Chris Pratt e o túmulo de São Pedro: o novo documentário que leva Hollywood às profundezas do Vaticano

Um Star-Lord no subsolo da Basílica de São Pedro

Chris Pratt trocou, por uns dias, as galáxias distantes e os blockbusters de acção pelas galerias silenciosas sob a Basílica de São Pedro, no Vaticano. O actor norte-americano está a filmar um documentário sobre a descoberta da Necrópole Vaticana e do túmulo do Apóstolo Pedro, num projecto que junta o Vatican Media, a Fabbrica di San Pietro e a produtora AF Films. A estreia está prevista para 2026, ano em que se assinala o 400.º aniversário da inauguração e dedicação da actual basílica.

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Segundo o Vatican News, as filmagens decorrem na própria Basílica de São Pedro e na Necrópole Vaticana, num acesso raríssimo que transforma Pratt no guia de um itinerário que mistura fé, história e arqueologia. O actor confessou sentir-se “extraordinariamente honrado” por colaborar com o Vaticano neste projecto e por ter a oportunidade de ajudar a levar a história de São Pedro ao grande público.

A direcção do documentário fica a cargo da realizadora espanhola Paula Ortiz, enquanto o argumento é assinado por Andrea Tornielli, com a colaboração de Pietro Zander. O filme deverá ser lançado em 2026, alinhado com a data simbólica de 18 de Novembro de 1626, quando a actual Basílica de São Pedro foi oficialmente inaugurada e consagrada.

Da Galileia ao Vaticano: a rota de Pedro

A história da basílica e a do próprio cristianismo estão intimamente ligadas à figura de Pedro, o pescador da Galileia a quem, segundo a tradição cristã, Jesus confiou a liderança da Igreja. Pedro terá sido martirizado em Roma, na colina vaticana, por volta do ano 64 d.C., e desde os primeiros séculos que o seu local de sepultamento se tornou destino de peregrinação, devoção e culto — ao ponto de muitos cristãos desejarem ser sepultados o mais perto possível do Apóstolo.

O documentário pretende precisamente revisitar, passo a passo, esse percurso, conduzindo o espectador numa viagem no tempo através de imagens exclusivas e de acesso restrito. O ponto central será a identificação do local do túmulo de Pedro na Necrópole Vaticana, uma questão que ocupou arqueólogos, historiadores e papas durante décadas.

Da escavação às relíquias: um enigma de séculos

Foi o Papa Pio XII que, em 1939, ordenou as escavações sob a Basílica de São Pedro, num impulso que mudou para sempre o conhecimento sobre o subsolo do Vaticano. Em 1950, Pio XII anunciava oficialmente a identificação do local de sepultamento do Apóstolo na Necrópole Vaticana, com base nas evidências então encontradas.

As investigações prosseguiram durante as décadas seguintes e, em 1968, o Papa Paulo VI deu um novo passo, revelando ao mundo que os ossos associados a Pedro tinham sido identificados de forma que considerava “convincente”. O pontífice declarou ter “razões para crer” que os poucos, mas sacrossantos, restos mortais do Príncipe dos Apóstolos tinham sido finalmente localizados.

É este caminho — entre fé e ciência, tradição e arqueologia — que o documentário agora em rodagem pretende tornar acessível ao grande público, com Chris Pratt como rosto e narrador desta descoberta contínua.

Chris Pratt como guia de um património invisível

Para além da curiosidade óbvia de ver uma grande estrela de Hollywood a guiar um documentário profundamente enraizado na tradição cristã, há aqui também um gesto claro de aproximação entre linguagens: a do cinema popular e a da comunicação religiosa e histórica.

Pratt, que já manifestou publicamente a sua fé em várias ocasiões, surge aqui numa faceta menos habitual, longe da comédia e da acção, para conduzir o espectador por corredores estreitos, câmaras funerárias e zonas do Vaticano que a maioria dos crentes — e cinéfilos — nunca verá ao vivo.

Visualmente, o projecto promete explorar não só a monumentalidade da Basílica de São Pedro, mas também o lado invisível da cidade-estado: a necrópole que foi preservada, redesenhada e protegida ao longo de séculos para guardar o lugar onde, segundo a tradição, repousa São Pedro.

Um lançamento pensado ao milímetro

O calendário não foi escolhido ao acaso. Lançar o documentário em 2026, exactamente no 400.º aniversário da dedicação da actual basílica, permite ao Vaticano e às entidades envolvidas reforçar a ligação entre o edifício que hoje vemos e a memória do Apóstolo que o funda simbolicamente.

