
Sete anos depois de ter sido o epicentro do movimento #MeToo, Harvey Weinstein, o outrora todo-poderoso produtor de Hollywood, volta ao banco dos réus em Nova Iorque. O novo julgamento teve início a 15 de abril de 2025, com a seleção do júri a decorrer esta semana num tribunal de Manhattan. Trata-se do terceiro processo criminal que enfrenta num espaço de pouco mais de cinco anos.
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Aos 73 anos, com problemas de saúde e visivelmente debilitado (tem estado detido em Rikers Island com múltiplas estadias hospitalares), Weinstein continua a afirmar-se inocente. Mas os factos que se acumulam ao longo da última década contam uma história bem diferente — a de um padrão de abuso de poder e violência sexual, segundo dezenas de mulheres.
O que motivou este novo julgamento?
Este novo processo surge após a anulação da condenação de 2020 em Nova Iorque, quando um tribunal de recurso considerou que o juiz do julgamento original permitiu testemunhos indevidos de mulheres cujas alegações não faziam parte da acusação formal. A decisão levou à revogação da sentença de 23 anos de prisão a que Weinstein tinha sido condenado.
A procuradoria liderada por Alvin Bragg, no entanto, não perdeu tempo: anunciou a intenção de repetir o julgamento e acrescentou uma nova acusação baseada numa denúncia distinta, até então não incluída nos processos anteriores.
Quem são as vítimas neste julgamento?
Três mulheres irão testemunhar neste processo:
- Jessica Mann, ex-actriz, que já havia prestado depoimento no julgamento de 2020;
- Miriam “Mimi” Haley, produtora de televisão, também testemunha anterior;
- Uma terceira mulher, cuja identidade não foi divulgada publicamente, que alega ter sido forçada a praticar sexo oral em Weinstein num hotel, em 2006.
Os depoimentos deverão decorrer ainda este mês, após a seleção do júri, que está a ser cuidadosamente conduzida pelo juiz Curtis Farber, preocupado com o histórico mediático do caso e os preconceitos que os jurados possam trazer consigo.
O homem por trás dos filmes — e por trás das manchetes
Durante décadas, Harvey Weinstein foi um dos homens mais influentes da indústria do cinema. Com uma carreira ligada a sucessos como Pulp Fiction, Shakespeare in Love, O Paciente Inglês e Génio Indomável, o produtor era sinónimo de prestígio nos Óscares… até 2017.
Foi nesse ano que duas investigações bombásticas, uma do The New York Times e outra da The New Yorker, trouxeram a público décadas de alegações de abuso sexual por parte de Weinstein. O impacto foi sísmico: o produtor foi demitido da sua própria empresa, The Weinstein Company, que viria a declarar falência, e o escândalo ajudou a dar origem ao movimento #MeToo.
Desde então, mais de 80 mulheres vieram a público com relatos de comportamentos abusivos e coercivos. Algumas delas, como Ashley Judd, Rose McGowan e Asia Argento, tornaram-se vozes centrais de uma nova era de denúncia e responsabilização em Hollywood.
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A história de Harvey Weinstein é agora menos sobre cinema e mais sobre justiça. O novo julgamento pode não só restabelecer a condenação anterior, como adicionar novas camadas ao processo de reparação — judicial, social e simbólica — que se seguiu a um dos maiores escândalos da história do entretenimento.
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