🎥 Equipados com câmaras pequenas mas com uma visão imensa, os realizadores indígenas brasileiros Pixi Kata MatisDamba Matis estão a mostrar ao mundo uma nova forma de fazer cinema – a partir do coração da Amazónia. Pela primeira vez fora do Brasil, os dois cineastas viajaram até Paris para apresentar o seu documentário “Matses Muxan Akadakit”, uma obra profundamente íntima e culturalmente rica que regista um dos rituais mais simbólicos da sua comunidade: a tatuagem facial dos jovens Matis.

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O filme, com 92 minutos e disponível gratuitamente no YouTube, foi gravado entre 2018 e 2019 e já passou por festivais na Alemanha, Bélgica e França. A sua exibição mais recente aconteceu no histórico Collège de France, fundado em 1530 – uma instituição que durante séculos estudou os povos indígenas, mas raramente lhes deu voz. Desta vez, a história foi contada por quem a vive.

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Um cinema feito de dentro

O povo Matis habita o Vale do Javari, uma das regiões indígenas mais ricas e protegidas do planeta, na fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia. A sua história de contacto com o mundo exterior é recente – só em meados da década de 1970 é que tiveram os primeiros encontros. Ainda assim, em menos de duas gerações, passaram do isolamento ao digital. Aprenderam a filmar, a editar e, sobretudo, a narrar o seu mundo com o seu olhar.

Pixi Kata Matis, de 31 anos, e Damba Matis, de 25, fazem parte de uma geração que percebeu que o futuro passa por viver entre dois mundos – o da floresta e o das cidades.

“Hoje estamos a tentar aprender sobre o mundo dos brancos. Aprendemos português, mas mantemos a nossa língua. É mais importante”, explica Pixi.

A sua chegada a Paris foi registada por eles próprios – com as câmaras que se tornaram extensões da sua identidade. Damba, presidente da Associação dos Indígenas Matis, disse que a câmara é, para eles, “tão importante quanto o livro e a caneta são para os brancos”.

“Sem a câmara, não temos provas da nossa cultura nem da nossa viagem”, sublinha.

Um cinema coletivo e espiritual

Ao contrário da lógica individualista de muitos cineastas ocidentais, os Matis pensam o cinema de forma coletiva. Segundo o consultor francês Lionel Rossini, que os acompanha há anos, “eles têm uma maneira única de pensar e fazer cinema – como um grupo, como um corpo unido”. Rossini também ajudou na edição de “Matses Muxan Akadakit” e garante que a formação continua: há agora 16 jovens realizadores Matis prontos para pegar na câmara.

A experiência europeia será levada de volta para a aldeia, onde os “dadasibo” – os anciãos – aguardam com entusiasmo para ver as imagens da viagem. Um momento que mistura o moderno com o ancestral, o registo audiovisual com a oralidade tradicional.

A câmara como arma contra o esquecimento

O Vale do Javari enfrenta ameaças constantes: madeireiros ilegais, garimpeiros, tráfico de drogas. Mesmo assim, o acesso ao sistema de internet por satélite Starlink já chegou a algumas povoações, criando paradoxos entre o tradicional e o contemporâneo. Para os Matis, isso não é um problema, mas uma nova realidade.

Estão em produção dois novos documentários: um sobre um festival em torno da capivara e outro sobre Mariwin, o espírito da floresta. E se há algo que este percurso mostra, é que a câmara na mão de um indígena deixa de ser uma ferramenta de exotização ou estudo antropológico: torna-se uma arma de afirmação cultural, uma ponte entre mundos e um meio de preservar aquilo que muitos querem apagar.

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Pixi resume o espírito da sua geração:

“Fico emocionado por contar a minha própria história. A gente conseguiu lidar bem com o mundo dos brancos. Outros que vieram antes não conseguiram. Mas nós vamos continuar.”

🎬 Documentário: Matses Muxan Akadakit

📍 Disponível em: YouTube

🗓️ Duração: 92 minutos

🌍 Próximos projetos: Filme sobre o festival da capivara e documentário sobre Mariwin, o espírito da floresta

📷 Produzido por: Associação dos Indígenas Matis com apoio do CTI e edição de Lionel Rossini

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