
Quase duas décadas depois da estreia de Brokeback Mountain, o filme continua a marcar quem o viu. E não somos só nós a sentirmo-nos assim: Michelle Williams, uma das protagonistas, também não esquece a emoção — nem a polémica — que acompanhou a estreia deste verdadeiro marco do cinema.
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Num episódio recente do programa Watch What Happens Live With Andy Cohen, a actriz esteve a promover a série Dying for Sex, mas acabou por revisitar aquele que é, para muitos, o filme mais importante da sua carreira. E bastou um elogio sincero do apresentador para abrir as comportas da memória.
“Brokeback Mountain foi e continua a ser um dos meus dois filmes preferidos de sempre”, disse Andy Cohen. “Teve um impacto profundo em mim.” E Michelle Williams respondeu com uma afirmação certeira: “Sim, sabíamos que ia ser especial. Porque as pessoas foram muito abertas sobre o que significava para elas.”
“Nunca tinha visto homens adultos chorarem assim”
Williams recorda um momento marcante durante a promoção do filme: “Lembro-me de fazer o junket e pensar — não temos muitas oportunidades de ver homens adultos a chorar. Foi nesse momento que percebemos que o filme ia tocar as pessoas de forma muito especial.”
E tocou mesmo. Realizado por Ang Lee e baseado num conto de Annie Proulx, Brokeback Mountain conta a história de amor entre dois cowboys, Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennis Del Mar (Heath Ledger), num percurso íntimo, belo e devastador, ao longo de 20 anos. Michelle Williams e Anne Hathaway interpretaram as esposas das personagens principais — e ambos os casais viveram vidas assombradas por segredos e frustrações.
O filme estreou em 2005 e conquistou o mundo. Ganhou três Óscares (Melhor Realizador, Argumento Adaptado e Banda Sonora Original) e foi nomeado para outros cinco. Mas perdeu aquele que todos davam como certo: Melhor Filme. A vitória de Crash continua a ser uma das decisões mais controversas da história da Academia.
“Quem é que fala de Crash hoje em dia?”
Durante a entrevista, Andy Cohen não escondeu a sua indignação: “Estava tão irritado com aquela derrota. Crash?! Isso é que ganhou?” — ao que Michelle respondeu com ironia: “O que era mesmo Crash?”
O momento gerou gargalhadas, mas o tom de fundo era de frustração. Brokeback Mountain foi (e continua a ser) um dos filmes mais aclamados da sua geração. O impacto cultural, emocional e simbólico da obra é inegável. Já Crash… bem, poucos se lembram da história — e menos ainda se referem a ela com entusiasmo.
Uma derrota anunciada… nos bastidores
Anos mais tarde, o realizador Ang Lee revelou que estava, literalmente, a um passo de vencer o Óscar de Melhor Filme. Depois de receber o prémio de Melhor Realizador, foi instruído por um assistente de palco a permanecer nos bastidores. “Disseram-me: ‘Fica aqui. Toda a gente assume que vais ganhar.’ Fiquei ali, mesmo ao lado do palco. Vi o Jack Nicholson abrir o envelope. E depois ele disse: Crash.”
Lee foi também confrontado com a possibilidade de o filme ter perdido por causa de preconceito contra a história de amor gay. A resposta foi clara: “Sim, acho que sim.”
Uma ferida que ainda não sarou
Apesar de todas as conquistas, a derrota de Brokeback Mountain nos Óscares de 2006 continua a ser uma espinha cravada na história da Academia. Foi um momento de viragem, que revelou tanto sobre os limites da indústria quanto sobre os seus preconceitos.
Hoje, o filme permanece como símbolo de progresso — um dos primeiros a apresentar com sensibilidade e profundidade uma história de amor entre dois homens, numa altura em que isso era tudo menos comum em Hollywood. E o seu legado só cresce com o tempo.
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Como bem disse Michelle Williams, o impacto do filme foi visível nos olhos de quem chorava nos junkets. E continua a sê-lo nos nossos corações, cada vez que ouvimos “I wish I knew how to quit you.
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