeações para os Tony Awards — e já tinha deixado marca em filmes como Wolfen e Blade Runner. Acima de tudo, era um actor que levava o ofício muito a sério.

Quando Mann o abordou pela primeira vez para interpretar o tenente Martin Castillo, chefe da unidade de narcóticos da polícia de Miami-Dade, Olmos recusou. Televisão? Não, obrigado. Para um actor com formação teatral, aquilo era visto como um compromisso artístico difícil de justificar.

O destino, no entanto, tinha outros planos. Seis episódios depois do arranque da primeira temporada, o actor inicialmente escolhido para o papel saiu abruptamente da série. Mann ficou com um problema sério em mãos — e voltou a bater à porta de Olmos. Segundo relatos feitos mais tarde em documentários sobre a série, o criador de Miami Vice praticamente implorou para que o actor reconsiderasse. Foi a esposa de Olmos quem acabou por o convencer a aceitar.

O acordo, porém, não foi convencional. Olmos exigiu — e obteve — um nível de controlo raríssimo para a televisão da época. Decidia o guarda-roupa de Castillo, ajustava os diálogos, moldava o comportamento da personagem e até a organização da secretária no seu gabinete tinha de reflectir a psicologia do tenente. Nada era arbitrário.

Quando Martin Castillo entrou finalmente em cena, tudo mudou. Silencioso, intimidante, contido e profundamente introspectivo, o personagem contrastava com o estilo mais exuberante de Sonny Crockett e Ricardo Tubbs. Era uma figura quase trágica, carregada de passado e de moral rígida, que elevou imediatamente o tom dramático da série.

Miami Vice explodiu em popularidade e influência cultural, redefinindo a linguagem visual da televisão, a forma como a música era usada nas narrativas e a própria ideia de série policial. E Edward James Olmos tornou-se um dos pilares desse sucesso, provando que a televisão podia ser tão séria, complexa e artisticamente exigente quanto o cinema.

O que começou como uma decisão tomada a contragosto acabou por se transformar num dos maiores acertos da sua carreira. Mais do que isso, ajudou a mudar para sempre a percepção do pequeno ecrã junto dos actores e do público.

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Às vezes, aceitar um papel “errado” no momento certo é tudo o que é preciso para fazer história.

Quando um Papel Secundário Rouba o Filme Inteiro — e Obriga Hollywood a Reescrever o Guião

Há histórias de bastidores que explicam melhor do que qualquer manual como nascem as estrelas de cinema. Uma delas aconteceu em 1992, durante as filmagens de Dazed and Confused, o hoje lendário retrato geracional de Richard Linklater sobre adolescentes texanos nos anos 70. Um filme coral, sem protagonista óbvio, mas que acabou por lançar uma carreira… quase por acidente.

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Na altura, Matthew McConaughey era um completo desconhecido. Tinha 23 anos, nenhuma carreira relevante no cinema e foi contratado para um papel mínimo: David Wooderson, o tipo mais velho que continua a sair com miúdos do secundário, conduz carros vistosos e vive numa adolescência eterna. O personagem estava pensado como uma presença episódica, quase decorativa.

Quem deveria brilhar era Kevin Pickford, o hippie descontraído interpretado por Shawn Andrews, concebido como uma figura central no grupo de amigos do protagonista Pink (Jason London). Só que a realidade no set começou rapidamente a afastar-se do plano original.

Andrews revelou-se problemático. Tinha dificuldades em relacionar-se com o resto do elenco, criava tensão constante e chegou mesmo a envolver-se numa luta física com Jason London, obrigando Linklater a intervir para separar os dois. O ambiente tornou-se tão tóxico que, mesmo nas cenas em que Pickford e Pink surgem juntos no filme final, quase não interagem — um detalhe curioso que salta à vista quando revisto com este contexto em mente.

Do outro lado estava McConaughey. Carismático, bem-disposto, perfeitamente integrado no espírito descontraído das filmagens e, acima de tudo, dono de uma presença magnética. As poucas falas que tinha destacavam-se imediatamente. Linklater percebeu o que estava ali a acontecer e tomou uma decisão rara, mas decisiva: começou a escrever mais cenas para Wooderson durante as filmagens.

