
Existem audições que ficam na história de Hollywood não só pelo talento demonstrado, mas também pelo KOinesperado. A de Carl Weathers para o papel de Apollo Creed em Rocky (1976) é uma dessas lendas – e começa, literalmente, com um murro no queixo.
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Durante o casting para o filme que viria a redefinir o cinema desportivo, Weathers, antigo jogador profissional de futebol americano e então ator pouco conhecido, entrou na sala determinado a mostrar a sua fibra. Num exercício de improviso, foi convidado a simular uns golpes com um certo Sylvester Stallone — que, na altura, ainda não era uma estrela. Ao desferir um soco que acertou em cheio no queixo de Stallone, o ambiente aqueceu.
“Calma, é só uma audição”, avisou Stallone. Mas Weathers, sem reconhecer o ator (e muito menos o guionista da história que tinha em mãos), soltou uma pérola:
“Se eu pudesse fazer isto com um ator verdadeiro, fazia melhor.”
O realizador John G. Avildsen sorriu. E então revelou:
“Este é o ator. E o escritor.”
Depois de um momento de silêncio, Weathers respondeu com franqueza e um toque de ironia:
“Bem, talvez ele melhore.”
A resposta directa, cheia de insolência, conquistou Stallone. E foi assim que Carl Weathers se tornou Apollo Creed — o rival, depois aliado, de Rocky Balboa.
Uma coreografia com 32 páginas… e muitos hematomas
Com o elenco escolhido, havia um desafio técnico por resolver: como filmar combates de boxe que fossem mais intensos, autênticos e emocionantes do que os que o cinema já conhecia?
As primeiras tentativas falharam. Avildsen, Stallone e Weathers tentaram coreografar os golpes num ringue, mas o resultado parecia falso, ensaiado, sem ritmo. Os coordenadores de duplos Paul Stader e George P. Wilbur acabaram por abandonar a produção devido a divergências criativas.
Foi então que Avildsen desafiou Stallone:
“Vai para casa e escreve o combate. Golpe por golpe.”
No dia seguinte, Stallone apareceu com um guião inusitado: 32 páginas só sobre o combate final. Um verdadeiro ballet de socos, esquivas e movimentos perfeitamente cronometrados. Weathers e Stallone ensaiaram durante semanas, num total de mais de 35 horas, para que cada momento do duelo parecesse espontâneo — mas fosse, na verdade, meticulosamente planeado.
E não saíram ilesos: Stallone acabou com costelas negras e Weathers com o nariz danificado. Curiosamente, os ferimentos foram os opostos dos sofridos pelos personagens durante o combate no ecrã.
Muito mais do que um filme de boxe
O sucesso de Rocky é hoje indiscutível. Lançado em 1976 com um orçamento reduzido, tornou-se um fenómeno cultural, venceu o Óscar de Melhor Filme e catapultou Stallone para a ribalta. Mas o que o distingue de tantos outros filmes do género é precisamente o que aconteceu nos bastidores: a paixão, a dedicação, e, claro, o murro involuntário que deu início a tudo.
Apollo Creed não seria Apollo sem a garra de Carl Weathers. E Rocky não seria o mesmo sem aquela química inicial — feita de tensão, choque de egos e uma dose generosa de suor e sangue — entre os dois protagonistas. Ao olhar para trás, percebemos que a história do filme começa, de facto, antes das câmaras rolarem. E que às vezes, um soco no queixo é tudo o que é preciso para se entrar na história do cinema. Adeus, Utah: Festival de Sundance muda-se para o Colorado após 46 anos
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