Para o público, o filme deverá funcionar tanto como experiência espiritual e histórica como produto cinematográfico acessível, ajudado pelo carisma de Chris Pratt e pela curiosidade natural em torno de tudo o que se passa por detrás dos muros do Vaticano.

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Seja visto como acto de fé, exercício de divulgação histórica ou estratégia inteligente de comunicação, uma coisa é certa: em 2026, muitos espectadores vão descer, sem sair do sofá, às profundezas da colina vaticana, à procura do lugar onde começou uma das histórias mais influentes da civilização ocidental

Jack Nicholson Reaparece Sorridente em Foto Raríssima ao Lado dos Filhos — Uma Visita Íntima ao Mito Recluso de Hollywood

O regresso inesperado do gigante desaparecido

Jack Nicholson, um dos maiores actores da História do Cinema e figura lendária de Hollywood, tem estado afastado dos holofotes há mais de uma década. A última vez que o vimos no grande ecrã foi em 2010, na comédia How Do You Know, depois da qual escolheu uma vida de recolhimento absoluto. Desde então, Nicholson transformou-se quase numa figura mítica — um fantasma benevolente de Los Angeles, avistado apenas pontualmente, normalmente num jogo dos Lakers.

Por isso, cada nova imagem sua torna-se um pequeno acontecimento. E foi exactamente isso que aconteceu esta semana, quando a filha, Lorraine Nicholson, partilhou no Instagram uma fotografia raríssima onde o actor de 88 anos surge sorridente ao lado de Lorraine, de 35 anos, e do filho Ray Nicholson, de 33.

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A imagem faz parte de um álbum de momentos pessoais publicado por Lorraine, acompanhado de uma legenda simples, mas cheia de significado: “Novembro memorável”.

Um olhar íntimo sobre uma lenda silenciosa

Não é exagero dizer que Nicholson se tornou quase tão famoso pelo seu desaparecimento como pela sua carreira. A sua retirada da esfera pública alimentou rumores e especulações — desde questões de saúde a pura excentricidade. Mas a verdade é que o actor sempre cultivou um certo mistério e, ao longo das últimas décadas, foi reduzindo gradualmente a sua presença mediática, até praticamente desaparecer.

A nova fotografia, porém, mostra-o num raro momento de descontração familiar, sorridente, tranquilo e bem-disposto, numa pose que contrasta com a imagem do artista distante e inacessível. Para os fãs, é uma visão reconfortante: Nicholson está bem, está presente e, sobretudo, não perdeu aquele sorriso irreverente que marcou personagens como Jack Torrance, J.J. Gittes ou o inesquecível Joker.

Quinze anos sem Nicholson no cinema: ausência sentida, legado intacto

Há actores que desaparecem e deixam uma marca discreta. Nicholson não é um deles. A sua ausência tornou-se um vazio palpável em Hollywood. Recordemos que, ao longo de mais de cinco décadas de carreira, acumulou:

— 3 Óscares, por One Flew Over the Cuckoo’s NestTerms of Endearment e As Good as It Gets

— 12 nomeações, o que faz dele o actor mais nomeado da História

— Uma galeria de personagens icónicas que atravessam géneros, gerações e estilos

O desaparecimento deste gigante não apagou o seu impacto — apenas acentuou a forma como continua a ser insubstituível. E talvez por isso uma simples fotografia ao lado dos filhos seja suficiente para incendiar a internet cinéfila.

Lorraine e Ray: filhos que seguiram o caminho artístico

Lorraine Nicholson e Ray Nicholson têm ambos carreiras ligadas ao meio artístico. Lorraine, actriz e realizadora, ficou conhecida por papéis em The Last Airbender e Soul Surfer, enquanto Ray tem vindo a construir carreira em séries e filmes independentes, além de colaborar como produtor.

Ver os três reunidos, num registo tão íntimo, lembra-nos que, por detrás da aura de ícone absoluto, existe também um pai, um homem de família, alguém que vive agora longe do tumulto de Hollywood — e que parece genuinamente confortável com essa escolha.

Uma fotografia que vale ouro para os fãs

A imagem partilhada por Lorraine não revela detalhes, não traz comunicado oficial, não anuncia nada — mas diz tudo.

É um pequeno vislumbre de um actor que escolheu o silêncio, mas que continua vivo no imaginário colectivo como um dos maiores talentos que o cinema já conheceu.

