
O lendário realizador alemão Werner Herzog vai ser homenageado com o Leão de Ouro de carreira na 82.ª edição do Festival de Cinema de Veneza, a decorrer entre 27 de agosto e 6 de setembro. A distinção celebra uma vida inteira de cinema ousado, físico, profundamente humano… e muitas vezes, um bocadinho louco (no melhor dos sentidos).
Herzog, conhecido por obras como Fitzcarraldo (1982), Aguirre, o Aventureiro (1972), Nosferatu, o Vampiro (1979) ou o perturbador documentário Grizzly Man (2005), é descrito pela organização do festival como “um cineasta físico e um caminhante incansável”. Nada mal para quem já conta 82 anos de idade — e ainda está, literalmente, a correr o mundo a filmar.
Um Romântico do Absurdo
Segundo Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza, Herzog é “o último herdeiro da grande tradição do romantismo alemão, um humanista visionário e um explorador incansável, em perpétua deambulação, à procura — nas suas próprias palavras — ‘de um lugar decente para a Humanidade, uma paisagem para a alma’”.
Mais do que palavras bonitas, esta homenagem reconhece uma carreira singular, marcada por obras desafiantes e por um olhar profundamente filosófico sobre o homem, a natureza e o absurdo da existência. Herzog filmou no meio da selva, em desertos, nas profundezas do gelo, e até nos limites do espaço (literal e metaforicamente).
Um “reformado” muito ativo 
Se alguém pensa que o Leão de Ouro de carreira significa que Herzog está pronto para pendurar a câmara… pense outra vez. O realizador terminou há poucas semanas o documentário Ghost Elephants, rodado em África, e está atualmente na Irlanda a filmar uma nova longa-metragem de ficção, com o sugestivo título Bucking Fastard (sim, é mesmo isso que está a pensar ).
E há mais: Herzog está a desenvolver um filme de animação baseado no seu livro O Crepúsculo do Mundo, publicado também em Portugal, e emprestará a sua voz inconfundível a um projeto animado do sul-coreano Bong Joon Ho(Parasitas). Aos 82 anos, continua mais produtivo do que muitos realizadores na flor da idade — e, felizmente, tão imprevisível como sempre.
Um Legado Literário Também Presente em Portugal 
Além do cinema, Herzog tem uma faceta menos conhecida mas igualmente fascinante: a escrita. Em Portugal estão publicados vários dos seus livros, incluindo:
- O Crepúsculo do Mundo
- A Conquista do Inútil
- Caminhar no Gelo
- Cada Um Por Si e Deus Contra Todos
Todos eles mergulham no seu universo interior — ora contemplativo, ora inquieto — e oferecem novas janelas para perceber o que o move artisticamente. São obras tão singulares como os seus filmes, escritas com o mesmo olhar febril que o leva a filmar cascatas selvagens, homens em conflito com a natureza ou… ursos assassinos.
Um Leão Merecido
O Leão de Ouro é, sem dúvida, um dos prémios mais justos da temporada. Não apenas por tudo o que Werner Herzog já fez, mas também por aquilo que ainda está a fazer — e promete continuar a fazer. A sua carreira é um lembrete constante de que o cinema, quando feito com paixão, não conhece limites. Nem idade.
Bravo, Herzog. E que venha o próximo filme.
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