Mais do que isso, incentivou McConaughey a improvisar. Foi assim que nasceu, quase por acaso, o icónico “alright, alright, alright”, hoje inseparável da persona pública do actor. Enquanto isso, o papel de Pickford foi sendo progressivamente reduzido na montagem, arrastando consigo a personagem de Michelle, interpretada por Milla Jovovich, cujas cenas estavam quase todas ligadas a ele.

O resultado é um daqueles casos clássicos em que o cinema se adapta à química real dos actores. Wooderson tornou-se uma das figuras mais memoráveis do filme, apesar de nunca ser o centro da narrativa. E para McConaughey, foi o início de tudo: a performance que lhe abriu portas, chamou a atenção da indústria e lançou uma carreira que acabaria por passar por blockbusters, reinvenções dramáticas e até um Óscar.

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Às vezes, Hollywood não escolhe as estrelas. Elas simplesmente impõem-se. E neste caso, McConaughey fez exactamente isso — à sua maneira.

Um Natal Amarelo no Grande Ecrã: Porque o Novo Filme do SpongeBob É a Escolha Certa Para a Família 🎄🍍

Depois de mais de duas décadas a marcar gerações em Portugal, SpongeBob O Filme: À Procura das Calças Quadradas regressa ao cinema com estatuto de verdadeiro acontecimento familiar. A estreia acontece a 24 de Dezembro, em plena véspera de Natal, numa aposta clara em devolver às salas de cinema aquele ritual colectivo que tantos de nós associam a esta época do ano: rir em família, partilhar pipocas e sair da sessão com um sorriso colado à cara.

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Este novo capítulo cinematográfico não tenta reinventar a roda — e ainda bem. Em vez disso, abraça com convicção tudo aquilo que transformou SpongeBob SquarePants num fenómeno global: humor nonsense, optimismo inabalável, personagens inesquecíveis e uma imaginação que parece não conhecer limites. Aqui, SpongeBob sente que chegou o momento de provar que é um verdadeiro herói e, para isso, embarca numa aventura tão improvável quanto ambiciosa, seguindo o temível (e deliciosamente caricato) Holandês Voador até às profundezas do oceano.

A narrativa aposta numa estrutura simples, mas eficaz, pensada para funcionar em vários níveis. As crianças encontram cor, ritmo e situações absurdas em catadupa; os adultos reconhecem ironias, comentários subtis e aquela energia caótica que sempre distinguiu a série. É um equilíbrio difícil de alcançar, mas que este filme consegue manter com surpreendente leveza.

Um dos grandes trunfos desta estreia em Portugal é a continuidade na dobragem nacional. As vozes que acompanham SpongeBob há mais de 20 anos regressam, garantindo familiaridade imediata ao público português. É um detalhe que pode parecer menor, mas que faz toda a diferença quando falamos de um universo tão enraizado na memória colectiva. A isto juntam-se algumas estreias na dobragem cinematográfica, que entram com naturalidade e sem ruído, reforçando o elenco sem quebrar o tom.

Do ponto de vista visual, o filme mantém o estilo vibrante e exagerado que sempre definiu Bikini Bottom, mas adapta-o ao grande ecrã com uma escala mais ambiciosa. Há sequências claramente pensadas para impressionar em sala escura, com um sentido de espectáculo que transforma esta aventura numa experiência verdadeiramente cinematográfica — e não apenas num “episódio longo” da série.

A estreia internacional foi também assinalada com pompa e circunstância em Hollywood, num evento simbólico que reuniu várias figuras históricas ligadas ao universo SpongeBob, sublinhando a importância cultural da personagem criada por Stephen Hillenburg. É um reconhecimento justo para uma série que, ao longo dos anos, soube reinventar-se sem perder identidade.

No fundo, SpongeBob O Filme: À Procura das Calças Quadradas funciona como aquilo que o cinema de Natal deve ser: inclusivo, luminoso e emocionalmente generoso. Não pretende ser profundo ou solene, mas lembra-nos algo essencial — que a amizade, a coragem e a alegria continuam a ser valores universais, independentemente da idade.

Num calendário saturado de estreias “importantes”, este filme destaca-se precisamente por não tentar ser mais do que aquilo que promete. E às vezes, sobretudo no Natal, isso é exactamente o que precisamos.