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E se esta fotografia nos ensina alguma coisa, é que Nicholson continua aqui. Fora do ecrã, longe das luzes, mas presente. E ainda capaz de sorrir com aquela expressão malandra que sempre foi só dele.

Peaky Blinders regressa em força: já sabemos quando chega “The Immortal Man” à Netflix em Portugal

Tommy Shelby troca o exílio pelo caos da guerra

Tommy Shelby troca o exílio pelo caos da guerra – e os fãs portugueses já têm data marcada para o reencontro com o líder dos Peaky Blinders.

Quando a sexta temporada de “Peaky Blinders” chegou ao fim, em 2022, ficou a sensação de despedida… mas nunca de encerramento definitivo. Steven Knight sempre prometeu que a história da família Shelby terminaria no grande ecrã, e agora essa promessa ganha forma com “Peaky Blinders: The Immortal Man”, filme que já tem data de estreia em Portugal: 20 de Março, na Netflix.

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A notícia foi confirmada esta sexta-feira, 5 de Dezembro, e bastou a sinopse oficial para incendiar novamente o entusiasmo dos fãs. Estamos em Birmingham, 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Tommy Shelby regressa de um exílio auto-imposto para enfrentar “o seu acerto de contas mais destrutivo de sempre”. Com o futuro da família e do país em jogo, o patriarca dos Peaky Blinders terá de enfrentar os seus próprios demónios e decidir se enfrenta o seu legado… ou se o deixa arder até às cinzas. Por ordem dos Peaky Blinders, claro.

Cillian Murphy volta a vestir o boné 🪖

Depois de conquistar o Óscar com “Oppenheimer”, Cillian Murphy regressa à personagem que o transformou num ícone da cultura pop televisiva: Thomas “Tommy” Shelby. O actor volta a liderar um elenco de luxo onde encontramos Rebecca Ferguson, Barry Keoghan, Tim Roth e Stephen Graham, nomes que prometem trazer novas camadas de tensão, intriga e perigo à já de si explosiva mitologia de “Peaky Blinders”.

Mas o filme não esquece as raízes. Vários rostos familiares da série regressam, incluindo Sophie Rundle, Ned Dennehy e Packy Lee, garantindo que o universo dos Shelby mantém a sua continuidade emocional. A realização fica a cargo de Tom Harper, que já tinha trabalhado na série e conhece de perto o equilíbrio muito particular entre violência, estilo e tragédia que definiu o fenómeno.

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Da BBC ao topo da Netflix: a ascensão dos Shelby

“Peaky Blinders” estreou em 2013 na BBC, quase como um “gangster drama” de nicho, mas depressa se transformou numa das séries mais influentes da última década. O salto para a Netflix deu-lhe exposição global e transformou a família Shelby num caso raro: um gangue brutal de Birmingham que se tornou objecto de culto de milhões de espectadores.

Inspirada numa gangue real que actuava na cidade no início do século XX, a série acompanha a ascensão dos Shelby a partir do submundo de apostas ilegais, contrabando e violência, até ao confronto com políticos, aristocratas e forças internacionais. Tudo isto embrulhado numa estética marcante – fatos impecáveis, navalhas cosidas nos bonés, cigarro eterno nos lábios de Tommy – e numa banda sonora moderna que aproximou o universo da série de uma espécie de rock operático criminal.

Ao longo das seis temporadas, “Peaky Blinders” destacou-se pela narrativa intensa, pelos confrontos de poder, pelas lealdades quebradas e pela forma como retratou um protagonista em permanente guerra consigo próprio. Muito antes de “The Immortal Man”, Tommy Shelby já parecia alguém a desafiar a morte – física, moral e espiritual.

Do fim da série ao salto para o cinema

O final da sexta temporada, em 2022, foi apresentado como o encerramento da série televisiva, mas também como um ponto de viragem. Steven Knight deixou claro que a saga não acabaria ali e que o capítulo final seria contado em formato de longa-metragem. “The Immortal Man” é, portanto, menos um “spin-off” e mais o passo seguinte natural, pensado desde cedo como o clímax da história.

As filmagens terminaram em Dezembro de 2024, aumentando a impaciência dos fãs, que passaram meses a especular sobre o enredo, o destino de Tommy e o papel da Segunda Guerra Mundial neste universo. A sinopse agora revelada confirma que o conflito global será mais do que cenário: é a pressão máxima sobre um homem que sempre viveu em guerra, mas que desta vez pode ter mais a perder do que nunca.

O que esperar de “The Immortal Man”?

Sem grandes revelações de enredo, o material oficial sugere um Tommy empurrado para o limite, obrigado a regressar de um exílio onde, claramente, não encontrou paz. A ideia de “acerto de contas mais destrutivo de sempre” aponta para um confronto final em várias frentes: familiar, política, íntima.

A referência ao “legado” que pode ser destruído ou deixado arder até às cinzas também abre caminho a um filme que não se limita a prolongar a série, mas que pode questionar o próprio mito dos Peaky Blinders. Depois de anos a construir um império através da violência, o que é que realmente sobra para Tommy? Família? Culpa? Um lugar na História? Ou apenas cinza e fumo de cigarro?

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Para já, o que os fãs portugueses sabem é o essencial: “Peaky Blinders: The Immortal Man” chega à Netflix a 20 de Março, e a data já pode ser sublinhada a vermelho no calendário. Até lá, é tempo de tirar o pó ao boné, aquecer um whisky e preparar-se para regressar a Birmingham, onde a família Shelby ainda tem contas a ajustar com o mundo – e com o próprio passado.

O Novo Paramount de David Ellison: menos prestígio, mais testosterona – e os “cancelados” de volta ao jogo

Um novo sheriff em Hollywood

Há muito que a Paramount deixara de ser o estúdio intocável dos tempos de ouro, mas a chegada de David Ellison, via fusão com a Skydance, está a transformar a casa da montanha em algo bem diferente – e bem mais ruidoso. Onde antes reinava um certo verniz “politicamente correcto” pós-#MeToo e pós-George Floyd, instala-se agora uma cultura em que sentimentos não contam, decisões são tomadas a frio e quem se queixa recebe, literalmente, um “get over it” como resposta.

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Ellison, filho de Larry Ellison (o magnata da Oracle e aliado próximo de Donald Trump), está a aplicar uma lógica muito mais próxima de Silicon Valley do que da velha Hollywood. O objectivo declarado é claro: abandonar a imagem de estúdio frágil e voltar a competir na primeira divisão dos gigantes, mesmo que isso signifique atropelar algumas sensibilidades pelo caminho.

Ramsey Naito, Tartarugas Ninja e um “get over it”

Um dos casos mais simbólicos desta nova era é o de Ramsey Naito, até há pouco tempo directora da Paramount Animation. Antes da fusão, tudo indicava que Naito seria uma das protegidas da nova gestão, depois do sucesso de Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, produzido com um orçamento contido e que rendeu milhões em bilheteira e mais de mil milhões em ‘merchandising’.

Mas, já com a nova equipa instalada, o ambiente mudou. Numa reunião com figuras-chave do estúdio, incluindo o co-presidente Josh Greenstein, Naito terá sido acusada de “desvalorizar” a marca Tartarugas Ninja e de deixar que vários projectos de animação explodissem em orçamento, como o novo filme dos Smurfs, que terá gerado um prejuízo na casa dos 80 milhões de dólares. Quando contestou o tom com que lhe falaram, recebeu de volta o espírito da casa: sentimentos à parte, “siga em frente”.

Pouco tempo depois, Naito foi dispensada numa vaga de despedimentos, sendo substituída por Jennifer Dodge, executiva da Spin Master, a empresa de brinquedos responsável por PAW Patrol. Para quem ainda tinha dúvidas de que a prioridade são marcas fortes e controlo de custos, ficou a mensagem.

Brett Ratner, Will Smith, Johnny Depp: o regresso dos “proscritos”

Outra faceta da era Ellison é a reabilitação de figuras “canceladas” ou altamente controversas. A lógica é fria: talento que o sistema rejeitou costuma ficar mais barato – e está desesperado por provar que ainda conta.

O exemplo mais chocante é talvez Rush Hour 4, realizado por Brett Ratner, afastado de Hollywood desde 2017 na sequência de acusações de assédio e má conduta sexual. O filme andava órfão de estúdio até que, após um pedido de Donald Trump a Larry Ellison, a Paramount aceitou distribuí-lo. O negócio é tentador: o estúdio não financia, apenas distribui e cobra uma bela comissão.

A lista não acaba aí. A Skydance, braço de Ellison, já tinha resgatado John Lasseter, antigo chefão da Pixar que saiu da Disney em plena vaga #MeToo. Sob a nova liderança, a Paramount fechou ainda um acordo de primeira escolha com Will Smith – ainda a tentar limpar a imagem depois da bofetada a Chris Rock nos Óscares – e abraçou um projecto com Johnny Depp no papel de Ebenezer Scrooge, o seu primeiro grande filme de estúdio depois de ter sido afastado de Fantastic Beasts em 2020.