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O filme estreia a 24 de Dezembro, nas salas de cinema portuguesas, em versões dobrada e legendada, com distribuição da NOS Audiovisuais  .

O Amor Mudou o Cinema: Como Rob Reiner Reescreveu o Final de Harry e Sally Depois de se Apaixonar

Há finais felizes que parecem inevitáveis. Outros, porém, só existem porque a vida decidiu intrometer-se no cinema. O desfecho de Harry e Sally – Feitos Um para o Outro pertence claramente à segunda categoria. Um dos filmes mais adorados da história das comédias românticas quase terminou de forma amarga — e só não o fez porque Rob Reiner se apaixonou durante as filmagens.

A revelação ganha hoje um peso emocional ainda maior. No passado domingo, 14 de Dezembro, Reiner e a sua mulher, Michele Singer, foram encontrados mortos na sua casa em Los Angeles, num caso trágico que chocou Hollywood. Independentemente das circunstâncias que rodeiam o crime, o legado artístico de Reiner permanece intacto — e Harry e Sally continua a ser a sua obra mais popular, mais citada e mais influente.

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Um filme nascido do cepticismo amoroso

Quando Rob Reiner começou a desenvolver Harry e Sally, o realizador estava longe de acreditar no amor duradouro. Recentemente divorciado, Reiner via as relações com um olhar cínico e desencantado. Esse estado de espírito influenciou directamente o argumento escrito por Nora Ephron, que construiu uma história brilhante sobre amizade, medo de intimidade e as voltas imprevisíveis da vida.

Na versão original do guião, Harry e Sally não acabavam juntos. Depois de anos de encontros falhados, desencontros emocionais e diálogos icónicos, cada um seguiria o seu caminho. Um final realista, agridoce — e profundamente anti-hollywoodiano.

Era essa a intenção inicial de Reiner.

O encontro que mudou tudo

Durante a produção do filme, porém, algo inesperado aconteceu. Rob Reiner conheceu Michele Singer, com quem iniciou uma relação que rapidamente se tornou séria. Pela primeira vez em muito tempo, o realizador voltou a acreditar que duas pessoas podiam, de facto, encontrar-se no momento certo.

Esse impacto foi decisivo.

Reiner apercebeu-se de que já não acreditava no final triste que tinha planeado para Harry e Sally. Se a vida lhe estava a provar que o amor era possível — mesmo depois de desilusões — então o filme também tinha de reflectir isso.

A decisão foi tomada: o final seria reescrito.

O monólogo que fez história

O novo desfecho culmina numa das cenas mais famosas do cinema romântico. Na passagem de ano, Harry corre pela cidade para encontrar Sally e declara-lhe o seu amor num monólogo que se tornou lendário. Não é uma declaração idealizada ou poética — é confessional, imperfeita, humana.

Harry ama Sally porque ela demora a pedir comida, porque corrige a gramática, porque fica rabugenta no Inverno. É um amor construído nos detalhes, não nos fogos-de-artifício.

Essa cena não só salvou o filme como redefiniu o género. A partir daí, dezenas de comédias românticas passaram a procurar finais semelhantes: declarações sinceras, imperfeitas, profundamente pessoais. Harry e Sally deixou de ser apenas um sucesso de bilheteira e tornou-se um manual emocional para o cinema que se seguiu.

Um “felizes para sempre” que veio da vida real

Rob Reiner e Michele Singer casaram-se em 1989, o mesmo ano da estreia do filme, e permaneceram juntos durante décadas. O final feliz de Harry e Sally não foi um artifício comercial: foi um reflexo directo da vida do seu criador naquele momento.

É raro um caso em que o cinema muda por causa da felicidade do realizador — normalmente é o contrário. Mas Harry e Sally prova que, por vezes, a arte imita mesmo a vida… e fica melhor por isso.

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Hoje, sabendo que aquele final quase não existiu, é impossível não o rever com outros olhos. Não é apenas uma grande cena de cinema. É o testemunho de um momento em que alguém voltou a acreditar.

E, sem saber, deu ao mundo uma das maiores histórias de amor da sétima arte.