No topo da pirâmide, a própria presidência da Paramount é ocupada por Jeff Shell, que abandonou a NBCUniversal após um caso de assédio ligado a uma longa relação extraconjugal com uma jornalista da CNBC. Shell fala abertamente do passado e declara ter aprendido com os erros, mas a mensagem sentida por muitos é outra: desde que geres negócios, o resto é negociável.

Blockbusters masculinos em fila… e pouco espaço para cinema de prestígio

Editorialmente, a nova Paramount aposta tudo em cinema “evento” e, de preferência, carregado de testosterona. Entre os projectos em desenvolvimento destacam-se:

– um filme de Call of Duty, escrito por Taylor Sheridan;

– um épico de motocrosse realizado por James Mangold, com Timothée Chalamet num dos maiores salários da carreira;

– um novo Paranormal Activity produzido por James Wan e pela Blumhouse;

– um western com Brandon Sklenar, vindo do universo de 1923.

Ao mesmo tempo, o estúdio está a arrumar a casa de forma agressiva: dramas românticos, adaptações mais “femininas” e títulos vistos como arriscados estão a ser cancelados, vendidos a plataformas ou simplesmente engavetados. Projectos como Eloise, baseado nos populares livros infantis, foram parar à Netflix; Winter Games, um drama romântico com Miles Teller, foi abandonado; e spin-offs com ADN mais leve, como um derivado de Ferris Bueller’s Day Off, ficaram pelo caminho.

O sinal mais claro de mudança? O pequeno departamento de prémios interno foi praticamente desmontado, e a aposta em filmes de “prestígio”, com ambição de Óscar, está no nível mínimo. O paradigma é simples: menos Oscar bait, mais produtos assumidamente comerciais.

DEI, guerra cultural e a sombra de Trump

Esta reorientação não se faz apenas na escolha de filmes, mas também na política interna. A Paramount foi um dos primeiros grandes estúdios a abandonar políticas formais de DEI (diversidade, equidade e inclusão) e, já com Ellison ao leme, destacou-se por tomar posições públicas contra o que vê como “anti-Israel” em Hollywood. É um posicionamento que agrada à ala mais conservadora e se alinha com a relação próxima entre Larry Ellison e Donald Trump.

Trump, por sua vez, não tem escondido o entusiasmo pela fusão Skydance-Paramount e pelo novo tom editorial, sobretudo na área de informação da CBS News. O antigo presidente vê em David Ellison um aliado potencial também na disputa por outro gigante: a Warner Bros. Discovery, onde a Skydance concorre com a Comcast e a Netflix pela compra do estúdio.

Para o espectador comum, tudo isto pode parecer distante, mas tem consequências muito concretas: define que histórias chegam às salas, quem as conta e com que lentes políticas e culturais são filmadas.

Tom Cruise, Top Gun 3 e o futuro da montanha

Nenhuma análise à nova Paramount fica completa sem falar de Tom Cruise, talvez o actor que mais simboliza a ligação do estúdio à ideia clássica de “movie star”. A relação entre Cruise e David Ellison teve momentos tensos, nomeadamente quando o actor pediu dezenas de milhões extra para os novos Mission: Impossible e ouviu que teria de encontrar parte do financiamento por conta própria.

Ainda assim, Cruise quer pôr de pé Top Gun 3 e procura casa para uma ambiciosa aventura de desastre em alto mar com um orçamento na casa dos 200 milhões. Depois de visitas recentes aos novos escritórios da Paramount, tudo indica que a paz foi, pelo menos, estrategicamente selada. Se Ellison conseguir também concretizar o sonho de comprar a Warner Bros., estará em posição de redesenhar, quase sozinho, o mapa dos grandes estúdios.

E para nós, espectadores?

Do ponto de vista estritamente cinéfilo, a era Ellison na Paramount é um cocktail curioso: por um lado, promete grandes produções de acção, horror e comédia R-rated, pensadas para um público que quer “evento” e não necessariamente prestígio. Por outro, levanta questões sérias sobre quem volta a ter megafones na indústria, como se reescrevem as consequências após o #MeToo e que lugar sobra para cinema arriscado, minoritário ou formalmente mais ousado.

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Hollywood já passou por muitas fases e muitos “novos sheriffs”. A diferença, desta vez, é a mistura explosiva entre dinheiro de tecnologia, guerra cultural aberta e uma vontade quase missionária de provar que o público quer exactamente aquilo que o velho estúdio não se atrevia a dar-lhe. Se isso vai salvar a Paramount ou apenas transformá-la num parque temático de testosterona de luxo, é algo que vamos descobrir, bilhete de cinema na mão.

AnimaPIX 2025: A Ilha do Pico Voltou a Ser o Coração da Animação Portuguesa

A décima edição do AnimaPIX, o festival de animação realizado na ilha do Pico, nos Açores, encerrou mais um capítulo memorável — daqueles que deixam marca não só no panorama artístico nacional, mas também na alma de quem participa. Pequeno em escala, gigantesco em ambição, o festival reafirmou aquilo que já todos sabíamos: a animação portuguesa vive um momento de ouro, e o Pico continua a ser um dos seus palcos mais especiais.

Abi Feijó e Regina Pessoa: Quatro Décadas de Magia Animada

Os nomes maiores da animação portuguesa regressaram ao arquipélago, e o Pico recebeu-os como se recebe família.

Abi Feijó e Regina Pessoa, fundadores da Casa Museu de Vilar e mestres incontornáveis do cinema de animação, apresentaram uma retrospectiva de 40 anos de carreira. Ambos foram também jurados desta edição e receberam o MiratecArts Prémio Atlante, com Regina a acumular ainda um papel particularmente simbólico: o de madrinha do festival e ilustradora do cartaz que celebra a sua primeira década..

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Numa conversa à Rádio Pico, Abi Feijó sintetizou a magia do AnimaPIX:

“Quanto mais pequenino, mais facilmente se estabelecem laços. Aqui podemos usufruir do tempo, o que é muito bom.”

Regina Pessoa completou:

“É um privilégio voltar e aprofundar este laço.”

É difícil pensar numa definição mais perfeita para este festival que teima — orgulhosamente — em manter-se próximo, íntimo e humano.

Os Talentos que Estão a Moldar o Futuro da Animação Portuguesa

O público teve ainda oportunidade de ouvir e interagir com os vencedores do Prémio AnimaPIX, desde 2021 até 2025.

Pela primeira vez na ilha montanha, Alexandra RamiresAlice Eça GuimarãesJoão GonzalezLaura Gonçalves e Maria Trigo Teixeira apresentaram as suas curtas-metragens premiadas internacionalmente e partilharam reflexões sobre o processo criativo, a repercussão do cinema português lá fora e o futuro da animação.

A eles juntaram-se os cineastas António Alves e Cláudio Jordão, a professora Elsa Cerqueira e Fernando Galrito, director da MONSTRA — o maior festival de animação do país.

Um verdadeiro encontro intergeracional que reforçou o papel do Pico como ponto de encontro entre mestres, criadores emergentes e público curioso.

Um Festival Pequeno apenas no Nome

O director artístico e fundador do AnimaPIX, Terry Costa, não esconde o orgulho:

“Momentos incríveis com a melhor turma do sector que qualquer um poderia imaginar. Esperamos ter inspirado centenas de crianças, jovens e educadores, levando consigo lições para a vida.”

E há números que contam histórias.

Enquanto a MONSTRA exibe mais de 450 filmes, o AnimaPIX, fiel ao seu espírito, limita-se a 75. Não porque lhe faltem obras — mas porque a prioridade é outra: o impacto humano.

Terry Costa recorda ainda um feito impressionante:

“O melhor ano do festival trouxe 1400 pessoas à Biblioteca Auditório da Madalena — 10% da população da ilha.”

Para muitos, foi a primeira vez num centro cultural ou a primeira vez a ver cinema numa tela grande.

É essa democratização cultural — feita com carinho, persistência e visão — que transforma o AnimaPIX num evento verdadeiramente singular.

Um Festival para Crianças… e para a Criança em Todos Nós

Há quem pense que animação é território exclusivo do público infantil. O AnimaPIX insiste, todos os anos, em provar o contrário.

Como diz Terry Costa:

“O festival não é só para crianças, é para a criança em todos nós.”

E talvez seja essa a sua maior força: conseguir que profissionais consagrados, jovens criadores, famílias, educadores e curiosos vivam a mesma experiência, no mesmo espaço, com a mesma disponibilidade para aprender e maravilhar-se.

O Futuro Aponta para 2026

A próxima edição já está marcada:

📅 1 a 6 de dezembro de 2026

As submissões abrem a 1 de janeiro.

A parceria com a Câmara Municipal da Madalena e o apoio da Direção Regional da Cultura continuam a sustentar a visão da MiratecArts — uma visão que aposta na cultura como motor de comunidade, descoberta e crescimento.