De Estrela de Acção a Caso Perdido: O Que Destruiu a Carreira de Steven Seagal?

Durante um breve mas intenso período no início dos anos 90, Steven Seagal parecia destinado a tornar-se um dos grandes nomes do cinema de acção. Tinha presença física, uma aura de invencibilidade, uma arte marcial pouco explorada em Hollywood e o apoio das pessoas certas. Mas a mesma carreira que subiu a uma velocidade impressionante acabou por implodir de forma quase tão rápida. A pergunta impõe-se: o que correu tão mal?

A resposta curta é simples e pouco elegante: Steven Seagal é uma besta! … ou pondo em termos mais polidos… tornou-se impossível de suportar. A resposta longa é bem mais reveladora — e diz muito sobre Hollywood, o ego, o talento (ou a falta dele) e a importância de saber evoluir.

Um início improvável… mas eficaz

Steven Seagal não chegou a Hollywood pela via tradicional. O seu primeiro grande trunfo foi o aikido, arte marcial japonesa que ensinava em Los Angeles. Entre os seus alunos estava Michael Ovitz, um dos fundadores da poderosa Creative Artists Agency (CAA). Ovitz viu ali uma oportunidade rara: um tipo grande, exótico, com uma imagem de dureza silenciosa e um estilo de luta diferente de tudo o que o cinema americano tinha mostrado até então.

Ovitz transformou Seagal numa estrela quase por decreto. O actor estreou-se em Above the Law (1988) e, nos quatro anos seguintes, protagonizou cinco filmes, todos eles sucessos comerciais. Hard to KillMarked for Death e Out for Justicecimentaram a imagem do “durão reformado” que regressa à acção para limpar tudo à sua volta.

O auge chegou com Under Siege, frequentemente apontado como o melhor filme da sua carreira. Críticos mais generosos chegaram a compará-lo a Die Hard num navio de guerra. O problema é que, a partir daí, Seagal achou que já tinha ganho o jogo.

O herói que nunca perde deixa de interessar

Ao contrário de Sylvester StalloneArnold SchwarzeneggerBruce Willis ou Harrison Ford, Steven Seagal nunca foi um herói vulnerável. Os seus personagens não enfrentavam obstáculos reais. Não aprendiam, não falhavam, não sangravam de forma significativa. Entravam numa sala e derrotavam todos os inimigos como se fossem figurantes descartáveis.

Esse modelo funcionou… durante algum tempo. Mas rapidamente se tornou repetitivo. Seagal só sabia interpretar uma personagem: o homem moralmente superior, taciturno, praticamente invencível, sempre um passo à frente de toda a gente. Não havia arco dramático. Não havia surpresa. Nem sequer variação de expressão facial — algo que se tornou motivo de piada recorrente.

Quando tentou assumir maior controlo criativo, o desastre foi inevitável. On Deadly Ground (1994), o único filme que realizou, foi um fracasso crítico e comercial, carregado de moralismo ecológico e auto-indulgência. A partir daí, a confiança dos estúdios começou a evaporar-se.

Talento limitado, ego ilimitado

Há um aspecto que Seagal nunca conseguiu contornar: não é um bom actor. Nunca foi. Enquanto os seus contemporâneos evoluíam, exploravam outros géneros e até brincavam com a própria imagem, Seagal manteve-se preso à mesma persona, convencido de que bastava a sua presença para justificar qualquer filme.

O problema agravou-se fora do ecrã. Hollywood é pequena e a reputação conta — muito. Seagal rapidamente ganhou fama de ser rude, confrontacional e abusivo, especialmente com duplos e membros das equipas técnicas. Há relatos de agressões físicas durante ensaios, incluindo um episódio em que terá partido o pulso de Sean Connery durante a preparação de Never Say Never Again.

A isto somam-se acusações de assédio sexual, comportamentos profundamente inadequados em filmagens (incluindo situações envolvendo actrizes muito jovens, como Katherine Heigl), e uma atitude geral de vedeta auto-proclamada quando, na prática, o seu valor comercial já estava em queda livre.

Política, misticismo… e isolamento total

Nos anos seguintes, Steven Seagal conseguiu ainda alienar quem restava. A sua amizade pública com Vladimir Putin, a obtenção da cidadania russa e o seu envolvimento em discursos políticos duvidosos tornaram-no uma figura tóxica para os grandes estúdios americanos.

Como se não bastasse, Seagal passou a apresentar-se como budista tibetano, alegadamente reconhecido como a reencarnação de um lama — um episódio recebido com cepticismo e sarcasmo dentro e fora da indústria. O resultado foi um afastamento quase total de Hollywood.

A partir dos anos 2000, a sua carreira resumiu-se a filmes de baixo orçamento, muitos deles lançados directamente em vídeo, onde aparece cada vez menos em cena, muitas vezes sentado, murmurando diálogos enquanto outros fazem o trabalho físico.

O fim anunciado de uma estrela que nunca quis mudar

Steven Seagal não foi destruído por um único erro, nem por um único escândalo. Foi destruído por uma combinação letal: falta de versatilidade, ego desmedido, comportamentos tóxicos e incapacidade de evoluir. Hollywood pode tolerar divas, pode tolerar excentricidades — mas raramente tolera alguém que seja simultaneamente difícil, dispensável e substituível.

Durante alguns anos, Seagal foi uma estrela. Mas nunca percebeu que, para continuar a sê-lo, precisava de fazer aquilo que sempre recusou: crescer.

E Hollywood nunca perdoa quem acredita que já chegou ao topo… quando, na verdade, só lá esteve de passagem.

Os 20 Dias Que Antecederam o Regresso ao Poder: O Documentário Que Mostra Melania Trump Como Nunca a Vimos

Ainda há poucos dias falámos deste documentário que está a agitar as notícias destes dias. Finalmente temos algo de concreto para o público português.

Durante anos, Melania Trump foi uma das figuras mais enigmáticas da política americana. Discreta, controlada, muitas vezes reduzida a imagens protocolares e a frases cuidadosamente escolhidas, a antiga Primeira-Dama sempre pareceu manter o mundo à distância. Melania, o novo documentário dos Amazon MGM Studios, promete precisamente o contrário: abrir as portas de um período decisivo e mostrar, sem filtros, os 20 dias que antecederam a Tomada de Posse Presidencial de 2025.

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Com estreia mundial nos cinemas a 30 de Janeiro, o filme acompanha o regresso de Melania Trump à Casa Branca, num momento de enorme tensão política, mediática e pessoal. Não se trata de um retrato histórico convencional, nem de um panfleto político. O documentário aposta antes num registo intimista, observacional, centrado na logística, nas decisões e no peso simbólico de reassumir um dos papéis mais escrutinados do planeta.

O grande trunfo de Melania está no acesso sem precedentes concedido à câmara. Reuniões decisivas, conversas privadas e bastidores nunca antes filmados compõem um retrato raro da transição presidencial vista através dos olhos da própria Primeira-Dama. O espectador acompanha a coordenação da tomada de posse, a complexa mudança da família de volta para Washington e o equilíbrio delicado entre vida familiar, compromissos institucionais e estratégias de comunicação.

Nas suas próprias palavras, Melania Trump sublinha a natureza excepcional do projecto, assumindo que este período representa “um capítulo decisivo” da sua vida. O filme procura captar exactamente isso: não apenas a figura pública, mas a mulher que gere pressões contraditórias, expectativas globais e uma imagem construída ao longo de décadas sob o olhar permanente dos media.

Com 104 minutos de duração, Melania evita o tom sensacionalista e aposta numa narrativa contida, quase silenciosa em certos momentos, que reflecte a própria personalidade da protagonista. Há uma clara intenção de controlo da narrativa, mas também uma vontade de mostrar o peso real do cargo e a dimensão humana por detrás da coreografia política.

Para o Clube de Cinema, este documentário interessa menos pelo debate ideológico e mais pelo seu valor enquanto objecto cinematográfico e documento de época. É um raro exemplo de cinema político centrado não no líder, mas na figura que gravita à sua volta, muitas vezes subestimada, mas crucial na construção simbólica do poder.

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Independentemente da posição que cada espectador tenha em relação à família Trump, Melania surge como um retrato revelador de como o poder se organiza, se encena e se vive nos bastidores. Um filme que, sem levantar a voz, diz mais do que muitos discursos.