E se esta década nos ensinou alguma coisa, é que o AnimaPIX não é apenas um festival.

É um lugar de encontro.

É um gesto de afecto pela arte.

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É uma celebração da imaginação — sempre de portas abertas para quem quiser entrar.

A Lista Surpreendente dos Filmes Preferidos de James Cameron — E o Que Revela Sobre o Rei das Bilheteiras

O autor de Titanic e Avatar continua a ser, acima de tudo, um cinéfilo voraz

James Cameron é talvez o cineasta mais identificado com superproduções gigantescas, tecnologias de ponta e mundos inteiros criados de raiz. Mas por detrás do realizador que quebrou recordes com Titanic, redefiniu a ficção científica com Terminator 2 e reinventou o cinema 3D com Avatar, está alguém que cresceu a ver filmes na televisão e que nunca perdeu o fascínio puro pelo acto de ver cinema.

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Ao longo das últimas décadas, Cameron foi partilhando, aqui e ali, os seus filmes favoritos — e o resultado é uma colecção tão ecléctica que parece saída da mente de um devorador compulsivo de géneros, épocas e sensibilidades. Do clássico absoluto The Wizard of Oz a prazeres assumidamente culpados como Resident Evil, passando por Kubrick, Spielberg, Coppola e até Borat, a lista diz-nos mais sobre Cameron do que qualquer entrevista longa.

O encanto eterno de um mundo para lá do arco-íris

Se há título que surge sempre que Cameron fala das suas referências, é The Wizard of Oz (1939). O realizador descreve-o como um filme que o acompanha desde a infância — e que continua a revisitar com a família.

A cena em que Dorothy abre a porta e sai do preto e branco para o Technicolor continua a emocioná-lo profundamente. Cameron vê ali um momento de génio cinematográfico absoluto: uma revelação visual capaz de derrubar fronteiras entre o real e o imaginado. Talvez não seja coincidência que o autor de Avatar tenha encontrado, décadas mais tarde, o seu próprio “momento de abrir a porta para outro mundo”.

Da ternura ao terror: a amplitude de um cinéfilo sem preconceitos

Pode surpreender que alguém associado a máquinas assassinas, naves militares e criaturas subaquáticas diga abertamente que Resident Evil é um dos seus prazeres cinematográficos. Mas Cameron não só admite, como celebra o filme de Paul W. S. Anderson e, em particular, o desempenho físico de Michelle Rodriguez — «uma criatura feroz», descreveu.

A admiração por Alien é já menos chocante: Ridley Scott influenciou directamente Cameron e, como o próprio reconhece, Aliens foi criado em espírito de fã — uma tentativa de honrar e expandir o trabalho do original sem o replicar. É raro ver um realizador do calibre de Cameron a assumir, com tanta humildade, a sua posição na linhagem de outro cineasta.

E depois há Wait Until Dark, thriller de 1967 com Audrey Hepburn, que lhe deixou uma das memórias mais intensas de sempre numa sala de cinema. Segundo conta, o susto provocado por Alan Arkin terá sido o maior sobressalto que testemunhou no grande ecrã — maior, até, do que Alien ou Psycho.

Uma colecção que revela mais do que parece

Entre clássicos indiscutíveis (The Godfather2001: A Space OdysseyTaxi Driver), blockbusters transformadores (Star WarsJaws), westerns icónicos (Butch Cassidy and the Sundance Kid) e comédias corrosivas (Borat), a lista de Cameron não segue qualquer lógica óbvia.

E é precisamente aí que reside a sua verdade: o realizador não procura coerência estética, narrativa ou formal. Procura impacto. Procura filmes que mexem consigo, seja através do assombro visual, da tensão, da irreverência ou pura genialidade técnica.

No fundo, Cameron pode ser o cineasta que nos trouxe alguns dos maiores espectáculos cinematográficos das últimas décadas, mas continua a ser, antes de mais, um espectador apaixonado — alguém que nunca deixou de olhar para o cinema como aquilo que sempre foi para si: um poço infinito de maravilhas, sustos, gargalhadas e descobertas.

Os 15 filmes preferidos de James Cameron

  • The Wizard of Oz (Victor Fleming, 1939)
  • Resident Evil (Paul W. S. Anderson, 2002)
  • Alien (Ridley Scott, 1979)
  • Close Encounters of the Third Kind (Steven Spielberg, 1976)
  • Jaws (Steven Spielberg, 1975)
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid (George Roy Hill, 1969)
  • Wait Until Dark (Terence Young, 1967)
  • Borat (Larry Charles, 2006)
  • The Woman King (Gina Prince-Bythewood, 2022)
  • Star Wars: Episode IV – A New Hope (George Lucas, 1977)
  • Inception (Christopher Nolan, 2010)
  • Taxi Driver (Martin Scorsese, 1976)
  • The Godfather (Francis Ford Coppola, 1972)
  • 2001: A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1968)
  • Dr. Strangelove (Stanley Kubrick, 1964)

Porque É que Road to Perdition Continua a Ser Um dos Grandes Clássicos Esquecidos do Cinema?

Tom Hanks trouxe novamente Road to Perdition para a discussão pública — e fê-lo com uma dose de perplexidade. Numa conversa recente com o podcast ReelBlend, o actor confessou que não compreende porque motivo o filme, lançado em 2002, raramente é lembrado quando se fala dos grandes dramas criminais do cinema moderno. A observação não é descabida: apesar do elenco de luxo, da realização de Sam Mendes e da fotografia premiada de Conrad L. Hall, a obra continua a ser um daqueles títulos respeitados, mas pouco mencionados.

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Parte do fascínio de Road to Perdition reside no conjunto invulgar de talentos envolvidos. Hanks sublinhou, com razão, que o filme reúne dois actores que, à data, ainda estavam longe de ser os colossos que se tornariam mais tarde: Jude Law e Daniel Craig. Ambos oferecem interpretações que antecipam o alcance que as suas carreiras viriam a ter — Law no papel de um assassino com uma fisicalidade perturbadora, Craig como o impulsivo herdeiro de uma família criminosa. Hoje são nomes incontornáveis, mas o filme captou-os num momento raro, num ponto charneira das suas trajectórias.

Há ainda um elemento de peso histórico que distingue esta obra: Paul Newman assina aqui a sua última grande interpretação em cinema. O papel de John Rooney, chefe do crime organizado e figura paternal ambígua, valeu-lhe uma nomeação aos Óscares e permanece como um dos desempenhos mais discretamente poderosos da sua carreira. A relação entre a sua personagem e a de Tom Hanks funciona como o eixo emocional do filme, sustentando a narrativa com uma tensão contida e sem artifícios.

A realização de Sam Mendes também merece novo olhar. Depois do sucesso global de American Beauty, Mendes escolheu uma abordagem mais austera e silenciosa, menos dependente de diálogos e mais comprometida com a construção visual. O trabalho com Conrad L. Hall, que venceu o Óscar de Melhor Fotografia de forma póstuma, é central para a atmosfera do filme. A composição de cada plano, o uso da chuva, das sombras e da luz difusa conferem ao filme uma identidade estética que ainda hoje é estudada em escolas de cinema. A célebre sequência do tiroteio, filmada com pouquíssimas palavras, é frequentemente citada como exemplo de como a imagem pode carregar sozinha a carga dramática.

Curiosamente, Road to Perdition nasceu de uma novela gráfica. No início dos anos 2000, adaptações desse género não tinham o prestígio que alcançariam mais tarde, e isso talvez tenha contribuído para que o filme fosse recebido de forma mais discreta. Mas Mendes nunca tratou o material original como um pretexto para estilização. Pelo contrário: optou por uma leitura adulta, sóbria, mais próxima do cinema noir do que das convenções que hoje associamos às produções baseadas em banda desenhada.

A pergunta de Hanks — “Porque é que não falamos deste filme?” — merece reflexão. A verdade é que Road to Perditionestreou num ano particularmente competitivo e mediaticamente saturado, com títulos como Gangs of New YorkMinority Report ou The Two Towers a dominar a conversa. Além disso, é um filme que não procura aplausos fáceis. A sua força está na contenção, na relação entre pai e filho, na violência filmada com frieza documental e no peso moral das escolhas. Não é um thriller ruidoso; é uma tragédia íntima disfarçada de história de gangsters.

Com o passar dos anos, a obra ganhou densidade e reapreciação crítica, mas continua a carecer do reconhecimento mais amplo que merece. Hanks pode muito bem ter reaberto a porta para essa reavaliação. Road to Perdition não é apenas um capítulo importante na carreira de todos os envolvidos; é um filme que envelheceu com elegância e que diz mais ao público actual do que dizia em 2002.

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A verdade é simples: se há clássicos silenciosos que merecem regressar às conversas cinéfilas, este está no topo da lista. E Tom Hanks tem toda a razão em perguntar porque motivo deixámos de falar dele.

Road to Predition pode ser visto ou revisto no Prime Video,